Uma história mal contada - joão carlos lopes
Admitamos então que o presidente da Câmara foi apanhado de surpresa com a demolição das chaminés da antiga António Alves, empreitada devidamente aprazada para um sábado, manhã cedo, fazendo a empresa tábua rasa da semana inglesa há tanto tempo arreigada nos nossos costumes.
Admitamos também que, com o desenvolver dos trabalhos de terraplanagens que decorriam há meses, de cujo resultado era, há muitas semanas, o terreno todo limpo e apenas as chaminés erguidas no horizonte, a empresa constatou que as antigas construções davam conta de algumas fragilidades de sustentação.
Admitamos, temos de admitir, que os completíssimos e complexos dados recolhidos por técnicos competentes, ao serviço da empresa, eram há algum tempo conhecidos da empresa e não da véspera das demolições (na realidade, nem era possível inventar, poucas horas após o abate das chaminés, tantos detalhes técnicos sobre o estado das mesmas).
Se os dados sobre as fragilidades detectadas nas chaminés são verdadeiros e credíveis, sabendo a empresa que as chaminés eram parte do projecto aprovado, mais, que o projecto aprovado o foi com a obrigatoriedade de se manterem as chaminés, memória industrial da cidade, sabia perfeitamente que, para haver demolição, ela teria de ser comunicada e aprovada pela Câmara e, atendendo à cronologia dos acontecimentos, a empresa teria tempo mais que suficiente para comunicar à Câmara essa intenção: por carta, mail, telefone, sinais de fumo, recorrendo a um estafeta, qualquer coisa.
A empresa não fez nada do que era obrigação legal fazer. Como confirmou no comunicado, partiu para o abate das chaminés de forma unilateral, à margem das regras, a um dia e uma hora em que é bom ficar mais um pouco no quentinho. Aparentemente, portanto, a empresa, e há-de ser sempre acusada disso, agiu com total falta de respeito e impunidade, cuspindo na legalidade democrática, ofendendo os sentimentos dos torrejanos. Agiu por sua conta e risco e terá de pagar pelo que fez. Terá sido apenas assim?
Não é líquido que tenha sido assim. Sabendo-se o que a casa gasta e tendo em conta casos mais ou menos recentes, pode ser que a história tenha de ser contada de outra maneira e que o enredo dos acontecimentos tenha sido outro. E que tenha havido ali uma “carta de conforto” vinda do sítio do costume. O que não seria surpresa. Basta ter ouvido uma determinada pessoa ter tido o desplante de dizer o que disse na última assembleia municipal para fazer uma conta de somar de apenas duas parcelas. Limpinho.
No fundo, o único azar que acabaria por acontecer foi o facto de uma moradora das imediações ter ouvido o estrondo da primeira chaminé a cair, e correr para a janela ainda a tempo de filmar a máquina a deitar abaixo, com uma patada certeira, a segunda chaminé, imagem que ficará guardada para sempre no rol dos horrores que esta terra tem sofrido. Foi simplesmente azar. Tirando isso, a história poderia ter sido perfeita. JCL
Uma história mal contada - joão carlos lopes
Admitamos então que o presidente da Câmara foi apanhado de surpresa com a demolição das chaminés da antiga António Alves, empreitada devidamente aprazada para um sábado, manhã cedo, fazendo a empresa tábua rasa da semana inglesa há tanto tempo arreigada nos nossos costumes.
Admitamos também que, com o desenvolver dos trabalhos de terraplanagens que decorriam há meses, de cujo resultado era, há muitas semanas, o terreno todo limpo e apenas as chaminés erguidas no horizonte, a empresa constatou que as antigas construções davam conta de algumas fragilidades de sustentação.
Admitamos, temos de admitir, que os completíssimos e complexos dados recolhidos por técnicos competentes, ao serviço da empresa, eram há algum tempo conhecidos da empresa e não da véspera das demolições (na realidade, nem era possível inventar, poucas horas após o abate das chaminés, tantos detalhes técnicos sobre o estado das mesmas).
Se os dados sobre as fragilidades detectadas nas chaminés são verdadeiros e credíveis, sabendo a empresa que as chaminés eram parte do projecto aprovado, mais, que o projecto aprovado o foi com a obrigatoriedade de se manterem as chaminés, memória industrial da cidade, sabia perfeitamente que, para haver demolição, ela teria de ser comunicada e aprovada pela Câmara e, atendendo à cronologia dos acontecimentos, a empresa teria tempo mais que suficiente para comunicar à Câmara essa intenção: por carta, mail, telefone, sinais de fumo, recorrendo a um estafeta, qualquer coisa.
A empresa não fez nada do que era obrigação legal fazer. Como confirmou no comunicado, partiu para o abate das chaminés de forma unilateral, à margem das regras, a um dia e uma hora em que é bom ficar mais um pouco no quentinho. Aparentemente, portanto, a empresa, e há-de ser sempre acusada disso, agiu com total falta de respeito e impunidade, cuspindo na legalidade democrática, ofendendo os sentimentos dos torrejanos. Agiu por sua conta e risco e terá de pagar pelo que fez. Terá sido apenas assim?
Não é líquido que tenha sido assim. Sabendo-se o que a casa gasta e tendo em conta casos mais ou menos recentes, pode ser que a história tenha de ser contada de outra maneira e que o enredo dos acontecimentos tenha sido outro. E que tenha havido ali uma “carta de conforto” vinda do sítio do costume. O que não seria surpresa. Basta ter ouvido uma determinada pessoa ter tido o desplante de dizer o que disse na última assembleia municipal para fazer uma conta de somar de apenas duas parcelas. Limpinho.
No fundo, o único azar que acabaria por acontecer foi o facto de uma moradora das imediações ter ouvido o estrondo da primeira chaminé a cair, e correr para a janela ainda a tempo de filmar a máquina a deitar abaixo, com uma patada certeira, a segunda chaminé, imagem que ficará guardada para sempre no rol dos horrores que esta terra tem sofrido. Foi simplesmente azar. Tirando isso, a história poderia ter sido perfeita. JCL
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |