O rio Alnova e a nascente do Remonda - carlos paiva
" Posto de maneira simples: estamos de costas voltadas para o rio Almonda. E não é de agora. Ignoramos completamente o nosso rio, não sabemos nada sobre ele."
Os últimos dias destacaram-se por uma movimentação agitada de coisas irrelevantes a acontecer. Apenas duas, elegíveis ao patamar de interessante. Ambas, de iniciativa individual e no campo dos áudio-visuais. O que, só por acontecer em Torres Novas e/ou pela mão de torrejanos, conjecturo a prova de obstáculos que deve ter sido todo o processo. João Canuto meteu o seu filme a rodar no circuito dos festivais e está a obter resultados bastante animadores. Malta que arregaça as mangas e, com meios mais ou menos inventados, faz coisas, é malta de fibra. Enalteço a força motriz desejando os melhores sucessos.
O outro filme, produzido por alguém cujo nome desconheço, faz um resumo emotivo acerca do tema quente da nascente do Almonda versus Renova. Está no Youtube e já passou das três mil visualizações. Porque falo nele? Bom, além de conseguir sintetizar uma visão macro do tema, explica-nos, a nós torrejanos, por que é que devemos ficar envergonhados acerca disso. Posto de maneira simples: estamos de costas voltadas para o rio Almonda. E não é de agora. Ignoramos completamente o nosso rio, não sabemos nada sobre ele.
Sabendo alguma coisa, poderíamos elaborar uma estratégia, traçar planos, gerir melhor. Se os torrejanos soubessem o pH da água, o nível de oxigenação, a composição microbiológica, os químicos poluentes. Estes dados, obtidos ao longo do tempo, abrangendo as variações de caudal, abrangendo a poluição sazonal, produzem informação. Informação que ajuda a gerir o caudal, ajuda a identificar os diferentes agentes poluidores ao longo do curso, ajuda a decidir que florestação seria mais favorável ao rio. Há árvores que são verdadeiros aspiradores de metais pesados, outras com propriedades antibacterianas, algas que oxigenam a água... Construir a partir daí o restante ecossistema, de forma sustentável. Conhecendo a realidade, passava a ser possível (re)agir de acordo, com uma estratégia adequada ao problema.
Mas os torrejanos desconhecendo tudo isto, deixam-se ficar pelas obras de cosmética. Também porque isso do ambiente é coisa de esquerdalha e em terra conservadora e puritana, não se desce tão baixo. Ficamos pela consensualidade calmante das flores e dos patos. Agora uma pergunta de algibeira, daquelas da escola primária: sabem quem é que tem esses dados? Com um histórico de monitorização de décadas? Isso mesmo, a Renova. Esta realidade envergonha-nos. Os torrejanos foram incapazes de produzir uma cooperação bidirecional viável com a Renova, num contexto de protecção ambiental e gestão de recursos hídricos, em 80 anos, para não ir mais atrás. A vedação que está mal, é um bode expiatório para esta vergonha. Um gajo revolta-se contra uma vedação e automaticamente a árvore genealógica passa a apresentar indivíduos conhecedores do rio, que em puto iam lá ao banho, até para aí cinco ou seis níveis para trás. Já passámos o ponto da sensibilização. Não é necessário mais sensibilização.
Quem por esta altura não está sensibilizado para o tema do ambiente e gestão da água, ou é estúpido ou está em coma. É altura de fazer. Depois de sensibilizar, tem de se avaliar o que se pode efetivamente concretizar. Atribuir uma responsabilidade moral a uma empresa privada, é argumento ténue. Estamos a lidar com o departamento de marketing que tornou limpar o cú uma coisa fashionable, como já alguém disse. Tivesse a Câmara Municipal um departamento para monitorização do rio, com autonomia para a recolha e tratamento deste género de dados, provavelmente não estaríamos reduzidos a argumentos morais. Nem se bajulava abertamente uma pro-atividade ambiental inexistente além portões. Gerir um rio com percurso tão diversificado como o Almonda, não se resume a dar graças por não ir azul ou cor de laranja, cheirar a podre ou alfazema do campo e atirar para lá uns patos que podem estar ou não a ser envenenados pelo seu meio ambiente. Não se premeia quem cumpre. Cumprir é o mínimo. Premeia-se quem passa para além da obrigação. Fora de moda, educação à antiga, eu sei. Era outra têmpera, não tínhamos quatro folhas, picotado, pluma extra fofo, com aroma a alfazema do campo.
