No reino dos invertebrados
Opinião » 2009-01-08 » Santana-Maia Leonardo
1. Como todos os deputados não podiam deixar de saber, o Estatuto dos Açores continha normas manifestamente inconstitucionais. Ou melhor, escandalosamente inconstitucionais, uma vez que alteram equilíbrios fundamentais de poderes e competências dos órgãos de soberania. Isso não impediu, no entanto, os deputados de aprovarem o Estatuto sem o expurgarem das referidas normas.
Deixemos o Estatuto de lado, porque não é o Estatuto em si que está aqui em causa. O que está aqui em causa é apenas o facto de os deputados terem sido capazes de aprovar um diploma que sabem que contém normas inconstitucionais. Não é que isto seja novidade para ninguém. Aliás, apenas vem confirmar aquilo que o povo diz à boca cheia: que, para defenderem os seus tachos, os deputados até são capazes de vender a própria mãe, quanto mais atirar às malvas a Constituição que juraram cumprir.
E, infelizmente, é esta gente que representa a nata dos nossos partidos políticos. Gente que veio das jotas e das câmaras e que depois vai para o Governo, para as direcções gerais e regionais, para as empresas públicas e para os bancos e etc. etc. etc…. Ora, com gente desta, que coloca os interesses partidários e pessoais acima da sua consciência e dos interesses nacionais, não se pode esperar outra coisa que não seja o saque e a pilhagem.
E quando esta gente me vem falar na dignificação dos cargos políticos até me dá a volta ao estômago… Porque, para esta gente, a dignificação dos cargos políticos significa sempre maior remuneração, como se a sua consciência estivesse indexada ao aumento do vencimento ou esse aumento os fizesse abrir mão do seu lugar no hemiciclo.
Com esta gente que não larga o tacho nem que os matem, só vejo uma única medida verdadeiramente reformadora do nosso sistema polític a abolição do regime de faltas dos deputados e a imposição de pesadas sanções a todos aqueles que se atreverem a pôr o pé no Parlamento. Se não têm mais nada para fazer, vão fazer trabalho político para os futebóis, festas e arraiais. Mas, por favor, respeitem a Assembleia da República. Não ponham lá os pés.
2. Temos, pela primeira vez, um Orçamento de Estado rectificativo antes de publicado o rectificado, sendo evidente para toda a gente não só que o défice vai ultrapassar os 3% como também que as receitas fiscais não atingirão o valor orçamentado.
Quem ouve falar o nosso primeiro-ministro não pode deixar de se lembrar da máxima de Humphrey, na célebre série cómica inglesa ”Sim, Senhor Primeiro-Ministro”: «Nunca se deve acreditar em nada enquanto não for desmentido oficialmente».
E verdade se diga, nunca houve um primeiro-ministro que se assemelhasse tanto ao seu congénere desta série inglesa como o nosso José Sócrates. Com uma ligeira diferença: enquanto o primeiro-ministro da série pretendia ser a caricatura de um primeiro-ministro a sério, José Sócrates é a apenas a caricatura perfeita do primeiro-ministro da série. A tal ponto que eu, que me divertia imenso sempre que revia aquela série, passei agora a achar o primeiro-ministro da série um político extremamente sério, sensato e competente, tendo em conta o actual termo de comparação.
Como se vê pelos cartazes das manifestações, a maioria dos portugueses está convencida de que o primeiro-ministro é mentiroso. Eu não partilho desta opinião. O nosso primeiro-ministro tem é uma maneira muito própria de contar a verdade aos portugueses. Gosta de nos contar a verdade do avesso. Por exemplo, em vez de dizer que vai subir os impostos, diz o contrário, sendo certo que toda a gente sabe que o que ele quer dizer é precisamente o contrário do que disse. Ora, isto não é mentir, porque mentir pressupõe a intenção de enganar. E, neste caso, uma pessoa só seria enganada se o primeiro-ministro fizesse precisamente aquilo que diz. Como isso nunca sucede, ninguém pode afirmar, em boa verdade, que José Sócrates lhe mentiu.
http://sol.sapo.pt/blogs/contracorrente
No reino dos invertebrados
Opinião » 2009-01-08 » Santana-Maia Leonardo1. Como todos os deputados não podiam deixar de saber, o Estatuto dos Açores continha normas manifestamente inconstitucionais. Ou melhor, escandalosamente inconstitucionais, uma vez que alteram equilíbrios fundamentais de poderes e competências dos órgãos de soberania. Isso não impediu, no entanto, os deputados de aprovarem o Estatuto sem o expurgarem das referidas normas.
