Cogitações por causa do 25 de Novembro e dos avanços da extrema-direita - antónio mário santos
Opinião » 2024-06-23 » António Mário Santos
No momento em que do centro direita à direita radical, aproveitando a viragem das últimas eleições legislativas, se organizou uma associação de interesses para diminuir o 25 de Abril, realçando o golpe militar do 25 de Novembro, num crescendo de recuperação selectiva do revanchismo das elites económicas destronadas pela revolução, ultrapassando a concepção social-democrata do próprio PS (Manuel Alegre distingue-o nas suas Memórias Minhas, criticando a viragem para a 3ª via de Blair, continuando a preferir chamar ao seu partido, por inteiro, Partido Socialista), abriu-se um clamoroso protesto nos órgãos de informação nacionais.
É que o golpe militar do 25 de Novembro, ainda hoje, não está suficientemente esclarecido. Para quem se julga dono da verdade, aconselho a última obra da historiadora Irene Flunser Pimentel, “Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975 – Episódios menos conhecidos”, onde ela escreve «As opiniões sobre o que se se passou em 25 de Novembro de1975 dividem-se consoante o lugar no espectro político em que são expressas (pg. 393)». E, para melhor compreensão, debrucem-se sobre o capítulo “O 25 de Novembro de 1975” (pp.385-413), apoiando-se nas fontes e bibliografia do estudo citado.
Sou um dos, por opção, na altura, pelo lado revolucionário, quereria ir até ao fundo do esclarecimento. Porque não sei quem ganhou ao certo, parafraseando Eduardo Lourenço. Mas sei quem, divergindo deste, perdeu: toda a esquerda, não só a esquerda civil e militar revolucionária, com o PCP e o MDP/CDE, os católicos progressistas, mas, inclusive, a que julgou ter, na época, vencido - o PS, de Mário Soares e Zenha; o grupo militar social-democrata e moderado dos Nove; o comandante operacional Ramalho Eanes; o presidente da República, Francisco Costa Gomes.
Foi um movimento fracturante, onde Melo Antunes veio, antecipando-se ao desejo revanchista militar da extrema-direita, sob a chefia de Kaúlza de Arriaga, afirmar que se iria reencaminhar a revolução para o socialismo democrático e que o PCP era necessário para esse caminho. Talvez, por isso, continue a ser um incómodo para a direita o comentário de Ramalho Eanes na entrevista cedida em 24/11/2015, e publicado no jornal Público: «Momentos fracturantes não se comemoram, recordam-se». (cit, pg.393, nota 20).
50 anos depois da Revolução de Abril, há ainda uma direita que tenta ajustar contas, legislativamente, com aquela, tentando superá-la, por um ressabiado 25 de Novembro.
Aprovadas que foram as celebrações anuais na Assembleia da República do 25 de Novembro, dentro do espírito da viragem europeia para o autoritarismo que a extrema-direita está a reintroduzir nos países da União Europeia, colocando e democracia pluralista e as conquistas sociais em perigo, o sobressalto da possível vitória de Marine Le Pen em França contra um narcisista prepotente e anti-social Macron, veio fazer algo que, como sempre, nasce neste país, desde a Revolução Francesa, e influencia todos os países europeus. E, porque não dizê-lo, o mundo.
Ante a ameaça dum regresso a uma França nacionalista, antidemocrática e antieuropeia, a esquerda francesa, quase sempre dividida, sofreu um tremendo sobressalto. E uniu-se numa Nova Frente Popular, onde se insere o Partido Socialista, a França Insubmissa, os Verdes, o Partido Comunista, a Praça Pública, outros partidos e movimentos menores, num plano comum. E vai defrontar Macron e Le Pen, nas próximas eleições legislativas, do fim do mês de junho.
A ver vamos, se as esquerdas dos países da União Europeia conseguem ultrapassar as suas quezílias ideológicas e entram no ciclo da Nova Frente Popular francesa!