O rio Alnova e a nascente do Remonda - carlos paiva
Posto de maneira simples: estamos de costas voltadas para o rio Almonda. E não é de agora. Ignoramos completamente o nosso rio, não sabemos nada sobre ele.
Os últimos dias destacaram-se por uma movimentação agitada de coisas irrelevantes a acontecer. Apenas duas, elegíveis ao patamar de interessante. Ambas, de iniciativa individual e no campo dos áudio-visuais. O que, só por acontecer em Torres Novas e/ou pela mão de torrejanos, conjecturo a prova de obstáculos que deve ter sido todo o processo. João Canuto meteu o seu filme a rodar no circuito dos festivais e está a obter resultados bastante animadores. Malta que arregaça as mangas e, com meios mais ou menos inventados, faz coisas, é malta de fibra. Enalteço a força motriz desejando os melhores sucessos.
O outro filme, produzido por alguém cujo nome desconheço, faz um resumo emotivo acerca do tema quente da nascente do Almonda versus Renova. Está no Youtube e já passou das três mil visualizações. Porque falo nele? Bom, além de conseguir sintetizar uma visão macro do tema, explica-nos, a nós torrejanos, por que é que devemos ficar envergonhados acerca disso. Posto de maneira simples: estamos de costas voltadas para o rio Almonda. E não é de agora. Ignoramos completamente o nosso rio, não sabemos nada sobre ele.
Sabendo alguma coisa, poderíamos elaborar uma estratégia, traçar planos, gerir melhor. Se os torrejanos soubessem o pH da água, o nível de oxigenação, a composição microbiológica, os químicos poluentes. Estes dados, obtidos ao longo do tempo, abrangendo as variações de caudal, abrangendo a poluição sazonal, produzem informação. Informação que ajuda a gerir o caudal, ajuda a identificar os diferentes agentes poluidores ao longo do curso, ajuda a decidir que florestação seria mais favorável ao rio. Há árvores que são verdadeiros aspiradores de metais pesados, outras com propriedades antibacterianas, algas que oxigenam a água... Construir a partir daí o restante ecossistema, de forma sustentável. Conhecendo a realidade, passava a ser possível (re)agir de acordo, com uma estratégia adequada ao problema.
Mas os torrejanos desconhecendo tudo isto, deixam-se ficar pelas obras de cosmética. Também porque isso do ambiente é coisa de esquerdalha e em terra conservadora e puritana, não se desce tão baixo. Ficamos pela consensualidade calmante das flores e dos patos. Agora uma pergunta de algibeira, daquelas da escola primária: sabem quem é que tem esses dados? Com um histórico de monitorização de décadas? Isso mesmo, a Renova. Esta realidade envergonha-nos. Os torrejanos foram incapazes de produzir uma cooperação bidirecional viável com a Renova, num contexto de protecção ambiental e gestão de recursos hídricos, em 80 anos, para não ir mais atrás. A vedação que está mal, é um bode expiatório para esta vergonha. Um gajo revolta-se contra uma vedação e automaticamente a árvore genealógica passa a apresentar indivíduos conhecedores do rio, que em puto iam lá ao banho, até para aí cinco ou seis níveis para trás. Já passámos o ponto da sensibilização. Não é necessário mais sensibilização.
Quem por esta altura não está sensibilizado para o tema do ambiente e gestão da água, ou é estúpido ou está em coma. É altura de fazer. Depois de sensibilizar, tem de se avaliar o que se pode efetivamente concretizar. Atribuir uma responsabilidade moral a uma empresa privada, é argumento ténue. Estamos a lidar com o departamento de marketing que tornou limpar o cú uma coisa fashionable, como já alguém disse. Tivesse a Câmara Municipal um departamento para monitorização do rio, com autonomia para a recolha e tratamento deste género de dados, provavelmente não estaríamos reduzidos a argumentos morais. Nem se bajulava abertamente uma pro-atividade ambiental inexistente além portões. Gerir um rio com percurso tão diversificado como o Almonda, não se resume a dar graças por não ir azul ou cor de laranja, cheirar a podre ou alfazema do campo e atirar para lá uns patos que podem estar ou não a ser envenenados pelo seu meio ambiente. Não se premeia quem cumpre. Cumprir é o mínimo. Premeia-se quem passa para além da obrigação. Fora de moda, educação à antiga, eu sei. Era outra têmpera, não tínhamos quatro folhas, picotado, pluma extra fofo, com aroma a alfazema do campo.
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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