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O meu Ti Boino

Opinião  »  2018-08-09  »  Maria Augusta Torcato

"O meu Ti Boino foi-se. Hoje, depois de ter recebido a notícia, percebi que nunca soube qual era o seu verdadeiro nome"

O meu Ti Boino foi-se. Faltavam-lhe dois aninhos para chegar aos cem.

A notícia chegou hoje, nesta terça feira de julho, logo pela manhazinha, e eu, que nunca tenho tempo para retornar a casa, porque a nossa terra é e será sempre a nossa casa, mesmo que nela não tenhamos passado mais do que um oitavo dos anos que temos, lá vou amanhã, quarta feira, também de manhazinha, para o acompanhar à sua última morada. Afinal, há coisas que nos obrigam a rever o nosso calendário e agenda, pondo à frente aquilo que é importante. Ou talvez não. Talvez fossem outras coisas que agora me surgem que fossem mesmo importantes. Seriam, porventura, as visitas que eu deveria ter feito e não fiz. Seriam talvez as minhas disponibilidades para levar e acompanhar a minha mãe junto da irmã e do cunhado. Seriam os momentos em que contávamos uns aos outros como estávamos, o que fazíamos, trocávamos notícias, risos, histórias e, no fim, eu lá trazia sempre o frasco de mel habitual, meia dúzia de queijos de cabra, que foram sempre os melhores que alguma vez comi, uma abóbora grande e outros mimos que por lá sempre havia para nos reconfortar. E como o reconforto era tão bom e doce em toda aquela simplicidade! Tal como o calor da lareira sempre acesa.

O meu Ti Boino foi-se. Hoje, depois de ter recebido a notícia, percebi que nunca soube qual era o seu verdadeiro nome. Sei o sobrenome, Boino. O da minha tia é fácil de reconstituir, porque sabendo o primeiro, os restantes elementos que o compõem são iguais aos da minha mãe. Mas do meu tio nunca soube e nunca isso me preocupou nem condicionou a nossa relação. Era meu tio, por parte da minha tia, que, por sua vez, é minha tia por parte da minha mãe.

Amanhã lá vou. Comigo levo a minha mãe. Sinto, apesar de ela não me dizer, que pensa que “estas visitas” estão a começar a acontecer mais vezes do que aquilo que ela gostaria. E eu também. Sinto também, apesar de não me dizer, que se sente empurrada pelo tempo e pela doença. E, mesmo que queira fazer finca pé, parece não estar a conseguir controlar o jogo. E ela sempre foi uma vencedora. Basta ser uma sobrevivente para ser uma vencedora. E, por isso, muitas vezes, escasseiam as palavras entre nós acerca destas coisas, porque nos bastam os olhares. Eles dizem tudo. E dizem tudo o que, às vezes, não queremos ouvir...ou ver.

Ultimanente, tenho andado com os nervos à flor da pele, como se diz. As lágrimas que antes tanto custavam a sair, não por falta de sensibilidade, mas por força e coragem, agora brotam com muita facilidade. A força e a coragem mantêm-se. Fazem parte do adn e o quotidiano da vida exigem-no. E eu aprendi a não abdicar. Mas há momentos em que parece que tudo se desbarata, nada se mantém e nós damos conta (não é que não saibamos, vamo-nos enganando a nós próprios) da quebra das raizes que nos prendem e dos ramos que nos suportam e da nossa própria efemeridade. Para mim, e no que a mim própria me diz respeito, parece que não tem qualquer importância, mas o que tenho mesmo é um medo terrível da perda daqueles que, não sendo nós, são a razão de nós sermos. É o que eu sinto. Por isso, porque a “coragem não se mede pela força, mas pelo medo que vem nela”, acho que somos todos muito corajosos.

O meu Ti Boino foi-se. Os anos quebraram a sua disciplina, quer na relação com os outros, quer na força e exigência do trabalho. Ele e a minha tia trabalharam sempre tanto! Pode ser que agora possam ambos descansar. De forma diferente, é claro! Mas só quem vive uma relação de e entre cuidado e cuidador pode entender.
Tio, não chegou aos cem anos, mas eu lembrar-me-ei da promessa que nos tinha feito: faria uma grande festa e todos nos juntaríamos aí na aldeia, vindos dos quatros cantos do mundo, independentemente do tamanho do mundo de cada um de nós. Fá-la-emos um dia. Há de ser um dia! Um dia...

 

 

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