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​A GERAÇÃO OÁSIS NUM TEMPO TORREJANO - josé alves pereira

Opinião  »  2022-10-09  »  José Alves Pereira

"Foi na tertúlia deste café que se formou uma comissão que levaria à construção das piscinas municipais, assinalando o local e iniciando uma recolha de fundos."

Há anos (1) dei-me a recordar um velho grupo que conviveu no final da década de 60, inícios de 70, no antigo café Oásis, depois D. Sancho e hoje Jasmim. Retomo algumas ideias, a que junto outras com novo desígnio. Justifica este retorno o ter sido um tempo de assinaláveis mudanças na sociedade torrejana, que se registam em pequenos detalhes do quotidiano, tão diferentes da vida actual.

Nesta geração Oásis pontificavam então grupos de jovens, de ambos os sexos, de expressão muito diversificada nas suas vivências sociais: estudantes, operários, empregados de serviços, militares, etc. É difícil pensar, pelos hábitos de hoje, que aquele era um café de estudantes, essencialmente dos cursos nocturnos da Escola Industrial e do Colégio. Nele germinou a ideia de um abaixo assinado para que fosse criada em Torres Novas uma secção liceal que funcionasse à noite. Mesas cheias de gente que transportava nos livros e na sua participação colectiva a esperança de um outro futuro. Muitos vieram a concluir cursos superiores.

A clientela dos vários cafés era espelho de alguma estratificação social. Tinham há pouco nascido o Muxima, o Viela e o Pinco, em que pontuavam os professores e grupos mais intelectualizados. Na Império, a frequência era de funcionários públicos e administrativos. Em frente, situava-se a Abidis, de pretensão mais selectiva e elitista. No largo da Igreja da Misericórdia, sito à camionagem Claras, ficavam os mais operários, o Marujo e o Zé da Mata. O único que fazia o pleno social era o Portugal, que servia de cervejaria, funcionava até às duas da manhã e era o porto de abrigo dos noctívagos. Entretanto, pelos anos 60, tinha já fechado portas o Central, no Largo da Botica, ponto de confluência dos ajuntamentos futebolísticos vindos do Almonda Parque, mais conhecido pelo “Quintal do Zé Maria”. Neste largo fronteiro, em dias de futebol, o trânsito fluía com dificuldade, valendo a presença de um polícia sinaleiro que empoleirado num estrado, ia mantendo a circulação possível. Neste café ainda funcionava, como era da praxe nos mais ”clássicos” da época, a mesa verde do jogo de bilhar. Foi na tertúlia deste café que se formou uma comissão que levaria à construção das piscinas municipais, assinalando o local e iniciando uma recolha de fundos. Claro que havia outros cafés pela vila, mas aqueles por se situarem no centro urbano polarizavam os encontros. Nem era preciso combinar encontros porque era o ritual diário.

O café Oásis era uma plataforma de passagem no quotidiano de cada um. Ali se formavam grupos praticantes de basquetebol e de xadrez, neste caso estimulados pelo confronto para o campeonato do mundo, com cheirinho político, entre o Spasky (URSS) e o Fisher (EUA). Quando na TV, finalizando o telejornal, o João Cordovil vinha comentar os lances do dia era o silêncio atento. Alguns tabuleiros começaram a tomar conta das mesas, seguindo as revistas em que se tentavam resolver problemas xadrezísticos. O dinamismo participativo, que era também expressão dos estímulos políticos da oposição democrática, estendia-se pela vida associativa, nomeadamente no Cine Clube, Choral Phydelius, Clube Desportivo, Columbófila e Banda Operária. As actividades de dinamização cívica ou de reivindicações democráticas, naturalmente contidas, como era próprio dos tempos, polarizavam-se em torno da acção “anónima” de militantes do PCP, e naquilo que era conhecido por núcleo dos católicos progressistas, agrupados em torno da JOC e no jornal da Voz do Trabalho.

Havia nessa altura quatro jornais da tarde: o República, A Capital, O Diário Popular e O Diário de Lisboa, que chegavam a Torres Novas pelas 18 horas, trazidos na carreira dos Claras que fazia no Entroncamento a ligação ao comboio.

 Este espírito de participação tinha também a sua expressão nas variadas actividades desportivas, de que lembro os participados torneios de “futebol de salão”, hoje futsal, jogados à noite no superlotado ringue do Almonda Parque. Lá aparecia a equipa do Oásis, competindo com as “feras” do GACA 2, Tufeiras, Réquio, Lapas, e outras que por falta de espaço não refiro. Aqui e ali emergiam alguns sinais de rivalidades que eram a expressão de divisões sociais, que embora pequenas eram o suficiente para estimular aquelas. No torneio, com 21 equipas, terminado em Julho de 1968, a “gloriosa” equipa do Oásis ficou em 4º lugar, saindo vencedor o GACA 2. Dos cafés também o Muxima e o Planalto participaram.

Entre os frequentadores habituais do Oásis, o automóvel era bem praticamente inexistente, talvez um ou outro tivesse motorizada, pelo que o quotidiano decorria quase sempre “por perto”, exceptuando um ou outro bailarico em aldeia próxima. Ia-se jogar matraquilhos à taberna do Crispim, ali a Valverde, ou jogar pingue-pongue na Columbófila ou na sede do Desportivo. De muitos que por ali passaram e marcaram essa geração não cuido do seu paradeiro, sendo certo que alguns se foram já embora. Sem distinção lembro apenas os(as) empregados(as) que funcionavam como dos nossos: o Orlando, as manas Carminda e Maria José, o sr. Alves e já agora o senhor Maia Carreira, proprietário do Oásis, que aturava as madurezas destes clientes.

Creio que não é despropositado falar de uma geração Oásis, hoje na casa dos setenta, que participativos, cada um a seu modo, estiveram num tempo de viragem da sociedade torrejana.

 


Ver Jornal Torrejano 21.03. 2003

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

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