• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Segunda, 29 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Qui.
 18° / 7°
Períodos nublados com chuva fraca
Qua.
 16° / 8°
Períodos nublados com chuva fraca
Ter.
 19° / 9°
Céu nublado com chuva fraca
Torres Novas
Hoje  19° / 9°
Períodos nublados
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Relembrando Joaquim Rodrigues Bicho - antónio mário santos

Opinião  »  2023-07-08  »  António Mário Santos

"A Torres Novas Factory socialista é um emplastro histriónico à seriedade histórica"

Quando este fim de semana, soube que o Partido Socialista votara, na última Assembleia Municipal, contra a denominação toponímica “Fábrica Grande”, proposta pelo Bloco de Esquerda - mantendo Torres Novas Factory – para o espaço onde se situava a Fábrica de Fiação e Tecidos de Torres Novas, alegando ainda não ser tempo de definição do espaço, confesso que, como munícipe deste concelho, me senti ofendido. Que querem? Faço parte duma história concelhia em que Torres Novas estruturara a sua vida industrial, no século XX, no qual, do século XIX, se identificavam, como elementos centrais, a Fábrica Grande (1845) e a fábrica de Fundição e Serralharia Mecânica de José da Costa Nery (1855), entre uma multidão de lojas de artífices, indústria familiar, promovendo um comércio que ia paulatinamente em crescendo, a partir do prolongamento da circulação ferroviária para o distrito de Santarém, num concelho predominantemente agrário.

Daí que – siga-se a diversa imprensa dos século XIX e 1ª República, até à fascização do regime e à monopolização informativa de O Almonda –, a industrialização se renove, a partir da década de vinte, com a pequena e média indústria metalúrgica, a tecelagem, mas também o papel (já com tentativas do século XIX), a tinturaria, a moagem, as de origem agrícola, como a do tomate, a aguardente de figo, o álcool, os transportes rodoviários, as telecomunicações.

Mas, simbólicas, a Nery e a Fábrica Grande.

Quem, como eu, privilegiado estudante do Colégio Andrade Corvo, passou a sua adolescência a encontrar, diário, no seu caminho, o fato macaco operário, a conviver com muitos desses trabalhadores, nas ruas, tabernas e cafés da vila, frequentar, na fase adolescente, os bailes na sede da Banda Operária Torrejana, e mais tarde, como professor da Escola Industrial e Comercial, a conviver com os futuros técnicos, dificilmente aceita essa opção da política contemporânea de cedência à língua inglesa para definição da realidade nacional. Por três ordens de razões. Uma, histórica: a colonização inglesa, a que Portugal se sujeitou durante séculos, minimizou e secundarizou o nativo luso, transformado em colonizado servil. A segunda, política. Por orgulho ideólogico de tradição familiar, assente no 31 de Janeiro de 1891, data da primeira revolta republicana lusa contra o imperialismo inglês. Terceiro, por defesa da língua e cultura portuguesa. Nunca vi ou soube de vocabulário português adoptado pela Inglaterra, na sua toponímia ou no seu quotidiano, com excepção da nostalgia lusa do emigrante a relembrar a origem do seu fado.

O inglês médio considera-se orgulhosamente acima da balbúrdia etno-linguística europeia. É um colonizador, não se mistura. É um director, um chefe, nunca um subordinado. O exemplo recente da corte com a União Europeia bem o demonstra. Os menus dos restaurantes e hotéis no Algarve colonizado o assinalam.

A universalidade da língua inglesa no mundo contemporâneo não monopoliza o diverso da mentalidade das sociedades humanas. O mal estar que me invadiu, pela negação socialista do topónimo “Fábrica Grande”, só por ser apresentado pelo Bloco de Esquerda, breve se dissipou. Raciocinando, com frieza, não poderia a reacção do actual PS ser outra. Pouco ou nada herdou do PS dum Pena do Reis, dum Agostinho, dum Pedro Natal da Luz. Não sei mesmo se os vereadores socialistas com quem convivi e partilhei a oposição municipal, durante quase oito anos, aprovariam tal opção. A culpa, a meu ver, foi (é-o ainda) do Dr. Mário Soares. Em vida, encerrou o socialismo numa gaveta. Quando morreu, ninguém conseguiu descobrir qual o armário, e a gaveta guardadora. E mesmo que o descobrissem, a chave parece ter desaparecido. Daí que os socialistas coevos errem entre os caminhos tortuosos. Mas gratificantes, do capitalismo monopolista e o liberalismo beato do conservadorismo humanista, que a maçonaria e a Opus Dei disputam em tudo quanto é órgão de tutela ou de informação.

Aos senhores deputados municipais e respectivos presidentes de junta, actualmente eleitos, aconselho, para compreenderem o acerto da proposta do Bloco de Esquerda, a leitura do livro do insuspeito Joaquim Rodrigues Bicho, A Fábrica Grande, Subsídios para a História da Companhia de Torres Novas, publicado pela insuspeita Câmara Municipal Socialista concelhia, em Maio de 1997.

Joaquim Bicho encerra o seu livro (pg.191): «A Cidade tem uma fábrica que lhe deu topónimos e diariamente a desperta com um apito a vapor. O seu silvo que, no passado, distinguia a Fábrica Grande das outras, é hoje um símbolo que não nos resignaríamos a perder.»

Perdemos. A Fábrica. Mas não o símbolo. A Torres Novas Factory socialista é um emplastro histriónico à seriedade histórica duma comunidade operária concelhia.

Como estudioso da história local, como munícipe, em defesa do património municipal, estou com a afirmação de Joaquim Rodrigues Bicho e a proposta do Bloco de Esquerda.

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 Outras notícias - Opinião


O miúdo vai à frente »  2024-04-25  »  Hélder Dias

Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia »  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia

A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva.
(ler mais...)


Caminho de Abril - maria augusta torcato »  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato

Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável.
(ler mais...)


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias
 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato Caminho de Abril - maria augusta torcato
»  2024-04-25  »  Hélder Dias O miúdo vai à frente
»  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia