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O rio não é de ninguém -inês vidal

Opinião  »  2022-08-18  »  Inês Vidal

"“O director-executivo da empresa, como é que não percebe que está na altura da verdadeira contrição e de assumir que a empresa perdeu a aura divina que tem mantido?"

Tenho um postal na cabeça, daqueles que me acorre inúmeras vezes, normalmente quando estou feliz e quando tudo o que vejo surge a condizer com o meu estado de espírito. O rio Almonda, naquele troço que atravessa a aldeia de Lapas, e um grupo de miúdos que salta sem medo para a água, apenas com o gargalhar como som de fundo. A paisagem, a casa das portadas verdes que faz esquina, a alegria dos miúdos destemidos, sempre me pareceu uma imagem idílica, digna de um livro de Jorge Amado.

 Uma imagem idílica e inquestionável, porque o rio que nos atravessa é nosso, é de todos, daqueles que têm coragem de saltar para os seus braços e daqueles que, como eu, se limitam a ver e sonhar. Basta-me saber que ele está ali, para mim, assim eu queira. Não há sensação como essa. É exactamente por tudo isso que me sinto revoltada hoje. Por isso e por muito mais.

 Recordo-me de escrever em tempos que tenho algum orgulho de ser da terra da Renova. Marca arrojada e conceituada, ninguém sabe de onde venho se digo que sou de Torres Novas, mas toda a gente me situa quando digo que sou da terra de uma das maiores empresas de papel do país. Já os gabei por aqui muito, por isso mesmo me sinto à vontade para os bofetear agora. É vergonha o que sinto.

 Para os mais atentos, o assunto não é novo. A nascente do Almonda está paredes meias com a fábrica número 1 da empresa torrejana (ou a fábrica é que está paredes meias com a nascente, porque esta já lá estava muito antes), que ao longo dos anos foi crescendo em torno dela, a emparedou e a vedou, como se se pudesse ser dono da natureza. O tema veio novamente a lume há um tempo (já há muitos anos me recordo de acompanhar a CDU numas jornadas autárquicas ao local e a consternação já ser essa) e a população uniu-se para reivindicar, e bem, o direito ao que é seu.
Qual criança quando contrariada e só estando habituada a elogios, a Renova, ao invés de assumir os erros de anos passados e que não culpam ninguém do presente, de por eles pedir desculpa, devolver o seu a seu dono e remediar um caso que não poderá nunca ganhar, pelo menos moralmente, acaba por se enterrar ainda mais na culpa quando resolve, do alto do seu enorme ego, pressionar a Assembleia Municipal de Torres Novas, representante maior da vontade da população de Torres Novas.

 

Numa carta onde se tenta defender, sem sucesso, das recentes acusações da deputada comunista Cristina Tomé, sobre a, por esta referida, precaridade laboral na fábrica, a empresa espalha-se ao comprido quando afirma de uma forma triste, incompreensível, pouco inteligente e nada condizente com a imagem que tem tentado passar, que o rio é da Renova.

 Saiu-lhes o tiro pela culatra. O que a Renova não esperava é que toda a Assembleia Municipal (toda, menos um elemento, muito provavelmente pelas suas ligações à empresa em questão), num momento único na história autárquica local, se unisse – independentemente da cor política ou da Junta de Freguesia representada – na subscrição de uma recomendação à Câmara, promovida pela plataforma ambientalista “Um Colectivo”, onde pede, entre outras coisas, a devolução do berço do rio aos torrejanos. Uma união histórica, em parte acicatada não só pelo bom senso dos eleitos, como pela atentatória audácia da empresa torrejana, em assumir-se dona do rio. Como se o rio fosse de alguém...

 Estranho, no meio de tudo isto, o director-executivo da empresa. Génio de grande visão, homem que elevou a Renova ao patamar onde está hoje, como é que não percebe que está na altura de uma verdadeira contrição e de assumir que a empresa perdeu a aura divina que tem mantido e que está a ser chamada a agir como todas as outras? Com deveres e direitos, sem impunidades? Temos orgulho em tê-la por cá, mas não a qualquer custo. Já cá estávamos antes. O rio já o era antes. E uma fábrica sem os seus trabalhadores não existe.

 Fiquem lá com o vosso papel às cores. O rio, esse, não é de ninguém. Quem o diz somos nós, os torrejanos. Todos eles, menos um.

 

 

 

 

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