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Memória: papel ou impacto em nós - maria augusta torcato

Opinião  »  2024-02-22  »  Maria Augusta Torcato

"Os nossos hábitos rotineiros e quotidianos realizam-se através da memória e nós nem damos conta disso."

Não veio do nada este tema, proposto aos meus alunos, para reflectirem e treinarem o domínio da escrita. Ele é recorrente em textos que lemos e analisamos e ainda foi discutido na sequência do visionamento de um filme, cuja personagem principal sofre de alzheimer.

Este processo de nos debruçarmos sobre algo que nos é inerente, mas tão intrínseco que nem nos lembramos da sua existência e do seu impacto na nossa vida, torna-se, muitas vezes, um desafio, uma exigência ou uma emergência.

Dizemos muitas vezes “era melhor não nos lembrarmos”, perante o que nos desagrada e causa mágoa. Mas será que temos mesmo noção do que estamos a dizer ou a pedir? Será que temos mesmo noção do que é não nos lembrarmos, ou seja, não termos memória?

Os nossos hábitos rotineiros e quotidianos realizam-se através da memória e nós nem damos conta disso. Se acordarmos e não tivermos memória? Será que sabemos quem somos, onde estamos, o que temos de fazer, para onde temos de ir? Torna-se assustador ter consciência desta nossa dependência e fragilidade. Se não tenho memória, não sei quem sou ou onde estou. Sou sem ser. E isto pode mesmo acontecer sem que eu o lembre, porque é mesmo por não conseguir lembrar que isso acontece. Estar perdido sem se perceber isso. Uma ausência em presença, ou uma presença em ausência.

Penso, muitas vezes, que a memória é o melhor que tenho. Eu sou memória. Eu sou a súmula do que a minha memória tem reunido e cruzado ou tecido ou emaranhado (como a tapeçaria de Clio) neste percurso de existência. Por ela, amo as pessoas que amo, por ela posso escolher, por ela posso desejar, por ela sinto os espaços e os ambientes como elementos a que pertenço ou não, por ela continuo a sonhar, por ela continuo a ser eu. Um “eu” que se procura aperfeiçoar, já que a memória ainda lho permite.

Às vezes tenho pequenas falhas de memória. Falha uma palavra cirúrgica naquela conversa, falha um nome de alguém que, por acaso, se encontrou, falha uma hora combinada (talvez para algo pouco importante), falha a compra do produto que nos levou ao supermercado, falha a arrumação do martelo, da tesoura ou de outros instrumentos no sítio certo, o que nos desprograma o que programámos na nossa memória, falha até alguma orientação no espaço, em determinados momentos: Onde estou? O que estou aqui a fazer? O que vinha aqui buscar? Não acredito que vim parar aqui outra vez! Atribuo-as, estas e outras falhas, ao tempo, ao tempo que eu já tenho, mas não deixo de recear um porvir em que a traição da memória será mesmo má e efectiva. Haverá, todavia, algum alívio na dor, já que a memória, ou a falta dela, mo oferecerá. Como nos diz Pessoa, não pensar evita o sofrimento (será?).

Valorizemos e reconheçamos o papel, o impacto e a importância da memória na nossa vida, na nossa existência individual e colectiva. É ela que nos define, é ela que nos permite a construção da nossa história e da nossa História.

No que me diz respeito, neste ano da graça de 2024, em que se sinalizam os cinquenta anos do 25 de Abril, agradeço à minha memória. Agradeço-lhe muitas coisas. Agradeço-lhe o facto de nunca me ter abandonado nos momentos em que era mesmo necessária, pelo menos no essencial. Agradeço-lhe o facto de me continuar a lembrar de onde vim e onde estou. Agradeço-lhe o facto de me permitir ser um ser individual, social, interveniente e crítico, que tem a responsabilidade de ajudar a construir e a reconstruir, a começar e a recomeçar, partes do mundo que, de tão mal estão, parece que a memória dos homens se perdeu. Parece mesmo que se derramou sobre todos nós, o mundo em geral, uma névoa que provoca esquecimento e cegueira, fazendo com que uma sombra, em crescendo para escuridão, alastre a cada dia.

 

 

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