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Da guerra e da água - carlos paiva

Opinião  »  2022-03-08 

" “Em guerra não existe ética em lado nenhum e somos dependentes do resto do mundo para quase tudo."

O meu avô materno, no desempenho das suas funções profissionais, foi uma única vez na sua vida a Torres Novas. Jurou nunca mais voltar. “Então porquê, avô?” Perguntava eu, que ouvia as histórias de outros tempos contadas por ele e pela minha avó com toda a atenção quando ia passar o verão lá a casa. “Porque em Torres Novas tinha de pagar para os clientes ficarem com os meus produtos! Disse ao meu chefe que nunca mais lá voltava! E assim fiz.” Isto aconteceu algures pela década de 1930. Pouco tempo depois, veio a guerra. O senhor que mandava nisto disse que nos livrava da guerra, mas não da fome. Numa altura em que a agricultura de subsistência era a principal actividade no país, prometer (mais) fome, foi de líder.

De facto, o lucro do negócio não reside na venda. Reside na compra. Daí, esfolar o fornecedor, ser condição obrigatória para fazer bons negócios. O conceito de “um bom negócio é um negócio onde todas as partes ficam satisfeitas”, não estava presente. Noventa anos depois, ainda não está. Mas a guerra está. Outra vez. Se é que alguma vez cessou.

Para um país que depende das importações para praticamente tudo, excepto rolos de papel higiénico, impor limitações à importação de bens oriundos da Rússia como medida de retaliação à invasão da Ucrânia, traduz-se na dificuldade em encontrar vodka e caviar nas prateleiras do supermercado. Bens de primeira necessidade. A população tem razão para estar preocupada. Hoje, mesmo que quiséssemos, a agricultura de subsistência não nos iria safar. O alcatrão, o cimento, o eucalipto, a poluição, a Monsanto/Bayer, a escassez de água, levaram praticamente à extinção toda a produção agrícola que não seja feita por métodos intensivos artificiais. Dependemos do resto do mundo para quase tudo. Excepto para limpar o cú. Numa realidade destas, uma guerra é preocupante: para além dos horrores e dramas das vítimas diretas, tem implicações globais. Não é um espectáculo de entretenimento televisivo inconsequente, longe da nossa casa com actores anónimos.

A ilustrar a escassez da água: a malta do festival da lampreia queixa-se de que não há lampreia. Porque o rio Tejo vai com o caudal de um ribeirinho e demasiado poluído. No entanto, afirmam que o festival se irá manter, nem que tenha de ser com lampreia importada de França. Que modelo vai ser adoptado para o negócio da lampreia? Aquele onde todas as partes ficam satisfeitas, ou o outro. Aquele que implica esfolar alguém? A necessidade não se compadece com negócios éticos. Se precisas mesmo, é vital, não há volta a dar… Vais ser esfolado por quem vende o que precisas. As condições dos negócios são dinâmicas, voláteis por vezes, directamente relacionadas com a necessidade, com a dependência. Em guerra não existe ética em lado nenhum e como escrevi atrás, somos dependentes do resto do mundo para quase tudo. Vamos ser (mais) esfolados. Mas de cú limpinho. É preferível ter o rabiosque limpo com papel da Renova do que usar o bidé. Desperdício de água fica muito mal visto à data de hoje. End-to-end, ou seja, no processo completo, desde o cultivo do eucalipto à folha de papel duplo, azul-bebé, com aroma a alfazema, quantos litros de água são consumidos? Mais que no bidé? Pois…

O desprezo ou incapacidade ou incompetência, venha o diabo e escolha, que a Câmara Municipal tem dado continuadamente à gestão dos recursos hídricos, tanto no tema Renova/Rio Almonda, como no tema Fabrióleo/Ribeira da Boa Água (irónico não?) e lençóis freáticos, a manter-se o cenário de guerra global que se perfila no horizonte, virá a julgamento de forma natural e bem mais rápido do que se possa pensar. Quando a necessidade, vital, sem volta a dar, nos bater à porta, veremos se o vendedor de água potável tem vontade de regressar a Torres Novas para fazer negócio. E em que moldes.

 

 

 

 

 

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