• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Quarta, 09 Outubro 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Sáb.
 24° / 16°
Céu nublado com aguaceiros e trovoadas
Sex.
 22° / 14°
Céu nublado com aguaceiros e trovoadas
Qui.
 22° / 13°
Períodos nublados com chuva fraca
Torres Novas
Hoje  22° / 14°
Céu nublado com chuva moderada
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Todos os Nomes - josé ricardo costa

Opinião  »  2024-05-25  »  José Ricardo Costa

O tamanho importa? Bom, se nalguns campos as opiniões se dividem, outros há que são consensuais, como o tamanho dos nomes de pessoas. Importa, sim, desde logo na Roma Antiga: enquanto um homem podia ter três nomes, a mulher só tinha direito a um, ainda por cima variante do nome do pai (Hortênsia seria filha de Hortensius). Depois, como sinal de distinção social, embora com possíveis efeitos secundários como começar a ler o nome completo de um rei e adormecer antes de chegar ao fim.

Já estive numa escola cuja representante dos pais tinha dez nomes, uma espécie de versão onomástica dos oito metros de Economia Política na biblioteca do Jacinto de A Cidade e as Serras. Com nomes não dá para dizer que à dúzia é mais barato, pelo contrário, até os encarece bastante. Daí, ao iniciar um mail, o meu cumprimento variar consoante o comprimento do nome do destinatário. Se tiver quatro nomes (o mais comum em Portugal) digo “Olá Manuel”, se tiver cinco, já passa a “Caro Manuel”. Só mesmo a partir de cinco é que já me curvo ante um “Caríssimo Manuel”, inflacionando assim o cumprimento.

Quando se trata de escolher um “nome público”, o habitual é serem dois, ou vá, três. Daí a minha surpresa quando soube de um poeta chamado João Miguel Fernandes Jorge, nome que é quase do tamanho de um haikai. Imagine-se o que seria a literatura portuguesa cheia de nomes como Herberto Helder Bernardes de Oliveira ou Ruy de Moura Ribeiro Belo. Até José Saramago, que escreveu um livro chamado Todos os Nomes, dispensou um deles apesar de ter só três.

É verdade que há a Sophia de Mello Breyner Andresen, mas compreende-se aqui a irresistível tentação de não deitar fora o pedigree de dois apelidos estrangeiros mais um português com duplo L que combina na perfeição com um PH alcalino, excelente para remover quaisquer laivos de mediania social. Ou a Fiama Hasse Pais Brandão mas, neste caso, o nome só por si já é uma obra literária.

Eu por acaso até escolhi três nomes, mas só por “José Costa” ser o nome por que sou conhecido na Ryanair, nos mails de spam ou naqueles telefonemas que servem para impingir colchões, o que tem o seu quê de irritante. Fosse, em vez de Costa, Wallenstsein, e nem pensaria duas vezes! E o que não falta é gente importante só com um nome, embora gravado a ouro: Camões, Shakespeare, Cervantes, Baudelaire, Eusébio.

Daí o meu espanto ao descobrir, em Torres Novas, uma rua Joaquim Alberto Godinho Pereira da Rosa. Não por Joaquim Godinho ter nome de rua, mas por chamarem Joaquim Alberto Godinho Pereira da Rosa à rua de Joaquim Godinho. Terêncio, escritor romano, dizia que nada do que é humano lhe era estranho. Já eu, por mais que viva, não paro de me surpreender, neste caso em particular com a mente de onde brotou tal desvario toponímico.

Eu gostaria de não ter de fazer um desenho, mas também fica difícil não ter de lembrar que o nome Joaquim Alberto Godinho Pereira da Rosa só era necessário ao próprio para preencher documentos. Se há uma rua Alexandre Herculano em vez de Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, ou um largo General Baracho em vez de General Sebastião de Sousa Dantas Baracho, que mal terá feito Joaquim Godinho para a sua rua não se chamar Joaquim Godinho?

Poderia ser um pletórico excesso barroco em forma de nome, mas não passa de um artifício kitsch de alguém que talvez acredite que a homenagem será tanto maior quanto mais centímetros de nome apresentar, receando que uma rua Joaquim Godinho para homenagear Joaquim Godinho ficasse aquém do seu valor.

Ao contrário do que muitas vezes se pensa, kitsch não é sinónimo de piroso, apenas poderão coincidir. Há coisas pirosas que são kitsch e outras que não são kitsch, como há coisas kitsch que são pirosas e outras que não são. Neste caso, o kitsch neste nome de rua de um homem que não merecia a desfeita, não é bem piroso, nem pindérico, nem possidónio, três categorias estéticas distintas, embora ande perto das três. Sobretudo pela sua grandiosidade vazia, um ostensivo brilho de lantejoulas que anula o sóbrio respeito e consideração por alguém que mereceu ter nome de rua.

