Warning: file_get_contents(http://api.facebook.com/restserver.php?method=links.getStats&urls=www.jornaltorrejano.pt%2Fopiniao%2Fnoticia%2F%3Fn-28799365): failed to open stream: HTTP request failed! HTTP/1.1 400 Bad Request in /htdocs/public/www/inc/inc_pagina_noticia.php on line 148
Jornal Torrejano
 • SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Domingo, 06 Julho 2025    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Qua.
 34° / 17°
Períodos nublados
Ter.
 36° / 17°
Céu limpo
Seg.
 35° / 17°
Períodos nublados
Torres Novas
Hoje  31° / 18°
Céu limpo
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

QUE PARECENDO SER PLURAL E DIVERSO - margarida trindade

Opinião  »  2020-09-28  »  Margarida Trindade

"A defesa da mutilação intelectual é só o primeiro passo para essa vitória da barbárie. "

Em cima da mesa da cozinha, em casa dos meus avós, havia sempre um último número do Jornal de Abrantes. A lembrança é de umas folhas muito brancas e rígidas, de um jornal que à época já me parecia antigo, e era comparado com o Expresso ou com A Capital — outros jornais que me habituei a ver também em cima de outra mesa, na sala de estar da casa dos meus pais.

O meu avô materno era, apesar de tudo, um homem esclarecido. Um homem do campo, trabalhador rural, republicano que lia sem falhar o jornal local que trazia para cima da mesa da cozinha, e onde permanecia os dias suficientes para que fosse absorvido devagar e durasse até que um novo número o pudesse substituir. Aprendeu solfejo e tocava trompete na banda filarmónica. Um homem do seu tempo, num Portugal pobre e descalço.

Outros tempos, em que os dias começavam de madrugada e davam para ir e vir para os campos, para a horta, para a mata, para as refeições de couves-com-feijão e pão-de-milho, se o havia, e onde não falhava um copito ou dois de vinho tinto.
O Domingo servia para ir à missa, fazer a barba, e ler devagar o jornal, poupando cada artigo, cada coluna, a ver se as páginas ainda por ler duravam até ao final do mês, como de resto os tostões ou o folhetim diário na rádio que ia esticando os dias. Os mais frios junto ao lume, os mais quentes ao relento, debaixo do escuro do céu.

Dos cinco filhos dos meus avós maternos, dos outros não sei, mas a mais velha foi para a escola já ensinada a ler. Precisamente, letra a letra, no Jornal de Abrantes, recurso só, mas certo, para a vontade de saber mais, de estar a par do mundo.
Quis então o meu avô que a filha, que aprendeu cedo a juntar as letras, fosse já apetrechada com esta ferramenta, ao tempo ainda pouco consagrada a mulheres, para a escola primária, a leitura.

Um avanço, aliás, que lhe valeu para a vida toda. Sem com certeza se dar conta disso, o meu avô fez da filha uma mulher que mais do que juntar letras foi, e é, interventiva, esclarecida, informada, activa na política e na sociedade, à sua maneira. Resultou, no caso, numa mulher de vanguarda, que sempre pensou pela sua cabeça. Ofereceu-me os primeiros livros juvenis sobre sexualidade, as primeiras memórias do Doutor Jivago ou de As Vinhas da Ira. Um perigo, portanto, que encaixaria num qualquer index onomástico que por conta de certas opiniões deveria vigorar no ensino público para afastar da escola o livre pensamento ou a emancipação intelectual.

Ouvi dizer que há para aí quem defenda mutilações físicas. Não admira. A defesa da mutilação intelectual é só o primeiro passo para essa vitória da barbárie.
Nas memórias que guardo do meu avô, tenho grata a lembrança daquele jornal que ali vivia em sua casa. Quantas vezes, em meios menos favorecidos como era o da maioria dos portugueses que morava no interior de Portugal em meados do século passado, não foi a imprensa local e regional o veículo do livre pensamento que insistiu em sobreviver, apesar da pobreza continuar a teimar.

Neste tempo em que a velocidade dos dias nos suprimiu a capacidade de escutar mais do que uma massa de pensamento único, que parecendo ser plural e diverso não o é (nem dá muito jeito que seja), importa continuar a apoiar e a ler a imprensa local e regional, quantas vezes o raro balão de oxigénio e a única consciência de alerta, nas margens de um rio em cuja corrente, por inércia ou comodismo, nos vamos deixando arrastar e submergir.

 

 

 Outras notícias - Opinião


Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais »  2025-07-03  »  Jorge Carreira Maia

 

Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita.
(ler mais...)


Encontros »  2025-06-06  »  Jorge Carreira Maia

Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega.
(ler mais...)


Os fraudulentos - acácio gouveia »  2025-05-17  »  Acácio Gouveia

"Hire a clown, get a circus" *

Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades.
(ler mais...)


Um novo Papa - jorge carreira maia »  2025-05-17 

A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista.
(ler mais...)


Muito mais contrariedades tive... »  2025-05-12  »  Hélder Dias

Z?... »  2025-05-12  »  Hélder Dias

Trump... Papa?? »  2025-05-08  »  Hélder Dias

Menino... »  2025-05-01  »  Hélder Dias

A minha casinha... »  2025-05-01  »  Hélder Dias

Entrevistador... »  2025-03-31  »  Hélder Dias
 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2025-06-06  »  Jorge Carreira Maia Encontros
»  2025-07-03  »  Jorge Carreira Maia Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais