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Os meus próprios passos

Opinião  »  2008-12-24  »  Eduarda Gameiro

José Régio, em pinceladas de poesia que refrescam a alma, afirma, no seu poema ”Cantico Negro”, que ”Se vim ao mundo foi para desbravar florestas virgens e desenhar os meus pés na areia inexplorada. O mais que faço não vale nada”. Essa ideia, bem como todas as outras ideias que, através de algum olhar desiludido ou de alguma mão irreverente, rasgam sulcos na terra dos Homens, desvaneceram ontem, temporariamente, sob um manto branco de virginal pureza.

Os flocos de neve que cobriram ontem a serra do Marão carregavam, ainda, o brilho de curiosidade e espanto das crianças que, há décadas viram pela primeira vez aquele milagre da natureza transfigurar o mundo. Esse mesmo brilho raiava de lágrimas os olhares sábios e experientes dos agora anciães da aldeia, que sonhavam, doce e ingenuamente, que o degelo derreteria também as camadas de tempo que recobrem a sepultura do mundo da sua infância, e que regressariam a este Marão as pedras imóveis e as árvores gigantes do passado, pacientes e eternas companheiras que os viram crescer.

Cada poema, cada ideia, cada brilho de mente que nos agita acaba por, a certa altura, se desvanecer nas mãos húmidas e vivas da rotina que se molda a nossa volta, adaptando-se à melhor maneira de nos recolocar na sonolência típica e necessária da tranquilidade urbana.

Épocas vão-se depositando sobre épocas e, enquanto isso acontece, o mundo muda. E vê-lo assim, virgem e coberto de neve, como que pronto para um recomeço, lembra-me que nos cabe a nós, então, rasgar, a partir da nossa alma, novos sulcos na terra, redesenhar a nossa presença, plantar as nossas sementes neste chão recém-inexplorado, sempre, intensamente, e de novo a cada nevão, de milhares de maneiras diferentes, tantas quanto as diversas expressões possíveis (e impossíveis) para as nossas consciências.

Hoje, aquela neve que cobriu o Marão já derreteu, levando consigo a forma exagerada dos meus pés. Porém, naquele momento, naquele instante em que modelei um bloco do mundo, senti-me verdadeiramente eterno, livre e renascido… A minha pegada não é nada, não significa nada, mas, nesse chão transitoriamente branco, foi uma mudança, algo de novo e refrescante, da minha alma para o mundo e, consequentemente, uma ideia.

O mundo da infância dos anciães da aldeia está soterrado sobre vários sedimentos de tempo e de rotinas. A própria ideia de José Régio, o amor por desbravar o desconhecido e virginal vai-se afundando periodicamente sobre essas mesmas camadas de neve, desconhecidas e virginais, limites desbraváveis entre a nossa alma e o universo. E viver é aproveitar estas oportunidades, estes recomeços brancos, para tocar no íntimo do mundo, e para o compreender.

Ontem, a fronteira entre mim e o resto resumiu-se a uma pegada. Ontem e sempre, vivemos para desbravar essa fronteira, e o mais que fazemos não vale nada…

 

 

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