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Opinião  »  2013-12-06  »  Helder Simões

Um dado estatístico trágico dá-nos conta de que todos os anos se extinguem várias línguas no planeta. E não me refiro, claro está, a línguas de gato ou de vaca, cujo ritmo de extinção é substancialmente mais acelerado. Refiro-me a idiomas, línguas faladas que desaparecem com a extinção dos povos falantes, habitualmente pequenas tribos. A notícia deixa-me triste, ao imaginar a enorme perda cultural e humana que é o desaparecimento de uma língua e de um povo. Acto contínuo, pergunto-me se algum dia isso poderia acontecer à língua portuguesa.

Pode parecer um exagero, mas se a escutarmos com atenção, a língua portuguesa queixa-se de sérias dificuldades em sobreviver. Está fanhosa! Como se não bastasse o t(r)ema do (des)acordo ortográfico e os portugueses em debandada do país, em busca de sítios com línguas menos viperinas, a língua portuguesa debate-se ainda com uma invasão de vocábulos alienígenas. Verdade seja dita, o estrangeiro sempre atraiu os Portugueses. A própria geração do Eça acreditava que FIXE FIXE, era viver em Paris. No século XXI, os anglicismos com sotaque americanado predominam em larga medida e pegam como se fossem eucaliptos.

Definitivamente, os estrangeirismos parecem querer enxotar o portuguesinho do seu enclave. Como se não bastasse a vinda da TROIKA - palavra russa que tanto pode significar trenó puxado por três cavalos, como trio composto por um alemão, um etíope e um careca - para deixar a malta com a língua de fora, vem também a língua estrangeira deitar fora a nossa língua. As anglo-americanadas estão omnipresentes, ameaçando um SWAP linguístico. Os computadores, senhores do mundo, agudizaram o problema. Aliás, o universo da informática é o habitat preferido dos anglicismos.

Mal se chega ao trabalho, carrega-se no ON do computador. Faz-se um CLICK no botão da NET para espreitar o MAIL. É preciso fazer DOWNLOAD de um ficheiro. Regra geral, a coisa processa-se lentamente, seja por culpa do WIRELESS ou por actualização de SOFTWARE. O ambiente laboral é também propício a que os anglicismos medrem. «Já enviaste o ABSTRACT daquele artigo?», pergunta um colega em jeito de provocação. «NO!», responde-se envergonhado. «Bolas! Tenho de despachar o PAPER a tempo do MEETING. Hoje nem vai dar para o COFFEE BREAK».

Mas a coisa estende-se além do trabalho. Para se estar em forma, já não basta correr, é preciso praticar RUNNING. Chega-se a casa cansado, aterra-se no MAPLE, liga-se a TV e leva-se logo com um BREEFING do governo. Nada de novo, só SOUNDBITS! Muda-se de canal e um painel de EXPERTS defende o BAIL OUT da banca. STOP! Não se pode estar descansado em lado nenhum! O que sabia bem era uns dias de TIME OUT. Pega-se no PC e entra-se no SITE do banco para marcar um fim de semana LOW COST. À cautela, é melhor criar um MB NET para evitar o PISHING de algum HACKER à espreita. Com dificuldade, lá se encontra um SPOT baratucho e com CHECK OUT tardio. Já que se está ONLINE, dá-se uma volta no FACE para saber das novidades. Há uma estrela POP que se assumiu como GAY. Na lista dos FRIENDS encontra-se uma amiga que não se via há séculos. «Que fazes agora?», pergunta-se. «Deixei o CALL CENTER e estou envolvida numa STARTUP», responde ela. Não se quer fazer figura de parvo a perguntar que trabalho é esse: GOOGLA-se a palavra e pronto. Deus pode ter a resposta, mas só o GOOGLE a dá em 5 segundos e ainda pergunta se era essa a questão. Já agora combina-se um DATE. Sai-se para a NIGHT. Entra-se num PUB e o BARMAN pergunta-nos que GIN estrangeiro queremos com o pepino espanhol. Presta-se um pouco de atenção à banda sonora e reconhece-se um ROCK manhoso em que o vocalista apregoa LOVE aos quatro ventos. Finalmente chega a nossa amiga. Quase já não se reconhece! Tem um LOOK diferente, diz que fez um BRUSHING. Vendo bem, até lhe dá um ar COOL.

Sai-se do BAR já tardito. De regresso a casa, trancam-se as portas da viatura por causa do CAR JACKING.

O DAY AFTER de uma saída nocturna pode ser complicado. A pessoa acorda mais tarde, com uma certa fomeca, e sai novamente para comer qualquer coisa. Ao menos no sector da restauração ainda resistem alguns galicismos. Aliás, mesmo nas categorias do SNACK BAR ou do FAST FOOD não há tasco que não tenha um prato GOURMET. Mas no MENU À LA CARTE, o CHEF dá sinais de cedência: um pequeno-almoço mais substancial e já se intitula um BRUNCH. OK, seja! Mas aquilo cai mal, fica-se meio KO por causa dos fritos, e começa-se a achar que é preciso fazer um CHECK UP. Talvez caísse bem um suminho LIGHT.

Enfim! É isto a toda hora: estrangeirismos por todos os flancos e em crescendo. Mete dó constatar que os meus avós, portugueses até ao tutano, não perceberiam nada desta crónica, mesmo que tivessem aprendido a ler. É preciso defender melhor a língua portuguesa! É preciso relembrar Fernando Pessoa com o seu ”A minha pátria é a língua portuguesa” - como se a língua fosse o único laço capaz de envolver toda uma nação e o derradeiro reduto do patriotismo. É preciso salvar o Mirandês e a Abetarda!

Tornou-se demasiado comum achar que a língua inglesa soa sempre bem! A julgar pela facilidade com que é empregue no cinema, dizer I LOVE YOU deve ser bem mais fácil que declarar Amo-te. É que em Português de Portugal, mesmo balbuciar Amo-te, exige a coragem de um agrupamento de forcados. Ainda assim, o destino da nossa língua não pode ser o desvanecimento, porque FADO não se traduz por FADE.

 

 

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