Adormecer em democracia e acordar da demagogia - jorge salgado simões
Opinião » 2021-02-05 » Jorge Salgado Simões"Portugal está num beco muito estreito. Nos últimos anos venderam-nos melhorias que não aconteceram, conquistas que ninguém sentiu"
O clamor que experimentámos quando foram conhecidos os resultados das eleições presidenciais dizem muito sobre o que somos hoje. Passadas duas semanas, que mais parecem dois meses face à calamidade da pandemia, é possível fazer outras leituras mais ligadas à terra, que permitam perceber melhor como aqui chegámos.
Para além da grotesca taxa de abstenção e da vitória esmagadora de Marcelo Rebelo de Sousa, o facto mais relevante das eleições foi a votação no candidato André Ventura, meio milhão de votos que geraram todo o tipo de análises. Nas horas seguintes houve expulsões de páginas, amizades de facebook desfeitas, insultos gratuitos, e revelou-se uma geografia eleitoral que, não trazendo grande novidade ao que já tinha acontecido nas legislativas de 2019, mostra um país completamente dividido.
Fora das duas áreas metropolitanas do país, o candidato apoiado por um partido de extrema direita, e com um discurso fácil, aldrabão e trauliteiro, foi a segunda escolha dos portugueses naquele dia. E de repente apareceram fascistas, racistas e sexistas em cada quintal? Revelaram-se em cada freguesia e em cada concelho desse Portugal, incluindo Torres Novas e a região face aos resultados registados? É verdade que os há, mas convém evitar generalizações abusivas.
O voto em André Ventura é o mesmo que a Frente Nacional consegue em França, ou que outros partidos do género têm noutros países europeus pelo menos desde o início do século, e é muito mais a expressão do descontentamento conjuntural do que a partilha de qualquer ideia que pudesse ter para o país. E é por isso que chega agora a Portugal, com o atraso sistémico que nos acompanha sempre e com uma preponderância maior em tudo o que não é Lisboa e Porto. Para muitos é o Portugal rural, atrasado e menos escolarizado a trair os valores bonitos que aqui nos trouxeram. Sejamos claros, isso não existe.
Portugal está num beco muito estreito. Nos últimos anos venderam-nos melhorias que não aconteceram, conquistas que ninguém sentiu, ilusões de investimento, sustentabilidade, qualidade de vida urbana e serviços qualificados que nunca chegaram a aparecer, incluindo vacas que voariam por toda a parte. Social e territorialmente, temos hoje um país completamente desequilibrado, nos recursos, nas ofertas e nas oportunidades, e que faz com que muita gente se reveja em qualquer discurso anti-sistema que apareça.
Combater isto, só com muito menos demagogia e mais realismo das políticas públicas. Menos anúncios e cerimónias, e mais coisas a acontecer de facto, de forma equilibrada entre as diferentes regiões do país. Se o fizermos, mesmo com a autentica parede que temos pela frente, esvaziaremos, sem piedade, os populismos e extremismos do nosso descontentamento.
Adormecer em democracia e acordar da demagogia - jorge salgado simões
Opinião » 2021-02-05 » Jorge Salgado SimõesPortugal está num beco muito estreito. Nos últimos anos venderam-nos melhorias que não aconteceram, conquistas que ninguém sentiu
O clamor que experimentámos quando foram conhecidos os resultados das eleições presidenciais dizem muito sobre o que somos hoje. Passadas duas semanas, que mais parecem dois meses face à calamidade da pandemia, é possível fazer outras leituras mais ligadas à terra, que permitam perceber melhor como aqui chegámos.
Para além da grotesca taxa de abstenção e da vitória esmagadora de Marcelo Rebelo de Sousa, o facto mais relevante das eleições foi a votação no candidato André Ventura, meio milhão de votos que geraram todo o tipo de análises. Nas horas seguintes houve expulsões de páginas, amizades de facebook desfeitas, insultos gratuitos, e revelou-se uma geografia eleitoral que, não trazendo grande novidade ao que já tinha acontecido nas legislativas de 2019, mostra um país completamente dividido.
Fora das duas áreas metropolitanas do país, o candidato apoiado por um partido de extrema direita, e com um discurso fácil, aldrabão e trauliteiro, foi a segunda escolha dos portugueses naquele dia. E de repente apareceram fascistas, racistas e sexistas em cada quintal? Revelaram-se em cada freguesia e em cada concelho desse Portugal, incluindo Torres Novas e a região face aos resultados registados? É verdade que os há, mas convém evitar generalizações abusivas.
O voto em André Ventura é o mesmo que a Frente Nacional consegue em França, ou que outros partidos do género têm noutros países europeus pelo menos desde o início do século, e é muito mais a expressão do descontentamento conjuntural do que a partilha de qualquer ideia que pudesse ter para o país. E é por isso que chega agora a Portugal, com o atraso sistémico que nos acompanha sempre e com uma preponderância maior em tudo o que não é Lisboa e Porto. Para muitos é o Portugal rural, atrasado e menos escolarizado a trair os valores bonitos que aqui nos trouxeram. Sejamos claros, isso não existe.
Portugal está num beco muito estreito. Nos últimos anos venderam-nos melhorias que não aconteceram, conquistas que ninguém sentiu, ilusões de investimento, sustentabilidade, qualidade de vida urbana e serviços qualificados que nunca chegaram a aparecer, incluindo vacas que voariam por toda a parte. Social e territorialmente, temos hoje um país completamente desequilibrado, nos recursos, nas ofertas e nas oportunidades, e que faz com que muita gente se reveja em qualquer discurso anti-sistema que apareça.
Combater isto, só com muito menos demagogia e mais realismo das políticas públicas. Menos anúncios e cerimónias, e mais coisas a acontecer de facto, de forma equilibrada entre as diferentes regiões do país. Se o fizermos, mesmo com a autentica parede que temos pela frente, esvaziaremos, sem piedade, os populismos e extremismos do nosso descontentamento.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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