O Sínodo e a quadratura do círculo
Opinião » 2014-10-16 » Jorge Carreira Maia
O conflito entre autonomia do indivíduo e autoridade religiosa acabou, nos países ocidentais onde a Igreja Católica possui influência, por conduzir a um afastamento entre os princípios doutrinais da Igreja e as práticas sociais e individuais das pessoas, incluindo as dos crentes. Este fenómeno foi potenciado por dois outros. O primeiro foi a transformação das narrativas bíblicas, de carácter simbólico e mítico, em narrativas históricas e o confronto dessa suposta verdade histórica com os dados das ciências. O segundo é o da separação entre o Estado e a Igreja com o fim da autoridade política desta. A autoridade social e moral, mas também espiritual da Igreja foi assim diminuindo até chegar à actual situação de vazio religioso. Neste momento, e esse parece ser o grande problema, esse vazio começa a ser preenchido, seja pela penetração do Islão, seja pelo advento e afirmação das seitas pentecostais.
A estratégia seguida pelo actual Papa tem a sua âncora na virtude da misericórdia. Misericórdia social, com a crítica à deriva ultraliberal da economia e o apelo a um mundo mais solidário, e misericórdia moral relativa às condutas ditas desordenadas no âmbito da sexualidade e das emergentes formas de família. O problema é se este apelo à misericórdia, ao perdão e à compreensão do outro, chegará para fazer a quadratura do círculo e conciliar tradição e modernidade, autoridade da Igreja e liberdade individual. A liberdade do indivíduo não necessita de misericórdia, precisa de ser completamente reconhecida em todas as suas dimensões, incluindo a da sexualidade. Reconhecida esta liberdade, talvez a Igreja possa perceber que o seu grande problema é de dimensão espiritual e não moral, é o de abrir caminhos, no mundo moderno, para que indivíduos livres e autónomos possam realizar a transformação do homem velho no homem novo, do velho Adão no novo Cristo, para utilizar a simbólica neotestamentária. Não foi para isto que foi criada? Ou terá sido para julgar a mulher adúltera?
www.kyrieeleison-jcm.blogspot.com
O Sínodo e a quadratura do círculo
Opinião » 2014-10-16 » Jorge Carreira MaiaO conflito entre autonomia do indivíduo e autoridade religiosa acabou, nos países ocidentais onde a Igreja Católica possui influência, por conduzir a um afastamento entre os princípios doutrinais da Igreja e as práticas sociais e individuais das pessoas, incluindo as dos crentes. Este fenómeno foi potenciado por dois outros. O primeiro foi a transformação das narrativas bíblicas, de carácter simbólico e mítico, em narrativas históricas e o confronto dessa suposta verdade histórica com os dados das ciências. O segundo é o da separação entre o Estado e a Igreja com o fim da autoridade política desta. A autoridade social e moral, mas também espiritual da Igreja foi assim diminuindo até chegar à actual situação de vazio religioso. Neste momento, e esse parece ser o grande problema, esse vazio começa a ser preenchido, seja pela penetração do Islão, seja pelo advento e afirmação das seitas pentecostais.
A estratégia seguida pelo actual Papa tem a sua âncora na virtude da misericórdia. Misericórdia social, com a crítica à deriva ultraliberal da economia e o apelo a um mundo mais solidário, e misericórdia moral relativa às condutas ditas desordenadas no âmbito da sexualidade e das emergentes formas de família. O problema é se este apelo à misericórdia, ao perdão e à compreensão do outro, chegará para fazer a quadratura do círculo e conciliar tradição e modernidade, autoridade da Igreja e liberdade individual. A liberdade do indivíduo não necessita de misericórdia, precisa de ser completamente reconhecida em todas as suas dimensões, incluindo a da sexualidade. Reconhecida esta liberdade, talvez a Igreja possa perceber que o seu grande problema é de dimensão espiritual e não moral, é o de abrir caminhos, no mundo moderno, para que indivíduos livres e autónomos possam realizar a transformação do homem velho no homem novo, do velho Adão no novo Cristo, para utilizar a simbólica neotestamentária. Não foi para isto que foi criada? Ou terá sido para julgar a mulher adúltera?
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O miúdo vai à frente » 2024-04-25 » Hélder Dias |
Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia » 2024-04-24 » Jorge Carreira Maia A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva. |
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
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