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Certezas? Há, claro! Todas incertezas

Opinião  »  2020-04-17  »  Maria Augusta Torcato

"A bem da nossa consciência, é bom que acreditemos que somos senhores das nossas acções, porque também somos ou devemos ser responsáveis por elas"

Desde sempre as únicas certezas que tivemos foram incertezas. A vida ensina-nos que não controlamos absolutamente nada, mas há qualquer coisa em nós que nos leva a acreditar e a teimar nessa crença de controlo. Aliás, o homem precisa acreditar que é senhor das suas acções. E é, de algumas, mesmo que nestas exista sempre uma boa fracção que não controla nem depende de si. Chame-se-lhe sorte, azar, coincidência ou poder superior…

E, a bem da nossa consciência, é bom que acreditemos que somos senhores das nossas acções, porque também somos ou devemos ser responsáveis por elas e parece muito injusto sermos responsáveis por coisas que não controlamos e não dependem de nós. Mas, às vezes, a vida parece pregar-nos partidas dessas.
Ninguém sabe, verdadeiramente, o que nos espera. Ninguém consegue, com objectividade e clareza, explicar e encontrar justificações para o que está a acontecer no mundo e alterou, por completo, a nossa forma de estar. A forma de ser, acho, não sofrerá grandes alterações. Pode nestes primeiros momentos levar um abanãozinho, mas, a partir do momento em que retomarmos o que era a nossa forma de estar, aí se manifestará, em toda a essência, a nossa forma de ser.

Leio ou oiço muitas pessoas que acreditam que a vida não vai ser a mesma. Que se está a verificar uma purificação do mundo. Acreditam que este é um momento de catarse e transição para um mundo mais puro e uma maneira de ser e estar mais autêntica, mais verdadeira e espiritual, voltada para essência. Eu não acredito nisso. Tenho pena de não acreditar. Mas não acredito. Era-me menos doloroso acreditar.
Para alguns, a vida não vai ser a mesma, mesmo. Para outros vai continuar a ser o que sempre foi. Boa, má ou assim-assim, seja isso o que for, dependendo da perspectiva a partir da qual se observa e até das característica ou da natureza de quem faz a leitura ou vive essa vida.
E, sendo impossível explanar tudo o que fundamenta a minha convicção, basta lembrar que as assimetrias, que sempre existiram e muito se tentaram atenuar ou diluir, aí estão mais claras que as actuais águas, segundo parece, dos canais de Veneza.

Há de tudo: há quem esteja no conforto da sua casa, conseguindo gerir e articular a vida profissional e a pessoal muito bem; há quem esteja no conforto do seu lar a gerir e a articular com dificuldades a vida profissional e a pessoal; há quem esteja no conforto do seu lar, sem grande consciência do que tem de gerir e, além do desespero de não fazer o que fazia, não controlar os filhos, porque estes só fazem o que querem e não o que lhes é solicitado e, em vez de estarem a cumprir as suas tarefas só estão presos à “netflix” (li um desabafo de uma mãe, que já estava farta, porque os filhos não faziam nada do que lhes dizia…); há quem esteja, sem conforto, no seu lar, preocupado com o que será e como será o dia que corre e os seguintes, porque ou não tem trabalho ou não terá ordenado ao fim do mês e não conseguirá sustentar-se e à sua família; há os que nem conforto nem lar têm ou terão…

Há, ainda, os que conseguem meditar, ler, restaurar, limpar, inventar e reinventar receitas culinárias, fazer passeios higiénicos e salutares, ver todas as séries e filmes que ainda não tinham conseguido ver e há, como sempre haverá, nestas e noutras situações, os que supostamente deveriam poder fazer tudo isto e não conseguem, porque o trabalho parece que triplicou, o tempo escasseou e o “falso” isolamento se transformou num labirinto, sem que se preveja a argúcia de um Dédalo que promova um voo salvífico.

Mas eu não acredito mesmo que o mundo vá mudar. Melhor, não acredito que nós mudemos. Temo, aliás, que o fosso entre os ricos e os pobres se acentue. Temo que, sob a justificação de se procurar o bem colectivo, cresçam ideias e ideais pouco humanistas que mais não fazem que acentuar o controlo e domínio, porque o medo e a insegurança que se vivem promovem essas versões humanas, económicas, sociais e políticas. Aliás, vem tudo na mesma versão, no mesmo pacote. E ninguém que viva com muitas dificuldades a todos os níveis tem disponibilidade ou conhecimento para participar, de forma consciente e com equidade, na construção de um mundo melhor.
O mundo continuará a ser o que tem sido. Melhor para uns. Igual para outros. Pior para muitos mais.

 

 

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