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A Costa Brava

Opinião  »  2013-08-30  »  Helder Simões

Portugal, diz-se, é um país bafejado pela sorte, repleto de belezas naturais, com muitos quilómetros de costa, praias solarengas e bom vinho tinto barato. Temos a costa vicentina, a costa verde, a costa de prata e até o Costa do Castelo! Mas há mais. Ignorada, nunca referida na revista Time Out, mas não menos digna do que todas essas costas, a Costa Brava existe e o mínimo que se pode dizer é que é senhora de um cardápio de atributos invulgares. Provavelmente, já poucos sabem onde fica a Costa Brava. Muitos já esqueceram, do mesmo modo que pouco se fala actualmente de Cabinda, da Mongólia ou do corno de África.

Algumas elites intelectuais do concelho julgam até que ”Costa Brava” é uma nova aventura do marinheiro Corto Maltese, sequela de ”As Etiópicas”. Podia até ser, pois se ainda existir no concelho gente rija (da mesma densidade que é feita o Corto Maltese), essa só já pode ser encontrada na Costa Brava. Morar na Costa Brava não é para qualquer flor de estufa, tão inóspito é o local. Para se ser da Costa Brava é preciso ter as gónadas no sítio devido. Houve tempos em que bastava um tipo da Costa Brava entrar numa tasca para os clientes se porem a milhas e o taberneiro começar a suar em bica, tal a aspereza das gentes.

Mas então, onde diabo fica a Costa Brava? Talvez alguns historiadores torrejanos ainda possuam algum documento cartográfico que assinale o local. Joaquim Bicho pouco se referiu à Costa Brava nas suas investigações e mesmo o Mosaico Torrejano praticamente ignorou a região. Perante o exposto, poderá o leitor ser levado a pensar que a Costa Brava se localiza num arrabalde serrano do Pafarrão. Mas nada disso!

Para quem não sabe do que falo, a Costa Brava situa-se a breves passos desse centro nevrálgico do concelho que é o Torres Shopping, algures entre Riachos e a Meia Via. Porém há muito deixou de ser assinalada no mapa, quiçá engolida pela força centrípeta do centro comercial torrejano. A cultura popular da região conta-nos lendas de monstros e serpentes peçonhentas, e um habitante do Botequim jura ter visto a Santa da Ladeira ressuscitada numa noite de sábado, algures pela Costa Brava. O lugar é uma espécie de triângulo das Bermudas do concelho, um buraco negro onde repetidamente têm desaparecido todas as promessas eleitorais autárquicas dos séculos XX e XXI. Para além das promessas, também o asfalto da Rua da Costa Brava foi desaparecendo, e os esgotos municipais, esses nunca chegaram a aparecer, tais as forças negativas da região. Durante algum tempo, alguns políticos ainda visitavam a Costa Brava, ainda que só sazonalmente, de quatro em quatro anos, para caçar um ou outro voto mais incauto, qual Blimunda a recolher vontades. Mas na Costa Brava, votada ao desprezo pelo poder local, há muito que as gentes e as vontades começaram a escassear. Mas convenhamos, quem pode censurar um político por não ir à Costa Brava? Desde logo, para se aventurar nessa terra agreste é preciso munir-se de um machete, não propriamente dos que esburaca o cofre de um banco, mas daqueles que se vendem na Casa Espanhol e amputam um dedo só de se apontar a lâmina. É que o eucaliptal que rodeia a Costa Brava é mais denso que a selva equatorial do Gabão. Depois é preciso dispor de um Nissan patrol, o que não favorece a classe política que há muito se decidiu pelos mercedes benz classe E. Como se a estrada não fosse suficientemente má, só para dificultar o acesso, as imediações da Costa Brava e as suas matas foram estrategicamente minadas com entulho e dejetos dos mais diversos mamíferos.

Assim, poucos se arriscam por esta Costa tão agreste. Ocasionalmente, um ou outro casal de namorados, mais furtivo ou impaciente, lá se aventura num opel corsa pelas matas da Costa Brava, em busca das endorfinas que, segundo as suas requintadas preferências, só o sexo em bosques suburbanos pode fornecer. Mas mais ninguém. Assim, isolados, a Costa Brava e os seus habitantes constituem numa espécie de Macondo, votados a «Cem anos de solidão», e onde «Ninguém escreve ao Coronel» nem a outro tipo qualquer.

Eu, que cresci próximo deste lugar, e que só por infelicidade e um triz não sou da Costa Brava, admiro a coragem e o carácter dos bravos desta Costa, a quem há muito o poder local voltou as suas próprias costas. Afinal, não é em qualquer sítio que se encontra um tipo com a força, o engenho e a dignidade para construir os seus próprios esgotos, sem nunca falhar uma única prestação da taxa de saneamento básico.

 

 

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