Ei-los que partem
Opinião » 2014-03-20 » Manuel Filipe
A recente polémica da ida de Fernando Tordo para o Brasil não trouxe nada de novo. Permitiu novo confronto entre esquerda e direita, sem que daí tenha saído qualquer benefício para o povo.
Saliente-se o seguinte: o grande sucesso da dupla Passos Coelho/Paulo Portas tem a ver com o aumento exponencial das exportações de… mão-de-obra. Os portugueses que emigram, novos e menos novos, fugindo à miséria que voltou a instalar-se no país, muito por opção política, constituem a grande e decisiva faceta deste período que promete ficar para a História. Emigra quem não tem trabalho, emigra quem não quer trabalhar de borla, emigra até quem diz que o país está melhor… E, contudo, o povo que fica continua a empobrecer, independentemente de se saber se o país está melhor ou pior.
Há um novo e mais implacável neo-conservadorismo por detrás de tudo isto. Os jovens que partem, filhos de uma classe média com aspirações e competências para singrar na vida, são estorvo e concorrência para uma classe instalada e ameaçada nos seus privilégios que se vê em perigo de passar para os filhos o status quo adquirido. É um establishment bastante heterogéneo, em todos os sentidos. Vai desde as famílias com tradição, até às que singraram após o 25 de Abril com a abertura social propulsionada pela democracia. E politicamente vai desde a direita profunda até uma esquerda coco chanel que sempre soube viver bem numa sociedade que geralmente critica. Para todos eles, num país em recessão, os privilégios sociais adquiridos ou naturais estão ameaçados se a liberdade de oportunidades se mantiver.
Por isso, há um coeficiente muito de grande de qualidade que se esvai do país. Há talentos que deveriam alavancar o nosso futuro, mas que são empurrados para os países amigos mais desenvolvidos que nos emprestam dinheiro. O juro humano que estamos a pagar não se traduz em dígitos de uma ou duas casas, mas na forma como estamos a delinear o amanhã. O futuro médico voltará a ser o filho do médico, se assim me faço entender. Porque são os privilégios sociais que, acima de tudo, constituem a grande herança que qualquer família deseja transmitir aos seus. E esse direito, outrora consagrado, está de volta.
Ei-los que partem
Opinião » 2014-03-20 » Manuel FilipeA recente polémica da ida de Fernando Tordo para o Brasil não trouxe nada de novo. Permitiu novo confronto entre esquerda e direita, sem que daí tenha saído qualquer benefício para o povo.
Saliente-se o seguinte: o grande sucesso da dupla Passos Coelho/Paulo Portas tem a ver com o aumento exponencial das exportações de… mão-de-obra. Os portugueses que emigram, novos e menos novos, fugindo à miséria que voltou a instalar-se no país, muito por opção política, constituem a grande e decisiva faceta deste período que promete ficar para a História. Emigra quem não tem trabalho, emigra quem não quer trabalhar de borla, emigra até quem diz que o país está melhor… E, contudo, o povo que fica continua a empobrecer, independentemente de se saber se o país está melhor ou pior.
Há um novo e mais implacável neo-conservadorismo por detrás de tudo isto. Os jovens que partem, filhos de uma classe média com aspirações e competências para singrar na vida, são estorvo e concorrência para uma classe instalada e ameaçada nos seus privilégios que se vê em perigo de passar para os filhos o status quo adquirido. É um establishment bastante heterogéneo, em todos os sentidos. Vai desde as famílias com tradição, até às que singraram após o 25 de Abril com a abertura social propulsionada pela democracia. E politicamente vai desde a direita profunda até uma esquerda coco chanel que sempre soube viver bem numa sociedade que geralmente critica. Para todos eles, num país em recessão, os privilégios sociais adquiridos ou naturais estão ameaçados se a liberdade de oportunidades se mantiver.
Por isso, há um coeficiente muito de grande de qualidade que se esvai do país. Há talentos que deveriam alavancar o nosso futuro, mas que são empurrados para os países amigos mais desenvolvidos que nos emprestam dinheiro. O juro humano que estamos a pagar não se traduz em dígitos de uma ou duas casas, mas na forma como estamos a delinear o amanhã. O futuro médico voltará a ser o filho do médico, se assim me faço entender. Porque são os privilégios sociais que, acima de tudo, constituem a grande herança que qualquer família deseja transmitir aos seus. E esse direito, outrora consagrado, está de volta.
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O miúdo vai à frente » 2024-04-25 » Hélder Dias |
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