Sobre o Leste, nada de novo
Opinião » 2008-08-21 » João Lérias
Mas, nos últimos anos, as regras foram alteradas em benefício exclusivo dos EUA e seus aliados, em detrimento, ainda mais declarado, do Direito Internacional. Recentemente assistimos à independência do Kosovo, que não mais é que uma região sérvia, onde a instalação sucessiva de vagas de imigrantes albaneses, tornou esta nacionalidade maioritária. Acontece que a mesma já têm um Estado, constituindo este acto, um atentado à estabilidade de todo o globo. Em jeito de caricatura, imaginemos o que seria a ambição dos portugueses da área metropolitana de Paris ou de New Jersey, reivindicarem a criação de um estado independente, assente na proporção demográfica…
Mais flagrantes ainda, as invectivas contra a unidade territorial da Bolívia, onde se tentou promover a secessão de algumas províncias – com o apoio declarado das agências de informação americanas – cujos governadores afirmam contribuírem assimetricamente para o PIB nacional. Menos explícita, mas igualmente servindo de argumento, a diferença racista, uma vez que os brancos e mestiços são maioritários face aos indígenas. Imaginemos novamente as consequências da generalização deste tipo de soluções e, no caso português, tornar-se-ia legítima a independência do Algarve.
Neste contexto causa alguma indignação o comportamento da esmagadora maioria dos jornalistas portugueses na cobertura da recente erupção bélica no Cáucaso, onde a postura anti – Rússia foi, declarada ou implicitamente, veiculada, em contraponto à atabalhoada informação que foi fornecida nos dois casos anteriores, em que o cidadão comum nem chegou a perceber o que ocorreu de facto, aturdido pelos chavões descontextualizados sobre a ”limpeza étnica” ou ”repressão da oposição”.
Para que não restem dúvidas sobre o meu posicionamento, creio sinceramente que a invasão de outro país, sem o beneplácito das Nações Unidas, deveria ser sempre acção unanimemente condenada pela comunidade internacional. Mas existirão diferenças entre a entrada das tropas de Putin na Geórgia e os bombardeamentos da Nato na ex-Jugoslávia? Existem, de facto. Mas servem de argumento aos eslavos. Os ossetas não têm um país e a sua etno-génese demonstra que são uma entidade cultural autónoma desde os movimentos migratórios das estepes asiáticas em direcção à Europa, vai para 2500 anos enquanto os albaneses do Kosovo já tinham pátria.
Assim, os nossos jornalistas ou estão a alinhar conscientemente com os interesses americanos e dos seus aliados, ou vão confiando acriticamente nas notícias veiculadas pelas agências de informação que estes apadrinham. Na pior das hipóteses estão a calcar toda a deontologia que devia reger o seu ofício. Na melhor, estão a ser preguiçosos…
Sobre o Leste, nada de novo
Opinião » 2008-08-21 » João LériasMas, nos últimos anos, as regras foram alteradas em benefício exclusivo dos EUA e seus aliados, em detrimento, ainda mais declarado, do Direito Internacional. Recentemente assistimos à independência do Kosovo, que não mais é que uma região sérvia, onde a instalação sucessiva de vagas de imigrantes albaneses, tornou esta nacionalidade maioritária. Acontece que a mesma já têm um Estado, constituindo este acto, um atentado à estabilidade de todo o globo. Em jeito de caricatura, imaginemos o que seria a ambição dos portugueses da área metropolitana de Paris ou de New Jersey, reivindicarem a criação de um estado independente, assente na proporção demográfica…
Mais flagrantes ainda, as invectivas contra a unidade territorial da Bolívia, onde se tentou promover a secessão de algumas províncias – com o apoio declarado das agências de informação americanas – cujos governadores afirmam contribuírem assimetricamente para o PIB nacional. Menos explícita, mas igualmente servindo de argumento, a diferença racista, uma vez que os brancos e mestiços são maioritários face aos indígenas. Imaginemos novamente as consequências da generalização deste tipo de soluções e, no caso português, tornar-se-ia legítima a independência do Algarve.
Neste contexto causa alguma indignação o comportamento da esmagadora maioria dos jornalistas portugueses na cobertura da recente erupção bélica no Cáucaso, onde a postura anti – Rússia foi, declarada ou implicitamente, veiculada, em contraponto à atabalhoada informação que foi fornecida nos dois casos anteriores, em que o cidadão comum nem chegou a perceber o que ocorreu de facto, aturdido pelos chavões descontextualizados sobre a ”limpeza étnica” ou ”repressão da oposição”.
Para que não restem dúvidas sobre o meu posicionamento, creio sinceramente que a invasão de outro país, sem o beneplácito das Nações Unidas, deveria ser sempre acção unanimemente condenada pela comunidade internacional. Mas existirão diferenças entre a entrada das tropas de Putin na Geórgia e os bombardeamentos da Nato na ex-Jugoslávia? Existem, de facto. Mas servem de argumento aos eslavos. Os ossetas não têm um país e a sua etno-génese demonstra que são uma entidade cultural autónoma desde os movimentos migratórios das estepes asiáticas em direcção à Europa, vai para 2500 anos enquanto os albaneses do Kosovo já tinham pátria.
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