O burro da Cardiga - joão carlos lopes
Vertendo a prosápia para politicamente correcto, e como assegura dito antigo, mais depressa se apanha uma pessoa dada a fantasias e à deturpação da realidade do que um cidadão com deficiência ao nível da locomoção. Vem, a propósito, o caso de um autarca, que há pouco tempo e na companhia de uma dúzia de outros autarcas, terçou armas pela urgência de um aeroporto regional em Tancos, com manifesto e tudo, ter vindo agora defender a solução Casével/São Vicente de Paúl e, à pala dessa nova mística visão, ter assegurado que uma data de associações ambientalistas tinha dado o seu aval ao aeroporto ali abaixo dos Casais Novos. Para seu infortúnio, como se não bastasse o caso do bólide estampado, o caso da clínica da dor, o caso do passeio turístico da PJ para deter dois particulares que por acaso trabalhavam no urbanismo, o caso das chaminés derrubadas à hora marcada, a recente sentença a condená-lo ao pagamento de uma multa diária de 46 euros até cumprir a obrigação de demolir uma construção ilegal, num caso que se arrasta apenas desde 2015, sim, 2015, e isto para não irmos mais longe, vem agora o representante de 9 organizações não-governamentais da área do ambiente dizer que o nosso autarca disse graves inverdades, exigindo que o mesmo se retrate do que disse na próxima reunião da assembleia municipal, fórum onde ele dissertou sobre o assunto no passado dia 27 de Abril e onde anteriormente vacilou na hora de enfrentar a verdade.
Haja saúde. Agora, a perspectiva da nova direcção executiva do SNS, nomeada pelo Governo, é caminhar na instalação de ULS (Unidades Locais de Saúde) em todo o território, uma mudança orgânica que integra cuidados primários (rede de centros e extensões de saúde) e cuidados hospitalares (hospitais) sob a mesma administração, gestão e planeamento numa determinada região. No nosso caso, a rede de centros de saúde do ACES do Médio Tejo e os três hospitais que formavam o CHMT, vão unir-se numa mega-estrutura chamada Unidade Local de Saúde (estranho, uma entidade que agrupa uma dúzia de municípios, metade de um distrito, e dezenas de estruturas, chamar-se “local”, mas isso são amendoins). Registe-se que já foi à pala desta mudança, que está a acontecer a todo o momento, e dos seus difíceis trabalhos, que se tem justificado o não conseguimento da colocação de médicos de família por esses ermos inóspitos de Chancelarias e afins. O presidente da administração do CHMT, agora a coordenar a comissão que há-de coordenar a integração desta ULS do Médio Tejo, já disse que está tudo a correr bem e que a equipa já está a estudar o necessário “plano de negócios”. Não sei por que é que se estão a rir.
Até porque o país é finalmente soberano na produção de frutos secos, não precisando de importar mais amêndoas e nozes. Realizou-se inclusivamente há semanas o Congresso da Associação Nacional de Promoção dos Frutos Secos, que reúne dezenas de produtores do Alentejo e das Beiras, e até do Ribatejo (Almeirim, Chamusca, Alpiarça). Na “capital” dos ditos secos, nada disto tem qualquer incidência. A “feira nacional”, saída desses míticos anos 80, foi para a época uma piada de mau gosto, uma ficção talvez explicável pelo voluntarismo bisonho associado ao nascimento da nova cidade que queria deixar de ser, gloriosamente, uma vila. Da “capital do circo” à “capital do cavalo” e ao berço do mutualismo foi uma saga gloriosa de alucinações e avistamentos. Mas os limites da ficção não são cena que assista à turma cá da terra. Todos à uma, votaram há dias, sem pestanejar, a adesão de Torres Novas à Associação dos Municípios do Cavalo. Não sei por que se estão a rir outra vez. Vou mais longe: dando largas a uma tradição fortemente arreigada nas terreolas aqui à volta, Torres Novas bem podia associar-se à Barquinha, ao Entroncamento e à Golegã e formar a Associação dos Municípios do Burro da Cardiga, associando metaforicamente a carga simbólica da asinina e mítica personagem aos valores do marialvismo ribatejano, à sempre priapíssima altivez do campino da borda de água e à fadistagem das touradas e da pândegas, valores sagrados do nosso património cultural imaterial.
