Dois mitos do desenvolvimento em Torres Novas - josé mota pereira
Opinião » 2020-06-18 » José Mota Pereira
O mito do emprego da “porta norte”
Nos últimos anos, a partir do posicionamento entre a A1 e a A23 que a estratégia(?) de desenvolvimento da economia e do emprego tem sido quase em exclusivo a instalação de bases logísticas das cadeias de distribuição/hipermercados. De facto, hoje quase todas as principais cadeias têm aqui instaladas bases de distribuição logística rodoviária. Tal facto é celebrado de forma insistente como um sinal de dinamismo e desenvolvimento. Não seria grave se toda a estratégia de captação de emprego e de empresas não se baseasse nesta monocultura assente no que foi chamado a “porta norte” de Lisboa.
Fraca visão e fraco futuro para Torres Novas! Se ficarmos presos em 2020 a este modelo de progresso baseado em emprego de mão de obra pouco qualificada e em tecnologia de “empilhador-camião“ estaremos a cometer um grave erro.
A logística têm trazido emprego? Tem.
Mas quem pode acreditar que este modelo actual de distribuição vai durar mais dez ou até cinco anos?
A crescente procura de alternativas ambientalmente mais sustentáveis ao transporte rodoviário de mercadorias; a previsível crescente introdução da robótica nos armazéns diminuindo a mão de obra necessária; a introdução de novas tecnologias de gestão de stocks em rede on-line em que cada loja da cadeia reporta directamente ao fornecedor; a introdução de veículos auto-transportados; o desenvolvimento das tecnologias de impressão 3D e da Internet das Coisas; a valorização da produção local, cada vez mais pronta a dar respostas locais, diminuindo a necessidade de instalar grandes armazéns; constituem, entre outras, tendências sérias e consistentes na área da distribuição logística com reflexos nos seus níveis de empregabilidade, nas suas dimensões físicas e até na sua existência.
Acresce a tudo isto, o estado de pandemia em que vivemos, cujas consequências nas pequenas empresas que ainda por cá vão sobrevivendo poderão vir a ser devastadoras.
E que respostas municipais se vão vendo? Nada ou quase nada.
Apenas um optimismo mal amanhado com o pleno emprego que as bases de distribuição têm oferecido, sem que se vislumbre uma preocupação com a defesa das restantes empresas que existem, nem se vislumbrando qualquer estratégia na captação de novas empresas e de novos empregos que vá para além deste modelo em fase de esgotamento.
Se ficarmos agarrados a isto, desconfio que o concelho de Torres Novas ainda vai ficar entalado na tal “Porta Norte”.
O mito do ensino superior
Ouve-se e lê-se muitas vezes que em Torres Novas falta ensino superior (que até já cá esteve) e que essa lacuna tem comprometido o futuro do concelho.
Sucede que aqui, e reportando apenas ao nível da oferta pública, temos a menos de 30 km os Politécnicos de Santarém e de Tomar com os seus pólos de Abrantes e Rio Maior. Um pouco mais longe, mas ainda assim aqui tão perto, temos o Politécnico de Leiria. E, obviamente, temos todas as imensas e diversas ofertas universitárias que Lisboa e Coimbra oferecem a menos de uma hora daqui. Já para não falarmos de Évora, Setúbal, Castelo Branco e Aveiro, que completam uma espécie de segundo círculo.
Associar algum problema de desenvolvimento local à falta de ensino superior é ignorar esta realidade. Nem os jovens torrejanos têm falta de oferta formativa nem me parece que em Torres Novas se pudesse oferecer actualmente alternativas credíveis de ensino a estas instituições.
Para mais há que assumir: uma universidade não é uma paróquia.
Pessoalmente, acho até muito bem que os jovens torrejanos vão estudar para fora da sua rua e do seu bairro. Que partam e vão pelo país, pela Europa e pelo Mundo!
Que aproveitem as possibilidades que hoje existem de estudarem noutros países, conhecendo outras culturas e alargando horizontes.
A nossa tarefa é incentivá-los a irem.
A nossa exigência é criarmos condições para regressem e nos tragam o Mundo e partilhem connosco tudo quanto viveram na sua vida académica. Esse sim, é o nosso desafio. Não nos podemos continuar a dar ao luxo de ver partir os nossos jovens sem lhes oferecermos a oportunidade de regressarem e aqui construírem a sua vida com todos os benefícios para a comunidade.
Para isso, é preciso investir a sério em emprego, na sustentabilidade ambiental, na cultura (e não apenas numa política de realização eventos culturais), na habitação e no desenvolvimento integral do território, da cidade às freguesias rurais, promovendo o seu povoamento e a sua revitalização.
Enfim, dar as boas vindas aqueles que podem construir um outro futuro para a nossa terra.
