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Matriz

Opinião  »  2010-07-30  »  Né Ladeiras

Há tempo para uma história, num tempo que limpa todas as marcas. Séculos de encontros, vastidões intermináveis, ainda ao meu alcance e possíveis. Tão possíveis como a migração das aves que partem para o desconhecido. Se não adormeceres, juro que canto todo o desencanto preso às asas indomáveis, mesmo que não saiba a letra de cor. Serei tão ousada e leve que não vais sentir o meu peso na tua memória. E na minha ficará guardado para sempre o teu sono esquecido. Se me olhares e não reconheceres o fogo e os gestos dos pequenos lugares, se não te lembrares do trevo e do rio presentes, do perfume do linho que vestiu o fim, se olhares de longe e adormeceres, mesmo assim, regressarei à verdade que não conto a ninguém. As dúvidas e perplexidades que se colam à pele são como panteras que se preparam para descer da nuvem mais alta. Diante da poesia com os seus sortilégios imponderáveis atiram-se de uma altura vertiginosa, apenas a recordação, asas de várias manhãs. Atravessam sinais incandescentes até chegar, com alguma probabilidade, a planícies muito brancas e intermináveis ou, simplesmente, a qualquer sítio que sirva para encontrar o teu cabelo sobre a túnica. Uma trança longa e ruiva, debruçada num trono de cristal onde o ritual se transforma na conjugação da lua com o mistério, que ainda prevalece, então como agora. Por dentro da alma das árvores braços e segredos perfeitos preparam-se para nascer. Todos os mistérios perdidos e remotos adquirem a tua forma. O mundo tem que fazer um outro mundo mais inventado do que está pela palavra. É preciso não esquecer o abraço que, depois de tudo, leva a dor. No meu disfarce temporal peço o sono de outras vezes celebradas, mesmo sabendo ao início de deserto, para transformar estes dias perdidos e achados. Não quero que me ofereças sombra, saberei construir as necessárias para me resguardar e logo as abandonar em qualquer rota de areia e dunas. Basta-me que apontes uma nuvem, confiar-lhe-ei as minhas memórias feitas pássaros de paz, que voarão para ti até se perderem no limite de qualquer olhar. Então como agora. A lentidão junto ao rio dos juncos, vestígios de sonhos que não se contam a ninguém, tudo no azul, do mais azul da lua em todas as suas fases, sagrou-se destino e ficou escrito. O seu gesto em repouso, pura forma revestida de pele, dimensão real e tangente por dentro do ritual que se sabia secreto e sagrado. Procurei-lhe um sentido e cantei por tudo e por nada, mesmo de boca fechada, a herança deixada na areia há setecentos e oitenta anos. Veio outra manhã contígua à matriz que extravasou noites e dias. Voltei a ser cedo em mim e a servir o propósito deste percurso inevitável e isolado. Encontro-me no contacto translúcido e transparente, quase um mito, nas mãos que me acolhem, na nuvem mais alta de onde se atiram panteras e pássaros e poesia e sonhos e desertos vigilantes. Talvez uma distracção propositada, talvez a história já limpa de todas as marcas, talvez a maré lavada de vestígios do que foi agora. No centro do Grande Círculo eu, construtora de pontes sobre planetas destroçados, sagro distâncias entre a magnífica existência dos teus passos e o caminho em que eles se desfazem lentamente. Guardo-te e oculto-me em frases. Amo as visões que os poetas despertam na luz do meio-dia, esplendor desvelado no fundo dos olhos. Acredito na tua alma antiga, luz de uma longa noite que voltou a ser ternura em mim. Já não dói ter-me perdido entre o tempo e as raízes. As cidades em contraluz precisaram deste silêncio para que o mundo enchesse as minhas mãos de sacrifícios e empurrasse as sombras para lá da eternidade. Há um momento em que apareces e os Príncipes Arcturianos cantam. Depois partes em direcção às constelações etéreas sem olhar para trás. Eu fico com a claridade que é a coisa mais difícil de encontrar e deixo-me atrair para outra existência.

Música: Sanvean, Dead Can Dance (Toward the Within 1994)

 

 

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