Agosto, o mar, os livros - margarida trindade
" Nunca me arrependerei de ter nos livros aquele porto de abrigo que me acolhe na dúvida"
Antes de dar voz ao calor das palavras, ou abandonar-me, infantil, no colo de um certo e esperado Agosto, prova de vida anual, um desabafo.
Dei-me a luxos de leitura no sossego da sombra de uma varanda. A vista é para uma paisagem que se espraia até ao mar. Nunca me arrependerei de ter nos livros aquele porto de abrigo que me acolhe na dúvida, sabendo, é certo, que a única certeza que dali sairá é a honestidade para com a minha própria consciência e a convicção de que não há urgência que nos resolva as inquietações. Neles, nos livros, acerto o meu mapa individual, posiciono-me perante mim própria e o meu colectivo. A exactidão desse lugar de destino aponta para onde a dúvida me leva. Uma rota legítima pelas páginas de um, ou dois volumes (abalanço-me a três se o sono não me der por vencida), lidos de supetão ou mastigados teimosamente para não os deixar a meio. Não gosto, mas fico a conhecer.
Meti-me com autobiografias. Trazia grande satisfação da última incursão numa leitura do género, mas fiquei com amargos de boca com a opção do presente ano. É assim, nada a fazer. Ou é o ego deslumbrado, essa fraqueza que acomete certos autores que, achando-se tão distintos, entregam-se à confissão íntima de surtos psicanalíticos freudianos. Uma seca, digo eu. Ou, à falta de criatividade (e de vazios nunca superados), põem-se a discorrer sobre falhanços amorosos e académicos. Enfim, um mergulho escusado em traumas, com laivos de auto-piedade. Fossem ficcionados e quem sabe outro galo cantaria.
Valeu-me nisto um conhecido e respeitado alter-ego, a bem de umas necessárias verdades que lhe salvaram, ao autobiografado, a honra do convento. E que a mim me devolveram prazer da literatura e também me resgataram de mim mesma, que é o que se deve pedir a um livro em Agosto.
Houve tempos em que fazia dos meus verões de praia uma produção quase diária de fotografias de sardinhas assadas, iguaria sem igual que, havendo possibilidade de uns dias no Algarve, não dispenso. Mas a pandemia fez de mim austera. Quiçá frugal. Nem sardinhas, nem redes sociais. Não deverei ser a única. O pouco luxo a que me dei neste ano foram, para além de uns banhos de mar, o que já não é pouco, uma ou duas refeições em família, circunscritas à varanda, em finais de dias quentes.
Todavia, o pináculo de alguma felicidade foi ter-me dado conta de que consegui, numa inadvertência feliz, alhear-me do factor perigo durante uns minutos de um passeio matinal à beira mar.
Contentando-me assim com este pouco, que já me sabe a tanto, percebo com algum alívio, por ter sido capaz de semelhante fuga à realidade, da importância suprema de, tomados os devidos cuidados, levarmos a vida com uma certa normalidade. A bem da saúde mental e de todas as silly seasons que Agosto ainda nos há-de trazer.
Agosto, o mar, os livros - margarida trindade
Nunca me arrependerei de ter nos livros aquele porto de abrigo que me acolhe na dúvida
Antes de dar voz ao calor das palavras, ou abandonar-me, infantil, no colo de um certo e esperado Agosto, prova de vida anual, um desabafo.
Dei-me a luxos de leitura no sossego da sombra de uma varanda. A vista é para uma paisagem que se espraia até ao mar. Nunca me arrependerei de ter nos livros aquele porto de abrigo que me acolhe na dúvida, sabendo, é certo, que a única certeza que dali sairá é a honestidade para com a minha própria consciência e a convicção de que não há urgência que nos resolva as inquietações. Neles, nos livros, acerto o meu mapa individual, posiciono-me perante mim própria e o meu colectivo. A exactidão desse lugar de destino aponta para onde a dúvida me leva. Uma rota legítima pelas páginas de um, ou dois volumes (abalanço-me a três se o sono não me der por vencida), lidos de supetão ou mastigados teimosamente para não os deixar a meio. Não gosto, mas fico a conhecer.
Meti-me com autobiografias. Trazia grande satisfação da última incursão numa leitura do género, mas fiquei com amargos de boca com a opção do presente ano. É assim, nada a fazer. Ou é o ego deslumbrado, essa fraqueza que acomete certos autores que, achando-se tão distintos, entregam-se à confissão íntima de surtos psicanalíticos freudianos. Uma seca, digo eu. Ou, à falta de criatividade (e de vazios nunca superados), põem-se a discorrer sobre falhanços amorosos e académicos. Enfim, um mergulho escusado em traumas, com laivos de auto-piedade. Fossem ficcionados e quem sabe outro galo cantaria.
Valeu-me nisto um conhecido e respeitado alter-ego, a bem de umas necessárias verdades que lhe salvaram, ao autobiografado, a honra do convento. E que a mim me devolveram prazer da literatura e também me resgataram de mim mesma, que é o que se deve pedir a um livro em Agosto.
Houve tempos em que fazia dos meus verões de praia uma produção quase diária de fotografias de sardinhas assadas, iguaria sem igual que, havendo possibilidade de uns dias no Algarve, não dispenso. Mas a pandemia fez de mim austera. Quiçá frugal. Nem sardinhas, nem redes sociais. Não deverei ser a única. O pouco luxo a que me dei neste ano foram, para além de uns banhos de mar, o que já não é pouco, uma ou duas refeições em família, circunscritas à varanda, em finais de dias quentes.
Todavia, o pináculo de alguma felicidade foi ter-me dado conta de que consegui, numa inadvertência feliz, alhear-me do factor perigo durante uns minutos de um passeio matinal à beira mar.
Contentando-me assim com este pouco, que já me sabe a tanto, percebo com algum alívio, por ter sido capaz de semelhante fuga à realidade, da importância suprema de, tomados os devidos cuidados, levarmos a vida com uma certa normalidade. A bem da saúde mental e de todas as silly seasons que Agosto ainda nos há-de trazer.
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