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No país do ao menos

Opinião  »  2013-09-13  »  Miguel Sentieiro

Estava a tomar a bica matinal e a minha orelha esquerda foi ao encontro da conversa dos dois tipos que mandavam abaixo duas bejecas também elas matinais. Dizia um para o outro - ”Epá, o meu primo Manecas, já está desempregado há mais de um ano e não arranja nada!”. Depois de limpar a espuma da cerveja dos pêlos do bigode, o amigo responde: ”Eu ao menos ainda tenho o meu empregozito, que me paga 400 euros ao mês… Espero não ter o azar de ser despedido.” Aqui está o ”ao menos” metido no meio da frase e que traduz esse sentimento de relativização bem português. Roubaram-te a carteira e o telemóvel à saída do eléctrico? Ao menos deixaram-me a roupa e o boné; Foste espancada pelo teu marido bêbado depois da derrota do Benfas? Ao menos só me partiu 5 dentes e o maxilar inferior; O presidente da Câmara não paga 100 milhões de euros aos fornecedores? Ao menos fez umas avenidas e umas rotundas espectaculares. A ministra das Finanças esteve envolvida no negócio das Swaps que lesou o país em grande? Ao menos veste uns blasers beges muito elegantes. A justiça não mete na cadeia os tipos do BPN? Ao menos a malta sabe quem eles são. Os incêndios continuam a queimar a nossa floresta todos os anos? Ao menos ainda nos restam os relvados dos jardins públicos. O dono do restaurante ganha 50 cêntimos por cada refeição económica que vende? Ao menos ganha 50 cêntimos por cada refeição. Trabalhas 10 horas por dia a 400 euros mensais? Ao menos não estás desempregado. E voltámos ao início da conversa. A conversa do ”Ao menos” tenho um emprego, com tudo o que de subversivo transporta. Parece que os ordenados baixam porque existe muito desemprego e as pessoas em desespero sujeitam-se ao ”Ao menos” que vier. A coisa funciona assim: um patrão comunica ao empregado com 20 anos de casa que vai ter de lhe baixar o ordenado para metade se quer continuar a trabalhar ali. O empregado incrédulo pergunta ”Mas existem menos encomendas?… existe prejuízo?” o patrão responde eloquente ”tenho 100 jovens desempregados que se ofereceram para a tua função e a ganhar metade”. E continua ”São as leis da liberalização do mercado, os custos de produção diminuem, competimos com a China e o meu lucro será maior! Tens de pensar que reduzes o salário, mas ao menos continuas connosco!...”. Neste ”ao menos” surge o que de pior tem a condição humana: a exploração voluntária das debilidades alheias. Vendem-se garrafas de água a 20 euros o litro para quem vive no deserto; vendem-se medicamentos a 100 euros a caixa para quem tem dores reumáticas crónicas. Vendem-se cadeiras de rodas a preços de automóveis, a quem fica paraplégico; vende-se a casa por 1/10 do seu valor, para se poder comprar comida para casa. Trabalha 10 horas por dia a 400 euros mensais, porque precisa de um emprego para sobreviver. Voltámos de novo ao nosso ”Ao menos” tenho este emprego. E o ”Ao menos” tem hoje um aliado de peso, a ”Troika”. ”Ó António, eu até te queria pagar mais, mas sabes… a Troika está a dar cabo disto; ao menos sempre ganhas qualquer coisita…”. Ou seja a ”Troika” funciona aqui como a grande responsável do ”ao menos”.

Gostaria de trocar, sem ter de emigrar, este país do ”Ao menos”, por um país do ”Eu quero mais”. Eu quero mais competência na gestão do país; Eu quero mais tempo livre para estar com os meus filhos; Eu quero mais patrões que percebam os benefícios de terem funcionários satisfeitos; Eu quero mais políticos independentes de interesses ocultos; Eu quero mais pudor e responsabilidade; Eu quero mais ordenados que possibilitem viver com dignidade. Mas é a tal liberalização dos mercados… E com a liberalização económica chegou a liberalização moral, onde tudo é aceitável, desde que o lucro financeiro esteja garantido.

Tento fugir da sina da resignação implícita ao ”ao menos”. Para começar a minha terapêutica do ”eu quero mais” decidi que não voto mais em partidos políticos. ”Epá, mas não percebes que há algumas pessoas boas dentro dos partidos políticos e que eles é que têm de nos governar!”. É verdade sim senhor, mas ao menos eles ficarão a saber que eu quero mais

 

 

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