Deixemos o Estatuto de lado, porque não é o Estatuto em si que está aqui em causa. O que está aqui em causa é apenas o facto de os deputados terem sido capazes de aprovar um diploma que sabem que contém normas inconstitucionais. Não é que isto seja novidade para ninguém. Aliás, apenas vem confirmar aquilo que o povo diz à boca cheia: que, para defenderem os seus tachos, os deputados até são capazes de vender a própria mãe, quanto mais atirar às malvas a Constituição que juraram cumprir.
E, infelizmente, é esta gente que representa a nata dos nossos partidos políticos. Gente que veio das jotas e das câmaras e que depois vai para o Governo, para as direcções gerais e regionais, para as empresas públicas e para os bancos e etc. etc. etc…. Ora, com gente desta, que coloca os interesses partidários e pessoais acima da sua consciência e dos interesses nacionais, não se pode esperar outra coisa que não seja o saque e a pilhagem.
E quando esta gente me vem falar na dignificação dos cargos políticos até me dá a volta ao estômago… Porque, para esta gente, a dignificação dos cargos políticos significa sempre maior remuneração, como se a sua consciência estivesse indexada ao aumento do vencimento ou esse aumento os fizesse abrir mão do seu lugar no hemiciclo.
Com esta gente que não larga o tacho nem que os matem, só vejo uma única medida verdadeiramente reformadora do nosso sistema polític a abolição do regime de faltas dos deputados e a imposição de pesadas sanções a todos aqueles que se atreverem a pôr o pé no Parlamento. Se não têm mais nada para fazer, vão fazer trabalho político para os futebóis, festas e arraiais. Mas, por favor, respeitem a Assembleia da República. Não ponham lá os pés.
2. Temos, pela primeira vez, um Orçamento de Estado rectificativo antes de publicado o rectificado, sendo evidente para toda a gente não só que o défice vai ultrapassar os 3% como também que as receitas fiscais não atingirão o valor orçamentado.
Quem ouve falar o nosso primeiro-ministro não pode deixar de se lembrar da máxima de Humphrey, na célebre série cómica inglesa ”Sim, Senhor Primeiro-Ministro”: «Nunca se deve acreditar em nada enquanto não for desmentido oficialmente».
E verdade se diga, nunca houve um primeiro-ministro que se assemelhasse tanto ao seu congénere desta série inglesa como o nosso José Sócrates. Com uma ligeira diferença: enquanto o primeiro-ministro da série pretendia ser a caricatura de um primeiro-ministro a sério, José Sócrates é a apenas a caricatura perfeita do primeiro-ministro da série. A tal ponto que eu, que me divertia imenso sempre que revia aquela série, passei agora a achar o primeiro-ministro da série um político extremamente sério, sensato e competente, tendo em conta o actual termo de comparação.
Como se vê pelos cartazes das manifestações, a maioria dos portugueses está convencida de que o primeiro-ministro é mentiroso. Eu não partilho desta opinião. O nosso primeiro-ministro tem é uma maneira muito própria de contar a verdade aos portugueses. Gosta de nos contar a verdade do avesso. Por exemplo, em vez de dizer que vai subir os impostos, diz o contrário, sendo certo que toda a gente sabe que o que ele quer dizer é precisamente o contrário do que disse. Ora, isto não é mentir, porque mentir pressupõe a intenção de enganar. E, neste caso, uma pessoa só seria enganada se o primeiro-ministro fizesse precisamente aquilo que diz. Como isso nunca sucede, ninguém pode afirmar, em boa verdade, que José Sócrates lhe mentiu.
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