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A BOLA – DE DEUS E DA TERRA - josé mota pereira

Opinião  »  2020-12-06  »  José Mota Pereira

"São tristes, estas alegrias efémeras da sociedade egocêntrica a que chegámos"

1. DEUS

Nasceu destinado à genialidade pelos campos de futebol do planeta. A certidão de nascimento, nomeou-o Diego Armando Maradona, sul-americano da Argentina. Partiu para a imortalidade poucos dias depois de cumprir 60 anos de vida.
O coração do pequeno génio parou, disseram os jornais.
E nós revimos as imagens todas, as fintas, os golos, um pé esquerdo único.

Recordámos, entretanto, a sua outra dimensão que fez dele mais que um artista com a bola nos pés. Porque na vida foi o anti-herói, artista único e rebelde, original, único e distinto, que contrariou todas as convenções, regras e modelos estabelecidos. Aquelas regras a que a vida dos heróis de plasticina de hoje se tem que submeter.
Este Armando foi o génio da bola que, jogando pela sua pátria, desafiou os generais e lembrou os homens desaparecidos que as mães choravam na Praça de Maio. Este Diego jogou na Catalunha e na Andaluzia, sabendo nunca poderia ter jogado no clube Real do Império Castelhano. Este foi o Diego que correu pelo campo e fintando meia equipa equipa inglesa, vingou as Malvinas. Este foi o Diego que escolheu jogar em Nápoles, a pobre cidade do sul da esquecida Itália, contra o poder financeiro do norte da Lombardia. Este foi Diego que escolheu apoiar Cuba, a Venezuela, a Bolivia, contra a ingerência e os bloqueios imperiais da América do Norte. Nos relvados e sobretudo fora deles, assumiu que esteve sempre do lado da gente mais pobre e mais fraca, aqueles a quem os poderes sempre olham de cima para baixo.
Diego Armando Maradona, mais que um campeão de taças, troféus e recordes foi, campeão da alegria e do abraço fraterno dos povos nas ruas nas celebrando vitórias improváveis.
Na minha rua, aqui no Babalhau, Torres Novas, há um cão quase vadio, que também corre livre pelas ruas do bairro. Sem eira nem beira, rebelde, campeão de finta fácil, rápido e lesto, ninguém o segura. Talvez por isso alguém, para registo legal no chip que transporta, o tenha baptizado de Maradona. Como há 60 anos, na Argentina, fizeram ao Diego Armando. O melhor de todos, de sempre, indomável como o Maradona sem dono nem regras que corre na minha rua. O futebolista que tendo um dia pedido emprestada a mão a Deus, em Deus se transformou, porque com a bola nos ofereceu muito mais que futebol.

2. DA TERRA

No fim de semana anterior à partida do astro argentino, O FC Porto jogou para a Taça de Portugal no Barreiro com uma equipa chamada Fabril. Ora, o tal pequeno clube Fabril, não é mais que o herdeiro do mítico clube formado pela CUF, depois Quimigal, o império industrial que a História varreu. A desindustrialização massiva do país, no decorrer dos anos 1980, não conduziu apenas a mudanças na estrutura económica do país, à sua terciarização e crescente dependência ao exterior, mas trouxe também profundas transformações nas dinâmicas associativas e nos movimentos colectivos construídos na base das fábricas e das classes operárias. Tais mudanças vieram também ao desporto e ao futebol. A geografia do futebol, hoje, está radicalmente transformada, com a cintura industrial de Lisboa praticamente desaparecida - onde estão o Oriental, o Atlético, a CUF - Quimigal, o Barreirense, o Almada, o Amora e agora, até, o Vitória de Setúbal? O mesmo se poderia dizer de outros tantos clubes do norte industrial, que desapareceram do mapa futebolístico.
Na nossa região, as mudanças sociais também se reflectiram no associativismo desportivo ligado ao futebol. Clubes com origens operárias, como por exemplo o GD Matrena, o Tramagal, o Moreirense de Vila Moreira, o Ferroviários do Entroncamento, o Operário Meiaviense, assentes em raízes operárias, são apenas hoje memórias vagas de um outro tempo, tendo na maioria destes exemplos desaparecido. E se foi assim no futebol, também assim foi noutras modalidades desportivas.
Entre os que sobreviveram à desindustrialização regional (alguns porque os seus alicerces de apoio iam para lá do mundo das fábricas), conseguiram manter a sua actividade, independentes de sads e outros estranhos negócios. Mas vivem, como todo o movimento associativo popular, num pântano das dificuldades desta sociedade que valoriza o individual ao colectivo. Uma sociedade e um tempo individualistas em que na vida em geral se valoriza o eu sobre o nós e, no desporto, o que agora é importante é apenas ver no telefone o resultado final de cada jogo para se saber quanto se amealhou nas apostas do placard e afins. São tristes, estas alegrias efémeras da sociedade egocêntrica a que chegámos. Como se nos pudéssemos dar a esse luxo de abandonarmos os espaços de vida em comum e pudéssemos ser felizes nos pequenos aquários em que nos vamos fechando.
Naquele fim de semana de Taça de Portugal, o futebol nacional de primeiro plano regressou à histórica cidade operária do Barreiro. Fica a esperança de que um dia regresse aqui também, ao estádio da nossa terra. Será sinal que não estaremos na liga dos últimos. Nisso e no resto.
E mesmo que tão depressa não venha ao “Municipal” nenhum desses gigantes, que não se perca, nas curvas do progresso, esta coisa que parece cada vez mais estranha de nos juntarmos para fazer coisas em conjunto no desporto e na cultura. Recusemos ser apenas espectadores daquilo que nos impingem. Ainda vamos a tempo de fazer as coisas que são nossas, com a nossa gente, na nossa terra.

 

 

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