• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Segunda, 29 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Qui.
 17° / 8°
Períodos nublados com chuva fraca
Qua.
 16° / 8°
Períodos nublados com chuva fraca
Ter.
 19° / 10°
Céu nublado com chuva fraca
Torres Novas
Hoje  19° / 10°
Céu nublado
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Mandala

Opinião  »  2010-07-01  »  Né Ladeiras

Antes de olhar para o minarete de Cairuão lavou as mãos e o rosto, limpou-se de tudo o que impede e enluta o espírito, a dor vazia, o corpo no vácuo, o engano torrencial, a precariedade inesperada, a culpa do tamanho deste mar. A água regressa ao início da escrita, a vida no limiar, a alma como um mastro de certeza, que se oferece para colher o sabor. Deixa de ser embrionária e imatura. Emerge das ondas do medo e da renúncia. O amor e a morte são transparentes, translúcidos, uma certeza luminosa.

Ouve a primeira chamada do almuadem no primeiro pôr-do-sol. Deixa-se abraçar na paisagem meditativa, entrega-se à cor das ideias e permite que as imagens fluam. Há substâncias que preenchem a expressão pura da realidade sem fendas, que percorrem mundos num bailado sem nunca poisar os pés no chão.

Ouve a segunda chamada do almuadem no caminho do pôr-do-sol. Intui a construção de uma forma de paz, de perdão, de conhecimento e de serenidade num exercício criativo e sagrado. Todas as coisas que fazem o indizível mostram-lhe uma floresta irreconhecível por onde entra sem perder o rumo. Mesmo que acorde em silêncio.

Ouve a segunda chamada do almuadem na subida ao pôr-do-sol. Cria os símbolos da geometria sagrada que se combinam em quadrados de luz, triângulos de força, alegrias florescentes e estrelas iluminadas, porque nada chega por acaso e há muitas destas coisas deixadas como velas acesas. Também, na brancura do papel, sinais de uma língua até agora desconhecida, traduzem pensamentos de fogo em vários capítulos do livro. Suspende-se nos braços da montanha e flutua no recorte do seu perfil. Vê claramente o olhar violeta que a aguardou durante tanto tempo.

Ouve a terceira chamada do almuadem no interior do pôr-do-sol. Está no ponto central, no elemento primordial que não é deste mundo fora e longe de qualquer matéria conhecida. Sente a força esférica que separa o espaço sagrado interior do arruamento profano. Nessa âncora circular desenha todas as ligações simbólicas a cor. Fica a saber que é na hora certa que se nasce, que é sempre a tempo que se morre. Que às árvores lhe são oferecidos os ramos onde poisam as aves e lhe colhem os frutos.

Ouve a quarta chamada do almuadem na revelação do pôr-do-sol e trabalha-a girando as formas de todos os ângulos. Aprende a usar o sentido de equilíbrio até encontrar a sua orientação que tem um título. Não há fim nem princípio e o aroma da rosa gravada no peito não se esgota. As estrelas estão para nós e irradiam todos os encontros anteriores e próximos.

Ouve a quinta chamada do almuadem na fusão com o pôr-do-sol. Assinala a data. É uma referência futura porque irá pintar muitas mais, ao longo de uma vida inteira, quer através de naves de seda azuladas quer sob as asas lunares de cristal puro. A luz aproxima-se e enche o horizonte como um mar sobre as mágoas do passado.

Não há mandalas certas ou erradas, simplesmente cumprem a sua função por serem criadas na nudez do espaço que elegemos e porque deixámos algures as vestes que não nos pertencem. Caminhamos para onde a vida é uma promessa. Não há formas impossíveis, simplesmente devolvem a expressão com que as criámos, umas meditativas e sentimentais, outras desejadas e protectoras. Entramos na imortalidade da entrega incondicional. Não há enigmas côncavos onde a vidência se fixa, simplesmente um anjo fascinante depura a passagem para o outro lado. Voltamos a casa depois de tanto.

As mandalas podem ser feitas com argila, pedras, tintas, lápis, flores, areia, madeira, metal, conchas, tecidos, tudo o que faz ser a voz do almuadem.
 

Música: Procissão, António Emiliano (Gahvoreh 1988)

 

 

 Outras notícias - Opinião


O miúdo vai à frente »  2024-04-25  »  Hélder Dias

Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia »  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia

A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva.
(ler mais...)


Caminho de Abril - maria augusta torcato »  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato

Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável.
(ler mais...)


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias
 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato Caminho de Abril - maria augusta torcato
»  2024-04-25  »  Hélder Dias O miúdo vai à frente
»  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia