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Anisocronias: como entendê-las?

Opinião  »  2016-02-17  »  Maria Augusta Torcato

"DO RIO E DAS MARGENS"

Procurei, não é que não soubesse, o significado da palavra “anisocronia” no dicionário. Isto porque de há algum tempo, quando vejo ou ouço algumas coisas ou pessoas, não me sai da cabeça que só parecem “anisocronias”. De tal modo a teimosia racional se operou que tive necessidade de desconstruir o próprio pensamento.

A anisocronia é um procedimento vulgarmente recorrente na narrativa e que corresponde a um desfasamento entre a duração do tempo narrativo e o tempo da história. As anisocronias são desencadeadas por processos como a pausa, a elipse e o sumário, favorecendo a economia da narrativa, ou então pelas digressões, suspendendo-se a progressão do tempo da história, através da ampliação do tempo do discurso.

De que modo, então, foi transposto, do mais fundo da minha consciência, este vocábulo e aplicado às pessoas e situações que vou vendo e ouvindo? Parece fácil. Há pessoas que, manifestamente, têm muita dificuldade em gerir e aceitar a sua temporalidade. Gostariam de se manter, perpetuamente, em lugares, leia-se cargos e funções, que, pela sua natureza, são transitórios. E é precisamente a transitoriedade desses cargos e funções que salvaguarda a sua importância e a sua eficácia bem como garante o sentido da sua existência. Por exemplo, quantos políticos não têm procurado estender o seu “domínio”, ao longo de anos e anos, de cargos em cargos, sem que tenham alvitrado, sequer, e promovido a renovação de pessoas por esses lugares, contribuindo para a inovação e a modernidade, além do enriquecimento de saberes e experiências com que cada pessoa pode contribuir? Veja-se, por exemplo, o caso de alguns que, tendo feito carreira política, na fase em que se deveriam afastar, pelos anos (de idade e de causa pública) que têm, insistem em manter-se, como se se considerassem o suprassumo e não houvesse mais ninguém capaz de tal desempenho. Veja-se o modo como destes, tantos deles acabam por terminar o seu percurso a sair por uma frincha tão estreitinha da parede, que põe em causa tudo o que são e fizeram. A imortalidade que eventualmente desejavam acabou por os condenar a uma morte política e social muito pouco dignificante para qualquer pessoa.

Diz-se que há um tempo para tudo. Saber esses tempos é que parece difícil e, mesmo quando se sabem, ainda é mais difícil ceder-se-lhes. O desafio faz parte da natureza humana, mas este desafio com o tempo é causa perdida e só os seres especiais, abnegados e sapientes poderão, alguma vez, vencer este desígnio temporal e vencem-no, não porque insistem em continuar, mas porque abdicam conscientemente disso. E é nessa abdicação que conquistam, a maior parte das vezes, a sua perenidade, porque conseguiram alimentar o respeito, o reconhecimento e a valorização da parte dos outros. É muitas vezes a forma de se manterem ativos, porque preservaram o altruísmo, que é a fonte do desenvolvimento e enriquecimento humanos e sociais. É a forma do “eu” individual se preservar, cultivando e valorizando o “nós”.

Creio que muito há a mudar. O mundo terá de mudar, porque o rumo que leva não conduzirá a bom porto. Creio até que não atingirá qualquer porto. Creio que todos nós já nos apercebemos disso. Creio que as relações na política também terão de mudar. Não poderão ser ditadas por teias e jogos de poder, em que se alimentam situações indesejáveis e incompreensíveis anos a fio, só porque há uma relação de nepotismo e conivência, em que mesmo que se pense não se diz, mesmo que se condene, não se assume ou se denuncia. As relações deverão ser ditadas por objetivos, por ideais, por projetos e todos estes têm, inegavelmente, de se substantivar no bem comum, na elevação da própria humanidade.

E entenda-se que a política não está presente apenas na vida pública, é inerente à atividade humana. Sempre que há interação, há política. Há política em casa, nos negócios, nas empresas, nas escolas, nos desportos. Em tudo. É claro que há políticas e políticas. E há políticos e políticos.

 

 

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