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Pela janela, por Inês Vidal

Opinião  »  2020-05-09  »  Inês Vidal

"Temos sido uns privilegiados. Muitos há, por esse mundo fora, a quem um qualquer Covid pouco tira, por já pouco haver a tirar"

Comprei um bilhete de avião para ir visitar o meu primo João, que está na Suécia, por alturas do casamento dele, em Abril. Crescemos juntos, apesar da diferença de idades. Queria dar-lhe um abraço, desejar-lhe que fosse feliz - comigo aqui relativamente perto, de preferência - ao mesmo tempo que nos perguntaria como é que era possível estarmos ali, se ainda no outro dia andei com ele ao colo.

Em Dezembro, comprei um bilhete para ir ver Lloyd Cole ao Estoril, e comprei outros tantos para levar a família toda a ouvir Adriana Calcanhoto, nesta sua segunda tentativa de vir a Torres Novas. Pelo caminho, fiz planos de ir ao Norte e tirei dias de férias para rumar a sul. Tudo para acontecer no espaço destes dois últimos meses. Nunca me acanhei de planear passeatas por temer que algo as impedisse, embora há muito tivesse aprendido, e da pior forma, que não vale a pena fazer grandes planos. Ou, pelo menos, que convém ter sempre consciência de que podem ser alterados a qualquer momento. Mandamos pouco perante uma natureza tão estrondosa.

A verdade é que nem vi o João e a Daniela dizer o sim, nem o Lloyd Cole ou a Adriana Calcanhoto a trautear aqueles temas que tanto ficam no ouvido. Norte e sul continuam nos planos, mas para já sem datas marcadas.

É, talvez, a única lição produtiva que tiramos desta história. Somos especialistas a dar as coisas como garantidas. As pessoas, as relações, o acordar, o emprego, a vida em geral. Nunca imaginámos sermos impedidos de ir trabalhar, abraçar um filho, dar um beijo à nossa mãe no dia que lhe cabe, dar dois dedos de conversa numa esplanada, ir ver o mar ou enterrar a nossa avó de 98 anos com as despedidas que lhe eram devidas. Tudo coisas à partida simples, banais, sem questões, que sempre conhecemos e que nunca imaginámos alguém querer ou poder tirar-nos.

Temos sido uns privilegiados. Muitos há, por esse mundo fora, a quem um qualquer Covid pouco tira, por já pouco haver a tirar. Já a nós, ocidentais ingratos, donos do mundo, que nos esquecemos de valorizar cada dia que nos é concedido de bandeja, o Covid-19 tirou-nos tudo. Pelo menos, tudo o que conhecíamos como sendo nada. Fez-nos colocar os pés na terra. Pensar no valor das coisas, agradecer o tanto que temos. De certeza que de hoje em diante, pelo menos enquanto nos lembrarmos do que nos fechou em casa, responderemos com mais vontade quando alguém nos perguntar como estamos, saborearemos de outra forma aquele café na esplanada e brindaremos à vida com outra convicção e conhecimento de causa no próximo jantar de amigos, à volta daquela mesa cheia que deixa qualquer um de nós a morrer de saudades.

O Covid-19 não me tirou a vida. Pelo menos ainda. Estou certa de que o pior seria isso. Mas tirou-me a presença da família, dos amigos, a liberdade de os poder escolher e de os ter comigo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. E isso, já ninguém me devolve.

 

 

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