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As bengaladas

Opinião  »  2012-11-30  »  Helder Simões

”Era um dever de moralidade pública dar bengaladas no Dâmaso!”
Eça de Queiroz, em Os Maias.

O tema das bengaladas impôs-se após os violentos incidentes ocorridos no passado dia catorze, diante da Assembleia da República. Muito foi dito sobre o sucedido. As opiniões, como é hábito nestes confrontos, ocuparam as tradicionais barricadas. Mas antes de nos entrincheirarmos definitivamente, dissequemos os factos. Foi demasiado gritante para que pudesse passar incólume, a violência das acções de protesto efetuadas por um grupo de marginais diante das autoridades. Cedo se percebeu que a CGTP e os grevistas pouco ou nada tiveram a ver com selvajaria reinante. Todos viram também a passividade inicial com que as forças policiais receberam, durante cerca de uma hora, as agressões do punhado de delinquentes que se sobrepôs à manifestação. Estranhou-se até que a PSP não tivesse actuado mais cedo, evitando assim, quem sabe, males maiores. Na verdade, ninguém se espantou que a PSP tenha decidido intervir. E aqui chegamos ao ponto crucial da discussão. É que a intervenção da PSP acabou por atingir tudo e todos. No largo da assembleia foram detidos apenas nove delinquentes, o que nos faz questionar quantos manifestantes inocentes terão apanhado bastonadas sem ter praticado qualquer acto ilícito, para que nove bestas fossem detidas. As autoridades referem que estes indivíduos têm um historial de desacatos em manifestações, jogos de futebol e noutras faenas, e que há alguns grupos extremistas envolvidos. Então, se assim é, se sabiam tanto sobre os ”profissionais da desordem”, para quê aguentar pedradas durante uma hora? Se os conheciam tão bem, porque é que não tomaram uma acção mais eficaz e focada nesse grupo. O que se pode concluir é que a carga policial não só atingiu demasiados inocentes, como foi ineficiente! Alguns argumentam que não se podia esperar que a polícia de intervenção perguntasse individualmente ”Olhe! Desculpe, o sr. manifestante arremessou pedras contra os agentes da autoridade?” Pois, não podia, mas o que é intolerável é que à posteriori a polícia se encontre agora moralmente obrigada a dizer ”Faça o favor de desculpar, o sr. pensionista falido, pelas bastonadas que apanhou por causa de uma dúzia de profissionais da desordem, dos quais detivemos nove”, ou ”Ah! Afinal a Sra. Laurinda não tinha arremessado coktails molotov! Olhe, desculpe lá as bengaladas no lombo, mas é que está tão pálida que nos parecia ter uma máscara vendetta!” No meu entender, as autoridades deviam ter tomado medidas mais precoces, necessariamente violentas, claro está, mas dirigidas aos marginais que encabeçavam a manifestação. Podiam tê-los cercado, dispersado, podiam ter-lhes feito quase tudo! Mas não fizeram! E quando finalmente tiveram um pretexto mediaticamente suficiente para carregar sobre uma das várias manifestações que já começam a chatear a assembleia da república, não hesitaram em varrer tudo, e se entretanto um ou outro grevista apanhar umas bengaladas, tanto melhor. O que quero dizer é que em Portugal - e um pouco por todo o mundo, justiça seja feita -, as bengaladas nunca atingem quem devem atingir: aqueles a quem era ”um dever de moralidade pública dar bengaladas”! As bengalas raramente incidem nas costas certas. Os lombos dos verdadeiros responsáveis por esta crise, os banqueiros, os boys, as mafias que dominam os corredores do poder, continuam tenros como filet mignon. Armando Vara jamais sentirá o peso do seu apelido no próprio dorso. A impunidade reina entre os responsáveis desta crise. Mas curiosamente o país também é brando com o crime violento. Os imbecis que ostentam violência nos estádios de futebol gabam-se das façanhas em livros publicados. Aqueles que mataram e incendiaram nas FP 25 de Abril foram perdoados pelo ”ímpeto revolucionário”. Obviamente, os responsáveis pelo assassinato de Humberto Delgado safaram-se incólumes.

O problema das bengaladas é que são ordenadas e disferidas por zarolhos, geralmente fracas com os fortes, e fortes com os fracos. É verdade que quem actua violentamente contra as forças de autoridade não pode esperar uma resposta pacífica. Mas não é menos verdade que um poder que se mantém surdo face ao clamor do país não pode esperar que os protestos mantenham um tom pacífico. E o risco é o de que um dia esse mesmo poder já não consiga distinguir os ”profissionais da desordem” das vítimas da desordem que ele próprio está a criar.

PS: Uma última palavra para os energúmenos que se dizem anarquistas, vingadores, ou o diabo que os carregue, e que decidiram arremessar pedras contra agentes da PSP, também eles gente que sofre na pele os efeitos desta crise. Os verdadeiros anarquistas, os radicais a sério, aqueles que semeiam o caos no mundo, os que realmente gozam de liberdade irrestrita, estão geralmente sentados em conselhos de administração do sector bancário! - Já dizia o outro, não o Eça, mas o Pessoa.

 

 

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