A arte pública em Portugal é, de um modo geral, uma catástrofe. Agora, pelos vistos, nem os nomes de ruas escapam. Para terminar, apenas expressar a minha solidariedade às pessoas que lá moram, condenadas a escrever todos aqueles nomes sempre que tiverem de preencher documentos.

 

 

 

 

 

 Outras notícias - Opinião


30 anos: o JT e a política - joão carlos lopes »  2024-09-30  »  João Carlos Lopes

Dir-se-ia que três décadas passaram num ápice. No entanto, foram cerca de 11 mil dias iguais a outros 11 mil dias dos que passaram e dos que hão-de vir. Temos, felizmente, uma concepção e uma percepção emocional da história, como se o corpo vivo da sociedade tivesse os mesmos humores da biologia humana.
(ler mais...)


Não tenho nada para dizer - carlos tomé »  2024-09-23  »  Carlos Tomé

Quando se pergunta a alguém, que nunca teve os holofotes apontados para si, se quer ser entrevistado para um jornal local ou regional, ele diz logo “Entrevistado? Mas não tenho nada para dizer!”.

 Essa é a resposta que surge mais vezes de gente que nunca teve possibilidade de dar a sua opinião ou de contar um episódio da sua vida, só porque acha que isso não é importante,

 Toda a gente está inundada pelos canhenhos oficiais do que é importante para a nossa vida e depois dessa verdadeira lavagem ao cérebro é mais que óbvio que o que dizem que é importante está lá por cima a cagar sentenças por tudo e por nada.
(ler mais...)


Três décadas a dar notícias - antónio gomes »  2024-09-23  »  António Gomes

Para lembrar o 30.º aniversário do renascimento do “Jornal Torrejano”, terei de começar, obrigatoriamente, lembrando aqui e homenageando com a devida humildade, o Joaquim da Silva Lopes, infelizmente já falecido.
(ler mais...)


Numa floresta de lobos o Jornal Torrejano tem sido o seu Capuchinho Vermelho - antónio mário santos »  2024-09-23  »  António Mário Santos

Uma existência de trinta anos é um certificado de responsabilidade.

Um jornal adulto. Com tarimba, memória, provas dadas. Nasceu como uma urgência local duma informação séria, transparente, num concelho em que a informação era controlada pelo conservadorismo católico e o centrismo municipal subsidiado da Rádio Local.
(ler mais...)


Trente Glorieuses - carlos paiva »  2024-09-23  »  Carlos Paiva

Os gloriosos trinta, a expressão original onde me fui inspirar, tem pouco que ver com longevidade e muito com mudança, desenvolvimento, crescimento, progresso. Refere-se às três décadas pós segunda guerra mundial, em que a Europa galopou para se reconstruir, em mais dimensões que meramente a literal.
(ler mais...)


30 anos contra o silêncio - josé mota pereira »  2024-09-23  »  José Mota Pereira

Nos cerca de 900 anos de história, se dermos como assente que se esta se terá iniciado com as aventuras de D. Afonso Henriques nesta aba da Serra de Aire, os 30 anos de vida do “Jornal Torrejano”, são um tempo muito breve.
(ler mais...)


A dimensão intelectual da extrema-direita - jorge carreira maia »  2024-09-23  »  Jorge Carreira Maia

Quando se avalia o crescimento da extrema-direita, raramente se dá atenção à dimensão cultural. Esta é rasurada de imediato pois considera-se que quem apoia o populismo radical é, por natureza, inculto, crente em teorias da conspiração e se, por um acaso improvável, consegue distinguir o verdadeiro do falso, é para escolher o falso e escarnecer o verdadeiro.
(ler mais...)


Falta poesia nos corações (ditos) humanos »  2024-09-19  »  Maria Augusta Torcato

No passado mês de agosto revisitei a peça de teatro de Bertolt Brecht “Mãe coragem”. O espaço em que a mesma foi representada é extraordinário, as ruínas do Convento do Carmo. A peça anterior a que tinha assistido naquele espaço, “As troianas”, também me havia suscitado a reflexão sobre o modo como as situações humanas se vão repetindo ao longo dos tempos.
(ler mais...)


Ministro ou líder do CDS? »  2024-09-17  »  Hélder Dias

Olivença... »  2024-09-17  »  Hélder Dias
 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-09-09  »  Hélder Dias Bandidos...
»  2024-09-19  »  Maria Augusta Torcato Falta poesia nos corações (ditos) humanos
»  2024-09-17  »  Hélder Dias Ministro ou líder do CDS?
»  2024-09-17  »  Hélder Dias Olivença...
»  2024-09-13  »  Hélder Dias Cat burguer...