Dois mitos do desenvolvimento em Torres Novas - josé mota pereira
Opinião » 2020-06-18 » José Mota PereiraO mito do emprego da “porta norte”
Nos últimos anos, a partir do posicionamento entre a A1 e a A23 que a estratégia(?) de desenvolvimento da economia e do emprego tem sido quase em exclusivo a instalação de bases logísticas das cadeias de distribuição/hipermercados. De facto, hoje quase todas as principais cadeias têm aqui instaladas bases de distribuição logística rodoviária. Tal facto é celebrado de forma insistente como um sinal de dinamismo e desenvolvimento. Não seria grave se toda a estratégia de captação de emprego e de empresas não se baseasse nesta monocultura assente no que foi chamado a “porta norte” de Lisboa.
Fraca visão e fraco futuro para Torres Novas! Se ficarmos presos em 2020 a este modelo de progresso baseado em emprego de mão de obra pouco qualificada e em tecnologia de “empilhador-camião“ estaremos a cometer um grave erro.
A logística têm trazido emprego? Tem.
Mas quem pode acreditar que este modelo actual de distribuição vai durar mais dez ou até cinco anos?
A crescente procura de alternativas ambientalmente mais sustentáveis ao transporte rodoviário de mercadorias; a previsível crescente introdução da robótica nos armazéns diminuindo a mão de obra necessária; a introdução de novas tecnologias de gestão de stocks em rede on-line em que cada loja da cadeia reporta directamente ao fornecedor; a introdução de veículos auto-transportados; o desenvolvimento das tecnologias de impressão 3D e da Internet das Coisas; a valorização da produção local, cada vez mais pronta a dar respostas locais, diminuindo a necessidade de instalar grandes armazéns; constituem, entre outras, tendências sérias e consistentes na área da distribuição logística com reflexos nos seus níveis de empregabilidade, nas suas dimensões físicas e até na sua existência.
Acresce a tudo isto, o estado de pandemia em que vivemos, cujas consequências nas pequenas empresas que ainda por cá vão sobrevivendo poderão vir a ser devastadoras.
E que respostas municipais se vão vendo? Nada ou quase nada.
Apenas um optimismo mal amanhado com o pleno emprego que as bases de distribuição têm oferecido, sem que se vislumbre uma preocupação com a defesa das restantes empresas que existem, nem se vislumbrando qualquer estratégia na captação de novas empresas e de novos empregos que vá para além deste modelo em fase de esgotamento.
Se ficarmos agarrados a isto, desconfio que o concelho de Torres Novas ainda vai ficar entalado na tal “Porta Norte”.
O mito do ensino superior
Ouve-se e lê-se muitas vezes que em Torres Novas falta ensino superior (que até já cá esteve) e que essa lacuna tem comprometido o futuro do concelho.
Sucede que aqui, e reportando apenas ao nível da oferta pública, temos a menos de 30 km os Politécnicos de Santarém e de Tomar com os seus pólos de Abrantes e Rio Maior. Um pouco mais longe, mas ainda assim aqui tão perto, temos o Politécnico de Leiria. E, obviamente, temos todas as imensas e diversas ofertas universitárias que Lisboa e Coimbra oferecem a menos de uma hora daqui. Já para não falarmos de Évora, Setúbal, Castelo Branco e Aveiro, que completam uma espécie de segundo círculo.
Associar algum problema de desenvolvimento local à falta de ensino superior é ignorar esta realidade. Nem os jovens torrejanos têm falta de oferta formativa nem me parece que em Torres Novas se pudesse oferecer actualmente alternativas credíveis de ensino a estas instituições.
Para mais há que assumir: uma universidade não é uma paróquia.
Pessoalmente, acho até muito bem que os jovens torrejanos vão estudar para fora da sua rua e do seu bairro. Que partam e vão pelo país, pela Europa e pelo Mundo!
Que aproveitem as possibilidades que hoje existem de estudarem noutros países, conhecendo outras culturas e alargando horizontes.
A nossa tarefa é incentivá-los a irem.
A nossa exigência é criarmos condições para regressem e nos tragam o Mundo e partilhem connosco tudo quanto viveram na sua vida académica. Esse sim, é o nosso desafio. Não nos podemos continuar a dar ao luxo de ver partir os nossos jovens sem lhes oferecermos a oportunidade de regressarem e aqui construírem a sua vida com todos os benefícios para a comunidade.
Para isso, é preciso investir a sério em emprego, na sustentabilidade ambiental, na cultura (e não apenas numa política de realização eventos culturais), na habitação e no desenvolvimento integral do território, da cidade às freguesias rurais, promovendo o seu povoamento e a sua revitalização.
Enfim, dar as boas vindas aqueles que podem construir um outro futuro para a nossa terra.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
|
Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |