São sobras, Senhor! São sobras! - ana lúcia cláudio
Opinião » 2021-02-22 » Ana Lúcia Cláudio
Na falta de acções presenciais, multiplicaram-se, nos últimos meses, as iniciativas on-line sobre os mais diversos assuntos. Num destes eventos em que participei, sensibilizou-me, particularmente, o testemunho de um ex-ministro social-democrata que, quando questionado sobre um eventual regresso à vida política mais activa, reconheceu que não pretende fazê-lo porque, e nas suas palavras, os quatro anos em que foi ministro mudaram-no, levando amigos e familiares mais próximos a dizerem-lhe que, nessa altura, ele não era “o mesmo Nuno”. E acrescentou, para fundamentar a sua afirmação: “Todos os seres humanos são feitos de bom e mau, de altruísmo e orgulho, de desprendimento e egoísmo. O cargo de ministro não puxa pelo desprendimento mas pelo convencimento e teimosia. A política, às vezes por necessidade, puxa-nos por essa arrogância e por um auto-convencimento que é preciso ter para avançar em situações adversas. E não puxa tanto pela humildade, pelo desprendimento, pela consciência e por pôr o outro em primeiro lugar.”
Estas palavras de um político de primeira linha vão ao encontro da célebre expressão: “O poder corrompe”, e ecoam em mim com mais força à medida que vamos conhecendo os contornos dos diversos casos de alegada vacinação indevida contra a Covid-19.
Sem vacina contra a chico-espertice, as desculpas multiplicam-se com as tentativas de incluir à força, numa qualquer lista duvidosa, um familiar ou um amigo. E, de repente, como que por magia, todas as instituições e lares deste país se encheram de voluntários que, oportunamente, se tornaram merecedores da vacina. São inúmeros os casos que têm vindo à praça pública de políticos, responsáveis municipais, ou directores de instituições que, sem integrarem grupos prioritários, beneficiaram desta espécie de ouro líquido: nos dias que correm, tornou-se o bem mais precioso.
E, claro, Torres Novas não foi excepção. Por estas bandas, recorreu-se, contudo, a uma variante, não do vírus, mas da justificação invocada pelos que foram oportunamente apanhados “com a seringa no braço”. São as famosas sobras. Com a desculpa de que, sobrando vacinas, as mesmas não podiam ser desperdiçadas, foram, por isso, “aproveitadas” em quem estava mais à mão, curiosamente, sempre num braço com “pedigree”. De tal modo que na ausência de consciência, responsabilidade e bom senso dos cidadãos, teve de vir de cima um novo “decreto” para passar, também, a regular as ditas sobras, atribuindo-as a quem de direito, segundo critérios (lógicos) de prioridade.
E tal como na célebre lenda sobre a mais santa das rainhas da nossa história, e que, curiosamente, dá o nome ao hospital da cidade, eis que florescem por todos os lados, não rosas mas sobras. Só que, se o pão do regaço da rainha se transformou em rosas, em nome de um gesto altruísta e num acto de desprendimento e amor ao próximo, aqui é precisamente o contrário, é o amor-próprio, é a arrogância, é o poder de decidir aliado ao típico chico-espertismo de tentar sacar mais que o vizinho, acreditando que tais actos ficarão sempre impunes.
São sobras, Senhor! São sobras! - ana lúcia cláudio
Opinião » 2021-02-22 » Ana Lúcia CláudioNa falta de acções presenciais, multiplicaram-se, nos últimos meses, as iniciativas on-line sobre os mais diversos assuntos. Num destes eventos em que participei, sensibilizou-me, particularmente, o testemunho de um ex-ministro social-democrata que, quando questionado sobre um eventual regresso à vida política mais activa, reconheceu que não pretende fazê-lo porque, e nas suas palavras, os quatro anos em que foi ministro mudaram-no, levando amigos e familiares mais próximos a dizerem-lhe que, nessa altura, ele não era “o mesmo Nuno”. E acrescentou, para fundamentar a sua afirmação: “Todos os seres humanos são feitos de bom e mau, de altruísmo e orgulho, de desprendimento e egoísmo. O cargo de ministro não puxa pelo desprendimento mas pelo convencimento e teimosia. A política, às vezes por necessidade, puxa-nos por essa arrogância e por um auto-convencimento que é preciso ter para avançar em situações adversas. E não puxa tanto pela humildade, pelo desprendimento, pela consciência e por pôr o outro em primeiro lugar.”
Estas palavras de um político de primeira linha vão ao encontro da célebre expressão: “O poder corrompe”, e ecoam em mim com mais força à medida que vamos conhecendo os contornos dos diversos casos de alegada vacinação indevida contra a Covid-19.
Sem vacina contra a chico-espertice, as desculpas multiplicam-se com as tentativas de incluir à força, numa qualquer lista duvidosa, um familiar ou um amigo. E, de repente, como que por magia, todas as instituições e lares deste país se encheram de voluntários que, oportunamente, se tornaram merecedores da vacina. São inúmeros os casos que têm vindo à praça pública de políticos, responsáveis municipais, ou directores de instituições que, sem integrarem grupos prioritários, beneficiaram desta espécie de ouro líquido: nos dias que correm, tornou-se o bem mais precioso.
E, claro, Torres Novas não foi excepção. Por estas bandas, recorreu-se, contudo, a uma variante, não do vírus, mas da justificação invocada pelos que foram oportunamente apanhados “com a seringa no braço”. São as famosas sobras. Com a desculpa de que, sobrando vacinas, as mesmas não podiam ser desperdiçadas, foram, por isso, “aproveitadas” em quem estava mais à mão, curiosamente, sempre num braço com “pedigree”. De tal modo que na ausência de consciência, responsabilidade e bom senso dos cidadãos, teve de vir de cima um novo “decreto” para passar, também, a regular as ditas sobras, atribuindo-as a quem de direito, segundo critérios (lógicos) de prioridade.
E tal como na célebre lenda sobre a mais santa das rainhas da nossa história, e que, curiosamente, dá o nome ao hospital da cidade, eis que florescem por todos os lados, não rosas mas sobras. Só que, se o pão do regaço da rainha se transformou em rosas, em nome de um gesto altruísta e num acto de desprendimento e amor ao próximo, aqui é precisamente o contrário, é o amor-próprio, é a arrogância, é o poder de decidir aliado ao típico chico-espertismo de tentar sacar mais que o vizinho, acreditando que tais actos ficarão sempre impunes.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
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