Astrazeneca: não me peçam a decisão - inês vidal
"“Sou apenas uma cidadã que, consciente de que todos os medicamentos têm riscos, quer ser vacinada, já que essa é a única forma de sairmos deste estado, mas que espera fazê-lo confiante de que não é um"
Somos, desde muito cedo, chamados à responsabilidade pelo tanto que fazemos. Se somos obesos é porque comemos de mais, se temos cancro de pulmão deve-se aos maus hábitos que promovemos, se somos presos, foi porque cometemos um crime. Simples como isso: há uma causa, há um efeito e somos chamados a responder por ele. Há até um ditado popular para isso: “Quem boa cama fizer, nela se há-de deitar”.
Somos formatados para isso. Treinamos durante anos, desde que nascemos, para ser a pessoa perfeita, com aquele livre arbítrio de que Jorge Maia tanto me falou enquanto meu professor de filosofia. As escolhas somos nós que as fazemos, aliadas à responsabilidade que nos é incutida e as respectivas consequências haveremos de as acarretar. Somos criados entre limites, que nos ditam as normas pelas quais deveremos ter de nos reger, na tentativa de atingir aquela normalidade que alguém decidiu que o é, seja lá o que isso for...
Mas esse livre arbítrio, essa relação causal justificada, só o poderá efectivamente ser quando plenamente conscientes do que fazemos, quando na posse de todos os dados, recheados de uma sabedoria que nos permita sustentar uma decisão, seja ela aquela que esperam de nós, ou a outra, a que realmente temos vontade de tomar. Nunca o princípio poderá ser decidir sem ter em conta peso e medida. Nunca, especialmente se esse pedido vier exactamente de quem mais espera que sejamos sempre perfeitos, correctos, exemplos...
Sou mulher nascida, sou menor de 40 anos por acaso, sou jornalista de formação académica, directora de jornal por amor, técnica auxiliar de farmácia de profissão porque a vida (e minhas pensadas e consertadas decisões) aí me levaram. Foi ao abrigo deste meu último papel que fui uma das primeiras contempladas com uma vacina contra a Covid-19. Como não poderia deixar de ser, com a famosa vacina da Astrazeneca. E aqui estou eu: viva, bem de saúde, sem reacções de maior e desejando fervorosamente a segunda dose que, em primeira análise, me dotará de uma maior protecção contra esse vírus que nos veio fazer ver quão feio ou quão belo pode o mundo ser.
A sensivelmente duas semanas dessa eventual segunda dose, restam-me dúvidas sobre o que vai sobrar para mim (se me permitem a ironia desta frase). De acordo com estudos mais recentes (posteriores à minha primeira dose), esta vacina deverá ser idealmente atribuída apenas a pessoas com idade superior à minha, ficando eu à partida - caso se colocasse o estudo na prática - excluída dessa segunda fase.
Muito bem. A teoria é essa, mas o que acontece a seguir efectivamente? Terei de repetir todo o processo de vacinação? Ser-me-á dada uma vacina diferente? Ou, de acordo com zunzuns que correm para aí, serei eu, Maria Inês, mulher nascida, menos de 40 anos, jornalista de formação académica, directora de jornal por amor, técnica auxiliar de farmácia de profissão porque sim, chamada a decidir sobre o que é melhor para mim?
A mim, que como tantos outros na mesma situação, não sou especialista em vacinas, vai-me ser dito qualquer coisa como: “Se quiser a segunda dose é sua, sabendo à partida que poderá não ser indicada para a sua faixa etária. Se não quiser, espere até que percebamos o que vamos fazer consigo”.
Vamos lá ver se nos entendemos? Se eu fosse assim tão entendida em vacinas e saúde pública a ponto de decidir se deveria ou não dar continuidade à minha vacinação, marcava lugar nas reuniões de especialistas no Infarmed, o espaço mais indicado para explanar o meu ponto de vista. Mas todos sabemos que não é o caso. Sou apenas uma cidadã que, consciente de que todos os medicamentos têm riscos, quer ser vacinada, já que essa é a única forma de sairmos deste estado, mas que espera fazê-lo confiante de que não é um mero pontapé na sorte, mas sim de que os benefícios continuam a superar os riscos. E isso, não posso nunca ser eu a avaliar. Para isso existem comissões, task forces e direcções-geral de saúde.
Quero o meu passaporte verde. Se quero... Quero as vacinas que me conferirão protecção contra esse vírus que, ao que parece, mata. Mas não me perguntem que vacina vou levar. Decida quem sabe, em plena consciência do que isso me poderá, ou não, fazer. A mesma consciência previamente informada que eu levarei ao esticar o braço, confiando plenamente em quem tomar essa decisão. Desde que a tome. E alguém que saiba do assunto. Não eu, jornalista de formação, directora de jornal por amor, técnica auxiliar de farmácia de profissão, porque a vida assim quis.
