Fundamentalismo, um problema de conhecimento
Opinião » 2015-11-21 » Jorge Carreira Maia"Querem um mundo centrado na religião, onde toda a vida não seja outra coisa senão milícia para impor a palavra do Profeta. E é isto que, devido à sua estranheza, nós, ocidentais, não conseguimos perceber."
Como é que o Ocidente não se apercebeu da emergência do fundamentalismo islâmico? – pergunta-se. A resposta que me parece mais pertinente centra-se na incapacidade ocidental para, primeiro, identificar o fenómeno e, segundo, para o interpretar e compreender, depois de o ter identificado. Esta impotência cognitiva, levou o Ocidente não só a descurar o fenómeno como a tornar-se um dos seus principais potenciadores.
O Ocidente ficou prisioneiro de duas narrativas e ambas tinham em comum a incapacidade para lidar com uma visão do mundo pré-moderna. Em primeiro lugar, no Afeganistão, preso à narrativa da guerra fria, o Ocidente, para combater os soviéticos, aliou-se a toda espécie de gente. Nessa gente estava já presente o desejo de não apenas derrotar os soviéticos como de impor a dominação de uma interpretação radical do Islão. Isto, porém, não foi compreendido.
Com a queda do Muro de Berlim e o fim da guerra fria, o Ocidente, liderado pelos neo-conservadores americanos, ficou preso à narrativa da exportação da democracia e da economia de mercado para o Médio-Oriente. Para tal, com os resultados que todos conhecemos, não hesitou em invadir o Iraque e em aliar-se a grupos fundamentalistas que destabilizaram outros regimes políticos da zona.
Em Dezembro passado o New York Times publicava declarações de um comandante de Operações Especiais norte-americano que confessava não perceber o chamado Estado Islâmico. Os americanos não só não conseguiam derrotar a ideia por trás do movimento, como nem sequer conseguiam compreender a ideia.
Ora todas as alianças que o Ocidente fez com estes grupos – alianças movidas pela avidez económica, por ilusão ideológica e por motivos geoestratégicos – se fundamentaram nesta radical incompreensão. Onde o Ocidente via aliados estratégicos, estes olhavam para a aliança como uma forma de crescer para depois enfrentarem os próprios ocidentais.
Que ideia é aquela que está por detrás destes grupos? A ideia tem uma parte negativa e uma parte afirmativa. Negativamente, estes movimentos recusam, com a excepção da tecnologia, tudo o que vem do Ocidente. Recusam todos os valores nascidos com a modernidade: o papel do indivíduo, a igualdade entre homens e mulheres, a separação entre religião e política, a existência de liberdade política, religiosa, de expressão e de opções morais.
Afirmativamente, defendem a imposição de uma visão literal do Alcorão e das palavras de Maomé. Querem um mundo centrado na religião, onde toda a vida não seja outra coisa senão milícia para impor a palavra do Profeta. E é isto que, devido à sua estranheza, nós, ocidentais, não conseguimos perceber.
Fundamentalismo, um problema de conhecimento
Opinião » 2015-11-21 » Jorge Carreira MaiaQuerem um mundo centrado na religião, onde toda a vida não seja outra coisa senão milícia para impor a palavra do Profeta. E é isto que, devido à sua estranheza, nós, ocidentais, não conseguimos perceber.
Como é que o Ocidente não se apercebeu da emergência do fundamentalismo islâmico? – pergunta-se. A resposta que me parece mais pertinente centra-se na incapacidade ocidental para, primeiro, identificar o fenómeno e, segundo, para o interpretar e compreender, depois de o ter identificado. Esta impotência cognitiva, levou o Ocidente não só a descurar o fenómeno como a tornar-se um dos seus principais potenciadores.
O Ocidente ficou prisioneiro de duas narrativas e ambas tinham em comum a incapacidade para lidar com uma visão do mundo pré-moderna. Em primeiro lugar, no Afeganistão, preso à narrativa da guerra fria, o Ocidente, para combater os soviéticos, aliou-se a toda espécie de gente. Nessa gente estava já presente o desejo de não apenas derrotar os soviéticos como de impor a dominação de uma interpretação radical do Islão. Isto, porém, não foi compreendido.
Com a queda do Muro de Berlim e o fim da guerra fria, o Ocidente, liderado pelos neo-conservadores americanos, ficou preso à narrativa da exportação da democracia e da economia de mercado para o Médio-Oriente. Para tal, com os resultados que todos conhecemos, não hesitou em invadir o Iraque e em aliar-se a grupos fundamentalistas que destabilizaram outros regimes políticos da zona.
Em Dezembro passado o New York Times publicava declarações de um comandante de Operações Especiais norte-americano que confessava não perceber o chamado Estado Islâmico. Os americanos não só não conseguiam derrotar a ideia por trás do movimento, como nem sequer conseguiam compreender a ideia.
Ora todas as alianças que o Ocidente fez com estes grupos – alianças movidas pela avidez económica, por ilusão ideológica e por motivos geoestratégicos – se fundamentaram nesta radical incompreensão. Onde o Ocidente via aliados estratégicos, estes olhavam para a aliança como uma forma de crescer para depois enfrentarem os próprios ocidentais.
Que ideia é aquela que está por detrás destes grupos? A ideia tem uma parte negativa e uma parte afirmativa. Negativamente, estes movimentos recusam, com a excepção da tecnologia, tudo o que vem do Ocidente. Recusam todos os valores nascidos com a modernidade: o papel do indivíduo, a igualdade entre homens e mulheres, a separação entre religião e política, a existência de liberdade política, religiosa, de expressão e de opções morais.
Afirmativamente, defendem a imposição de uma visão literal do Alcorão e das palavras de Maomé. Querem um mundo centrado na religião, onde toda a vida não seja outra coisa senão milícia para impor a palavra do Profeta. E é isto que, devido à sua estranheza, nós, ocidentais, não conseguimos perceber.
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