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Mudanças & companhia Lda.

Opinião  »  2013-06-07  »  Helder Simões

”Não deves abrir as gavetas fechadas
por alguma razão as trancaram,
e teres descoberto agora a chave
é um acaso que podes ignorar.”
Por Pedro Mexia, in Menos por Menos

 

Não deve existir ramo de negócio mais prometedor que o das empresa de mudanças. À priori, uma empresa de mudanças soa a um negócio de potencial ilimitado, empreendedor por natureza. Em Portugal, o negócio deve (só pode) correr de feição. - Às vezes, parece que tudo neste país precisava de mudar. - E mesmo que se discorde desta premissa, a dada altura, todas as vidas acabam por precisar dos préstimos de uma empresa de mudanças. Mas quando se contrata uma, por mais vantajoso que possa parecer o negócio, rapidamente se percebe que se limitam a mudar de coordenada geográfica, uma dúzia de caixas onde empacotamos (materializada) uma existência mais ou menos frugal. Mas Portugal, esse, não muda nada; por mais que o empurrem, por mais que o tentem embarcar mar a dentro, em caravelas ou jangadas, ele não se demove nem um centímetro para além da tectónica das placas continentais…

Mas se muito tem falado e debatido sobre a mudança do país, e certamente muito se continuará a discutir, curiosa e inexplicavelmente, poucos comentadores e politólogos têm dissecado o mui nobre tema das mudanças de apartamento e tudo o que envolve mudar a tremenda quantidade de tralha que se acumula ao longo da vida. Este sim, é um tema à minha medida: eu, que mudei recentemente de casa, a quem falta a força para mudar o país, e a coragem para o deixar. Mas não se assuste caro leitor, que aqui não se nutre especial apetite pela narração de banalidades quotidianas em ca(u)sa própria! Embora qualquer empresa possa ajudar, mudar de casa não é uma empresa qualquer. Esvaziar a casa onde se viveu é uma tarefa desconcertante. Repartir e empacotar a vida por caixotes pode ser um exercício penoso. A princípio a coisa corre a bom ritmo. É num ápice que se esvazia a cozinha ou a casa de banho. Mas arrumar o departamento de papéis e livros é como a invadir a Rússia. Não pela dimensão da minha biblioteca, mas pelo facto de a epopeia não poder ser realizada sem um número de baixas muito além do admissível. O conflito começou com um livro que cai e se abre acidentalmente. Foi o barão trepador que se desequilibrou de uma prateleira de faia. Vou em seu auxílio. Detenho-me num parágrafo (sobre um epitáfio): «Cosimo Piovasco de Rondó – Viveu sobre as árvores – Amou sempre a terra – Subiu para o Céu». É uma dor de alma remover este do seu habitat. Passa-se às gavetas e a mudança entra num campo minado de memórias, num combate de guerrilha corpo a corpo. Há postais ilustrados, cartas, revistas, jornais, presentes, fotos de quando eu tinha mais cabelo... Faz-se uma pausa no combate. Mete-se outro disco a tocar. O Sérgio Godinho entra com o Camané, sem ninguém os convidar, com as Fotos do Fog ”A Guerra deu na TV… Vou-te mostrar as fotos!”. E eu que nunca vi a guerra já quero desertar; não quero ver fotos de nenhum corpo ileso. A banda sonora está contra mim. Abre-se outro livro. A guerrilha latino-americana surge com uma emboscada: ”- Sou a sombra do que fomos e enquanto houver luz existiremos - murmurou antes de fechar a porta”. - um livro cuja capa me sugere que vá tomar um café para retemperar energias. Bebe-se um café, como quem fuma um cigarro. Detenho-me a pensar e concluo que mudar de casa é cansativo, que a vida é uma trabalheira… Volta-se ao trabalho! Por fim, lá se embalam as tralhas. Fecha-se a porta da casa vazia… Bolas! É preciso voltar atrás! Há um livro esquecido para arrumar definitivamente: é do professor Eduardo Bento, ”A casa já não abriga vozes”. Raio do livro quer abrir-se. Vá, deita cá para fora:

”Dói o abandono da casa/ Apagado o branco da cal… O silêncio toma conta de tudo/ Pousa as mãos sobre a pedra/ Doma o tijolo.”

Raios! E a empresa de mudanças que nunca mais chega….

 

 

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