A ficção das bicicletas, que teimam em não aparecer e ameaçam não aparecer nunca, que a terra nunca foi dada ao pedal derivado à sua topografia, também não é coisa que atormente a comissão de obras e as centenas de milhares que se vão gastando nesse teimoso capricho. O episódio mais recente foi o arranque de árvores que ladeavam os pavilhões desportivos da Silvã, as quais ameaçavam esboroar o talude verde, arrancar o alcatrão, derrubar os prédios em frente, tudo do pior, numa catástrofe de proporções bíblicas. Arranquem-se, pois. Aliás, qualquer episódio recente em Torres Novas passa sempre pelo arranque de árvores, todas por aí a cair como se praga do Egipto de tivesse abatido sobre este rincão. Pensava-se, entretanto, como em qualquer lado se faz, que bastava refazer um murete de 40 centímetros para segurar as terras, agora livres dos monstros assassinos, mantendo um plano verde a ladear a avenida. Não: eis que surge um medonho muro de betão de 1,80 a emparedar a avenida, um crime estético e urbanístico, o assassínio de uma via urbana, um muro da vergonha que só tem paralelo no também criminoso assassínio do campo de jogos José Torres, onde em vez da prevista e previsível bancada se emparedou o rectângulo de jogo com um muro prisional de grande categoria, que mede meças ao de Tijuana da fronteira do México com os Estados Unidos.
A equipa neste momento em campo teve dez anos, uma década, de meios e largueza suficiente nas periferias da terrinha para criar, rasgar horizontes, inovar, fazer crescer a cidade. Exceptuando duas obras de excelência, o parque Almonda e a Central do Caldeirão, limitou-se com obstinada obsessão a arrancar, partir, escavacar e destruir em cima do que está feito. Continua, para nossos pecados e de modo a colocar Torres Novas no mapa nacional do ridículo, com a mania de construir, como piscina de verão, uma banheira ao lado da actual piscina de inverno, escavacando o jardim e o que está construído e carregando mais a margem do rio que devia ser desafogada. A geração futura sabe que, a médio prazo, a própria piscina de inverno actual terá de sair dali para libertar a margem do rio e instalar-se em local com bons acessos e possibilidade de expansão. Vejam-se onde estão as novas piscinas de Abrantes, do Entroncamento ou de Santarém. Aliás, rasgar o futuro seria pensar um complexo de piscinas em zona de expansão da cidade, onde se aliasse a nave de Inverno às piscinas de recreio de verão, unindo recursos, logísticas e funcionalidades.
Rasgar o futuro sabe o reitor do Santuário de Fátima, que diz ser a Jornada Mundial da Juventude (falta dizer da juventude católica apostólica romana, um pequeno nada) “uma oportunidade única para projectar Fátima junto dos mais jovens”. Vou ali e já venho.
O burro da Cardiga - joão carlos lopes
Vertendo a prosápia para politicamente correcto, e como assegura dito antigo, mais depressa se apanha uma pessoa dada a fantasias e à deturpação da realidade do que um cidadão com deficiência ao nível da locomoção. Vem, a propósito, o caso de um autarca, que há pouco tempo e na companhia de uma dúzia de outros autarcas, terçou armas pela urgência de um aeroporto regional em Tancos, com manifesto e tudo, ter vindo agora defender a solução Casével/São Vicente de Paúl e, à pala dessa nova mística visão, ter assegurado que uma data de associações ambientalistas tinha dado o seu aval ao aeroporto ali abaixo dos Casais Novos. Para seu infortúnio, como se não bastasse o caso do bólide estampado, o caso da clínica da dor, o caso do passeio turístico da PJ para deter dois particulares que por acaso trabalhavam no urbanismo, o caso das chaminés derrubadas à hora marcada, a recente sentença a condená-lo ao pagamento de uma multa diária de 46 euros até cumprir a obrigação de demolir uma construção ilegal, num caso que se arrasta apenas desde 2015, sim, 2015, e isto para não irmos mais longe, vem agora o representante de 9 organizações não-governamentais da área do ambiente dizer que o nosso autarca disse graves inverdades, exigindo que o mesmo se retrate do que disse na próxima reunião da assembleia municipal, fórum onde ele dissertou sobre o assunto no passado dia 27 de Abril e onde anteriormente vacilou na hora de enfrentar a verdade.
