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Bloom

Opinião  »  2012-09-07  »  Helder Simões

”Não falaremos de heróis que se perderam em labirintos
nem na demanda do Santo Graal.
(Não se trata aqui de encontrar a imortalidade
Mas de dar um certo valor ao que é mortal.)”

 

Falemos sim de Uma Viagem à Índia, o mais do que aclamado livro de Gonçalo M. Tavares, e do seu protagonista, Bloom. A Viagem à Índia ou ao oriente imaginado (provavelmente o único que existe), é um tema central da cultura portuguesa e ocidental. - Afinal de contas, quem perde o norte, deseja antes de mais orientação, por mais ocidentação que lhe impinjam. - Mas esta ideia, bem como toda a literatura e imaginário acumulados sobre o tema, não constituíram para Tavares uma dificuldade, mas antes um desafio e o pano de fundo perfeito para uma viagem que há-de confrontar vários mundos: o ocidente com o oriente, o presente com o passado, o coletivo com o indivíduo, a prosa com a poesia, a partida com o regresso, o amor com o ódio, a ilusão com o tédio… Para tudo isto se criou Bloom! Não se trata de um mero raio de luz. Bloom é justamente a difração de uma luz intensa que irrompe por uma fenda. Não é apenas mais um herói. É um herói e a sua antítese. Uma Viagem à India não é a aventura épica de um povo. É a desventura introvertida e individualista de um anti-herói. Ainda assim, - ou talvez por esse motivo - o livro é a epopeia portuguesa do século XXI. E mesmo em pleno século XXI não se pode criar uma epopeia portuguesa que não remeta aos Lusíadas. - como Camões não pôde escrever uma epopeia sem evocar a Odisseia. - Os Lusíadas são para esta obra de Gonçalo M. Tavares uma espécie de livro-espelho, um fio guia que é preciso seguir e ao mesmo tempo romper. A viagem não é um poema. Tão pouco constitui uma simples narrativa. Será antes tudo isto e os seus contrários. Será também um livro fragmentado, mas não apenas pelos dez cantos em que se estrutura; é-o sobretudo pela multiplicidade de considerações filosóficas do seu narrador. - ”Uma Viagem à Índia” é também um livro que se pode iniciar em qualquer parte da viagem-leitura, pela riqueza dos aforismos nele contidos. - Na sua viagem à Índia, Bloom não transporta o entusiasmo de quem mergulha na novidade; carrega sim a ânsia pela fuga de um passado. Não pretende qualquer invasão; busca antes evadir-se. Também não quer evangelizar; procura ser iluminado. Procura esquecer e aprender num mesmo movimento. Não personifica a vontade de um povo; simboliza o tédio do indivíduo. Mas se o individualismo de Bloom procura romper com a ideia de uma narrativa coletiva, omnipresente nos Lusíadas, ele não deixa por isso de representar toda uma civilização ocidental, profundamente centrada no seu individualismo, e que na sua ausência de soluções, na sua decadência, olha para o misticismo oriental como um escape, parecendo ignorar que a ascensão oriental do século XXI é predominantemente material. - ”Os países perderam estilo, ganharam accionistas”, alerta-nos Gonçalo M. Tavares. - Alcançada a Índia, Bloom será confrontado com a crueza da realidade. Descobre afinal que ”as cidades começaram a ser construídas como poemas, mas rapidamente foram concluídas com tijolos baratos e o sofrimento dos que trabalharam longamente.” Na sua ilusão oriental, Bloom, diz-nos Gonçalo M. Tavares, ”Procurou o Espírito na viagem à Índia, encontrou a matéria que já conhecia”.

É certo que não se vai à India como se vai à China, ainda que esta última seja mais distante. Embora, como Bloom haveria de provar, se regresse da Índia como de outro sitio qualquer… desde que se regresse a Lisboa. De resto, Lisboa nunca foi cidade em que se possa viver, foi sempre cidade da qual só se pode partir ou à qual só se pode regressar. Restam-lhe assim Lisboa e o Tejo. No entanto, para Bloom, ”A ingenuidade é irrecuperável” e o tédio parece definitivo. - A não ser que, permitam-me acrescentar, de quando em vez, surja um livro que o afaste.

 

 

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