Cedo nos habituámos a ver gente do chamado mundo ocidental. Mas o que dizer dos soviéticos, no outro extremo da Europa? Onde vê-los a não ser a rapar medalhas nos Jogos Olímpicos ao som de um belo hino, ou de gorro enfiado na cabeça, a passar atrás do Carlos Fino enquanto este falava a partir de Moscovo?
Um mundo de onde não se saía livremente, aonde poucos ia... (ler mais...)
Começo esta série de crónicas de viagens de modo simbólico: pelo primeiro dia deste ano. Num comboio, algures entre Trieste, onde aquele homem entrou comigo, e Veneza, onde também saiu, embora no meu caso só para apanhar o segundo dos quatro comboios que me levariam a Bergamo. A viagem é longa até Veneza e não me falta tempo para o observar enquanto descanso da leitura que rivaliza... (ler mais...)
Uma centena de metros depois de sair de casa para apanhar o Expresso das 6.30 para Lisboa, noite cerrada, passo por um homem que anda a passear o cão quando o resto da cidade ainda dorme. Conheço-o de vista, passo muitas vezes por ele, mas desta vez cumprimentamo-nos com um “Bom dia”. No passado fim de semana, vou junto ao McDonald’s ainda antes das 8 da manhã, com a rua vazia, silenciosa e envolvida em n... (ler mais...)
Há quem não ache graça a eu dizer que Portugal é um acidente histórico. Não percebo, pois parece-me tão evidente como o cão ser mamífero e Marte um planeta, ou que D. Afonso Henriques não teria nascido se Henrique e Teresa não se conhecessem, tanto no sentido social como bíblico. Todos os países são acidentes históricos, apenas uns mais que... (ler mais...)
Não há volta a dar. Todos os anos, o fim das férias faz-nos regressar ao Gólgota depois de alguns dias de prazerosa ressurreição. Sendo o trabalho, como dizia Mark Twain, um mal necessário a ser evitado, as férias são a concretização desse desejo, sentindo o trabalhador o carinho do Tempo a embalá-lo numa sucessão de dias livres.
Mas chega o fat&... (ler mais...)
Rigoletto é bobo no palácio do duque de Mântua, ou seja, existe para fazer rir. Mas apagam-se as luzes da ribalta e eis que surge um outro homem: sensível, pai extremoso, chorando ainda a morte da única mulher que o amou. Rigoletto é vítima de uma condenação: ter que rir quando a vontade é tanta como a de André Ventura de adoptar duas criancinhas ciganas. Um triste des... (ler mais...)
“O Pequeno Grande Homem” (1970) tem como personagem principal um rapaz que, apesar de franzino, se revela forte e corajoso. Não é caso único. Faz parte de uma estirpe que, na ficção, começará, vá, com Ulisses (uma cabeça abaixo de Agamémnon) e que na vida real tem hoje Zelensky como mais do que legítimo herdeiro. Ora, os... (ler mais...)
A percepção visual tem as suas leis, que interferem, sem darmos conta, no modo como diante de uma imagem, separamos a figura e o fundo, a visão central e a periférica, o seu motivo e o contexto. E muito antes da ciência estudar essas leis já os artistas do Renascimento as exploravam para criar os efeitos visuais desejados. Esta prosápia aborrecida serve apenas para início de conversa sobre... (ler mais...)
É muito bom viver em Torres Novas mas também se sente o peso de estar longe do que de verdadeiramente moderno se passa no mundo, enfim, nada de #Me Too, Je suis Charlie Hebdo, vetustas estátuas transformadas em anúncios da Benetton. É deveras agradável dar a volta à avenida depois de jantar mas acorda-se no dia seguinte com a asténica sensação de nada haver de muito à... (ler mais...)
Faço uma bela caminhada matinal que me leva a passar pela Caveira, Bonflorido e Vale de Carvão e sou levado a pensar em três pessoas, uma de cada aldeia, escrevendo as suas moradas para uma encomenda. O que pensarão lá longe destes nomes? Ao contrário das sensações que nos obrigam a ver uma cadeira se estamos diante de uma cadeira ou a cheirar frango assado se for frango assado, ao contr&a... (ler mais...)