Haja saúde. Agora, a perspectiva da nova direcção executiva do SNS, nomeada pelo Governo, é caminhar na instalação de ULS (Unidades Locais de Saúde) em todo o território, uma mudança orgânica que integra cuidados primários (rede de centros e extensões de saúde) e cuidados hospitalares (hospitais) sob a mesma administração, gestão e planeamento numa determinada região. No nosso caso, a rede de centros de saúde do ACES do Médio Tejo e os três hospitais que formavam o CHMT, vão unir-se numa mega-estrutura chamada Unidade Local de Saúde (estranho, uma entidade que agrupa uma dúzia de municípios, metade de um distrito, e dezenas de estruturas, chamar-se “local”, mas isso são amendoins). Registe-se que já foi à pala desta mudança, que está a acontecer a todo o momento, e dos seus difíceis trabalhos, que se tem justificado o não conseguimento da colocação de médicos de família por esses ermos inóspitos de Chancelarias e afins. O presidente da administração do CHMT, agora a coordenar a comissão que há-de coordenar a integração desta ULS do Médio Tejo, já disse que está tudo a correr bem e que a equipa já está a estudar o necessário “plano de negócios”. Não sei por que é que se estão a rir.
Até porque o país é finalmente soberano na produção de frutos secos, não precisando de importar mais amêndoas e nozes. Realizou-se inclusivamente há semanas o Congresso da Associação Nacional de Promoção dos Frutos Secos, que reúne dezenas de produtores do Alentejo e das Beiras, e até do Ribatejo (Almeirim, Chamusca, Alpiarça). Na “capital” dos ditos secos, nada disto tem qualquer incidência. A “feira nacional”, saída desses míticos anos 80, foi para a época uma piada de mau gosto, uma ficção talvez explicável pelo voluntarismo bisonho associado ao nascimento da nova cidade que queria deixar de ser, gloriosamente, uma vila. Da “capital do circo” à “capital do cavalo” e ao berço do mutualismo foi uma saga gloriosa de alucinações e avistamentos. Mas os limites da ficção não são cena que assista à turma cá da terra. Todos à uma, votaram há dias, sem pestanejar, a adesão de Torres Novas à Associação dos Municípios do Cavalo. Não sei por que se estão a rir outra vez. Vou mais longe: dando largas a uma tradição fortemente arreigada nas terreolas aqui à volta, Torres Novas bem podia associar-se à Barquinha, ao Entroncamento e à Golegã e formar a Associação dos Municípios do Burro da Cardiga, associando metaforicamente a carga simbólica da asinina e mítica personagem aos valores do marialvismo ribatejano, à sempre priapíssima altivez do campino da borda de água e à fadistagem das touradas e da pândegas, valores sagrados do nosso património cultural imaterial.
A ficção das bicicletas, que teimam em não aparecer e ameaçam não aparecer nunca, que a terra nunca foi dada ao pedal derivado à sua topografia, também não é coisa que atormente a comissão de obras e as centenas de milhares que se vão gastando nesse teimoso capricho. O episódio mais recente foi o arranque de árvores que ladeavam os pavilhões desportivos da Silvã, as quais ameaçavam esboroar o talude verde, arrancar o alcatrão, derrubar os prédios em frente, tudo do pior, numa catástrofe de proporções bíblicas. Arranquem-se, pois. Aliás, qualquer episódio recente em Torres Novas passa sempre pelo arranque de árvores, todas por aí a cair como se praga do Egipto de tivesse abatido sobre este rincão. Pensava-se, entretanto, como em qualquer lado se faz, que bastava refazer um murete de 40 centímetros para segurar as terras, agora livres dos monstros assassinos, mantendo um plano verde a ladear a avenida. Não: eis que surge um medonho muro de betão de 1,80 a emparedar a avenida, um crime estético e urbanístico, o assassínio de uma via urbana, um muro da vergonha que só tem paralelo no também criminoso assassínio do campo de jogos José Torres, onde em vez da prevista e previsível bancada se emparedou o rectângulo de jogo com um muro prisional de grande categoria, que mede meças ao de Tijuana da fronteira do México com os Estados Unidos.