Astrazeneca: não me peçam a decisão - inês vidal
“Sou apenas uma cidadã que, consciente de que todos os medicamentos têm riscos, quer ser vacinada, já que essa é a única forma de sairmos deste estado, mas que espera fazê-lo confiante de que não é um
Somos, desde muito cedo, chamados à responsabilidade pelo tanto que fazemos. Se somos obesos é porque comemos de mais, se temos cancro de pulmão deve-se aos maus hábitos que promovemos, se somos presos, foi porque cometemos um crime. Simples como isso: há uma causa, há um efeito e somos chamados a responder por ele. Há até um ditado popular para isso: “Quem boa cama fizer, nela se há-de deitar”.
Somos formatados para isso. Treinamos durante anos, desde que nascemos, para ser a pessoa perfeita, com aquele livre arbítrio de que Jorge Maia tanto me falou enquanto meu professor de filosofia. As escolhas somos nós que as fazemos, aliadas à responsabilidade que nos é incutida e as respectivas consequências haveremos de as acarretar. Somos criados entre limites, que nos ditam as normas pelas quais deveremos ter de nos reger, na tentativa de atingir aquela normalidade que alguém decidiu que o é, seja lá o que isso for...
Mas esse livre arbítrio, essa relação causal justificada, só o poderá efectivamente ser quando plenamente conscientes do que fazemos, quando na posse de todos os dados, recheados de uma sabedoria que nos permita sustentar uma decisão, seja ela aquela que esperam de nós, ou a outra, a que realmente temos vontade de tomar. Nunca o princípio poderá ser decidir sem ter em conta peso e medida. Nunca, especialmente se esse pedido vier exactamente de quem mais espera que sejamos sempre perfeitos, correctos, exemplos...
Sou mulher nascida, sou menor de 40 anos por acaso, sou jornalista de formação académica, directora de jornal por amor, técnica auxiliar de farmácia de profissão porque a vida (e minhas pensadas e consertadas decisões) aí me levaram. Foi ao abrigo deste meu último papel que fui uma das primeiras contempladas com uma vacina contra a Covid-19. Como não poderia deixar de ser, com a famosa vacina da Astrazeneca. E aqui estou eu: viva, bem de saúde, sem reacções de maior e desejando fervorosamente a segunda dose que, em primeira análise, me dotará de uma maior protecção contra esse vírus que nos veio fazer ver quão feio ou quão belo pode o mundo ser.
A sensivelmente duas semanas dessa eventual segunda dose, restam-me dúvidas sobre o que vai sobrar para mim (se me permitem a ironia desta frase). De acordo com estudos mais recentes (posteriores à minha primeira dose), esta vacina deverá ser idealmente atribuída apenas a pessoas com idade superior à minha, ficando eu à partida - caso se colocasse o estudo na prática - excluída dessa segunda fase.
Muito bem. A teoria é essa, mas o que acontece a seguir efectivamente? Terei de repetir todo o processo de vacinação? Ser-me-á dada uma vacina diferente? Ou, de acordo com zunzuns que correm para aí, serei eu, Maria Inês, mulher nascida, menos de 40 anos, jornalista de formação académica, directora de jornal por amor, técnica auxiliar de farmácia de profissão porque sim, chamada a decidir sobre o que é melhor para mim?
A mim, que como tantos outros na mesma situação, não sou especialista em vacinas, vai-me ser dito qualquer coisa como: “Se quiser a segunda dose é sua, sabendo à partida que poderá não ser indicada para a sua faixa etária. Se não quiser, espere até que percebamos o que vamos fazer consigo”.
Vamos lá ver se nos entendemos? Se eu fosse assim tão entendida em vacinas e saúde pública a ponto de decidir se deveria ou não dar continuidade à minha vacinação, marcava lugar nas reuniões de especialistas no Infarmed, o espaço mais indicado para explanar o meu ponto de vista. Mas todos sabemos que não é o caso. Sou apenas uma cidadã que, consciente de que todos os medicamentos têm riscos, quer ser vacinada, já que essa é a única forma de sairmos deste estado, mas que espera fazê-lo confiante de que não é um mero pontapé na sorte, mas sim de que os benefícios continuam a superar os riscos. E isso, não posso nunca ser eu a avaliar. Para isso existem comissões, task forces e direcções-geral de saúde.
Quero o meu passaporte verde. Se quero... Quero as vacinas que me conferirão protecção contra esse vírus que, ao que parece, mata. Mas não me perguntem que vacina vou levar. Decida quem sabe, em plena consciência do que isso me poderá, ou não, fazer. A mesma consciência previamente informada que eu levarei ao esticar o braço, confiando plenamente em quem tomar essa decisão. Desde que a tome. E alguém que saiba do assunto. Não eu, jornalista de formação, directora de jornal por amor, técnica auxiliar de farmácia de profissão, porque a vida assim quis.
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