Quando saí de Torres Novas para ir estudar em Lisboa já sabia que iria depois sair de Lisboa para vir trabalhar em Torres Novas. A primeira razão para voltar foi de natureza umbilical: eu ser de Torres Novas como outros são de Mangualde ou Famalicão. Ora, sendo uma razão importante, não é, todavia, razão suficiente. A outra razão que serve para explicar o meu desejo de regre... (ler mais...)
Podemos dizer que um jogo de futebol sem público ou vida sem música é como um jardim sem flores. Não que um jardim sem flores deixe de ser um jardim. Acontece que, como no jogo de futebol, fica melhor se as tiver. Já se for uma sopa de feijão com couves que não tenha couves, a comparação com o jardim sem flores não funciona, pela singela razão de que uma sopa de feij&... (ler mais...)
Desço a rua dos Anjos quando o meu cérebro é de repente apoquentado por uma radical e inquietante questão. Não o pavor diante do silêncio e escuridão do espaço cósmico ou por não saber se quando esticar o pernil irei dar com a Audrey Hepburn a cantar o Moon River numa matiné de domingo no Virgínia ou com um cenário de Bosch. Agora, no ocaso da minha exist... (ler mais...)
Sempre que o calendário faz regressar o 25 de Abril, é também o clássico “25 de Abril sempre!” que regressa. A frase é bonita e voluntariosa mas tem um problema: não dá que o 25 de Abril seja para sempre. Ao invés, será mesmo caso para dizer “25 de Abril nunca mais!”.
Claro que me lembro bem do 25 de Abril. Um dia cinzento mas que começou muito ... (ler mais...)
Não faço ideia se esta fotografia, que quase enche a capa do último JT, foi feita com a intenção de se tornar no que é: um extraordinário objecto fotográfico. Se não foi, torna-se assim um daqueles acasos que nos aparecem como se possuíssem a sua própria racionalidade.
Eu já vi esta fotografia, embora como pintura, tendo outras personagens: Infante D. H... (ler mais...)
Uma coisa que a natureza tem de bastante simpático, facilitando-nos a vida, é a sua circularidade. Por exemplo, as estações do ano. Fosse a natureza destrambelhada e nada poderíamos prever, deixando-nos à nora sobre o que fazer no dia seguinte. Este tempo circular não ocorre só na natureza mas também socialmente através de datas ou épocas pelas quais esperamos um ano ... (ler mais...)
Torres Novas é uma terra cheia de ruínas, o que dá uma enorme tristeza e uma espécie de infelicidade urbana para a qual não conheço palavra. Ruínas não deveriam ser onde vivem pessoas mas em Pompeia, castelos na Escócia, abadias em Inglaterra ou anfiteatros na Grécia, onde apenas vivem fantasmas pacificamente misturados com turistas que chegam e logo partem.... (ler mais...)
Qualquer pessoa normal é contra a violência doméstica. Acontece que não gosto da expressão “violência doméstica”, demasiado sociológica, urbana, abstracta, mera etiqueta que não faz jus ao tipo de aberração que pretende traduzir.
Um homem que bate na mulher não é um homem violento: é um ogre com um cérebro reptiliano... (ler mais...)
Por estranho que pareça, houve um tempo em que se ia ao restaurante sobretudo para comer. Sim, também para conviver, comemorar, fazer negócios, mas sempre com o prazer da boa mesa como alvo. Nós, portugueses, para além de comer adoramos falar sobre o que comemos, nem que seja para lembrar, com a expressão lúbrica do lobo dos desenhos animados, o maravilhoso cabrito com grelos que comemos h&aacut... (ler mais...)
Admito ser um bocadinho conservador, sobretudo naqueles dias em que acordo com uma certa vontade de lavar os dentes com pasta medicinal Couto e de ter um mordomo chamado Jeeves para me trazer o fato às riscas enquanto faz o resumo do Financial Times. Mas reaccionário não sou. Um reaccionário é alguém que vê a sua atitude consubstanciada no popular Ó Tempo Volta para Trás de Ant&oacu... (ler mais...)
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