A equipa neste momento em campo teve dez anos, uma década, de meios e largueza suficiente nas periferias da terrinha para criar, rasgar horizontes, inovar, fazer crescer a cidade. Exceptuando duas obras de excelência, o parque Almonda e a Central do Caldeirão, limitou-se com obstinada obsessão a arrancar, partir, escavacar e destruir em cima do que está feito. Continua, para nossos pecados e de modo a colocar Torres Novas no mapa nacional do ridículo, com a mania de construir, como piscina de verão, uma banheira ao lado da actual piscina de inverno, escavacando o jardim e o que está construído e carregando mais a margem do rio que devia ser desafogada. A geração futura sabe que, a médio prazo, a própria piscina de inverno actual terá de sair dali para libertar a margem do rio e instalar-se em local com bons acessos e possibilidade de expansão. Vejam-se onde estão as novas piscinas de Abrantes, do Entroncamento ou de Santarém. Aliás, rasgar o futuro seria pensar um complexo de piscinas em zona de expansão da cidade, onde se aliasse a nave de Inverno às piscinas de recreio de verão, unindo recursos, logísticas e funcionalidades.
Rasgar o futuro sabe o reitor do Santuário de Fátima, que diz ser a Jornada Mundial da Juventude (falta dizer da juventude católica apostólica romana, um pequeno nada) “uma oportunidade única para projectar Fátima junto dos mais jovens”. Vou ali e já venho.
![]() O Jornal Torrejano entra nesta edição no seu trigésimo ano de publicações ininterruptas. Facto que é notável nos tempos que correm, com a felicidade de esta data e deste feito entrar pelo ano 2024, em que se comemoram os 50 anos da revolução de abril. |
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Em 1994 Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhac Rabin recebiam o Prémio Nobel da Paz, o mundo despedia-se de Airton Senna, Tom Jobin e Kurt Cobain, Nelson Mandela assumia a presidência de África do Sul, sendo o primeiro presidente negro daquele país, Berlusconi vencia as legislativas italianas, nascia Harry Styles. |
![]() O João Carlos Lopes tem toda a razão quando nos lembra a publicação ininterrupta do “Jornal Torrejano” a entrar nos 30 anos: é preciso assinalar, registar, comemorar e festejar este facto, quase 30 anos, caramba! Todos sabemos das dificuldades em manter jornais, sejam nacionais ou locais. |
![]() Em Setembro de 1994, com capa de João Carlos Lopes, era publicado o meu estudo Torres Novas nos Finais do Séc. XIX – Subsídios Históricos, onde se inseria um estudo sobre a Imprensa Regional no Concelho de Torres Novas (1853-1926), incluindo as fotografias da primeira página da imprensa aí publicada, desde 1853 a 1978. |
![]() …Eis-nos em mais uma manhã na vida de New Towers. O verão chega ao fim e traz temperaturas mais frescas. A frescura destes 43 graus matinais, tão comuns em final de setembro, são o anúncio da chegada da estação das chuvas. |
![]() O caso de um seleccionador de futebol que beija na boca uma jogadora. O caso de uma jornalista de televisão que é apalpada durante um directo. O caso de um Presidente da República que comenta a indumentária pouco resistente ao frio de uma mulher. |
![]() Há-de haver muito turista com dificuldade em perceber que certas cidades europeias, castelos, palácios, catedrais, aldeias históricas ou vistas panorâmicas, não foram projectadas por Júlios Vernes da arquitectura para serem parques de diversão do século XXI para os turistas fazerem selfies para o Instagram. |
![]() Como Garrett, resolvo viajar pela minha terra, não para subir o Tejo, mas para descer o viaduto rumo à avenida, o que só por si já é uma viagem que mistura três épocas distintas: a viril Idade Média, a ruralidade do século XIX e o urbanismo do século XX. |
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» 2023-09-06
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O Livro da Selva II |
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