A perda da influência da esquerda nas novas gerações e em muitos estratos do operariado, pequena e média burguesia, são reais. Meter a cabeça na areia e papaguear vitórias com cada vez menos votos e menos apoios, é uma política suicida. As pessoas querem os seus problemas concretos discutidos e resolvidos. Querem uma relação directa entre eleitor e eleito. Querem fazer-se ouvir e não serem representados por gente que nem conhecem. As esquerdas europeias, ou se interrogam, ou se discutem, ou, caso o ignorem, serão ultrapassadas por novos movimentos sociais.
Em Portugal, as comemorações na Assembleia da República do 25 de Novembro irão ser um dos exemplos do descrédito de toda e esquerda, se a direita introduzir naquela a sua bandeira de revisionismo falsificador. Será que vão realçar a acção de Mário Soares, Zenha, Melo Antunes e de Costa Gomes, de Vasco Lourenço, mesmo de Álvaro Cunhal? Ou optar pela moca de Rio Maior? Pela restauração dos Pides e do MDLP?
O socialismo luso nunca mais sairá da gaveta?
Cogitações por causa do 25 de Novembro e dos avanços da extrema-direita - antónio mário santos
Opinião » 2024-06-23 » António Mário SantosNo momento em que do centro direita à direita radical, aproveitando a viragem das últimas eleições legislativas, se organizou uma associação de interesses para diminuir o 25 de Abril, realçando o golpe militar do 25 de Novembro, num crescendo de recuperação selectiva do revanchismo das elites económicas destronadas pela revolução, ultrapassando a concepção social-democrata do próprio PS (Manuel Alegre distingue-o nas suas Memórias Minhas, criticando a viragem para a 3ª via de Blair, continuando a preferir chamar ao seu partido, por inteiro, Partido Socialista), abriu-se um clamoroso protesto nos órgãos de informação nacionais.
É que o golpe militar do 25 de Novembro, ainda hoje, não está suficientemente esclarecido. Para quem se julga dono da verdade, aconselho a última obra da historiadora Irene Flunser Pimentel, “Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975 – Episódios menos conhecidos”, onde ela escreve «As opiniões sobre o que se se passou em 25 de Novembro de1975 dividem-se consoante o lugar no espectro político em que são expressas (pg. 393)». E, para melhor compreensão, debrucem-se sobre o capítulo “O 25 de Novembro de 1975” (pp.385-413), apoiando-se nas fontes e bibliografia do estudo citado.
Sou um dos, por opção, na altura, pelo lado revolucionário, quereria ir até ao fundo do esclarecimento. Porque não sei quem ganhou ao certo, parafraseando Eduardo Lourenço. Mas sei quem, divergindo deste, perdeu: toda a esquerda, não só a esquerda civil e militar revolucionária, com o PCP e o MDP/CDE, os católicos progressistas, mas, inclusive, a que julgou ter, na época, vencido - o PS, de Mário Soares e Zenha; o grupo militar social-democrata e moderado dos Nove; o comandante operacional Ramalho Eanes; o presidente da República, Francisco Costa Gomes.
Foi um movimento fracturante, onde Melo Antunes veio, antecipando-se ao desejo revanchista militar da extrema-direita, sob a chefia de Kaúlza de Arriaga, afirmar que se iria reencaminhar a revolução para o socialismo democrático e que o PCP era necessário para esse caminho. Talvez, por isso, continue a ser um incómodo para a direita o comentário de Ramalho Eanes na entrevista cedida em 24/11/2015, e publicado no jornal Público: «Momentos fracturantes não se comemoram, recordam-se». (cit, pg.393, nota 20).
50 anos depois da Revolução de Abril, há ainda uma direita que tenta ajustar contas, legislativamente, com aquela, tentando superá-la, por um ressabiado 25 de Novembro.
Aprovadas que foram as celebrações anuais na Assembleia da República do 25 de Novembro, dentro do espírito da viragem europeia para o autoritarismo que a extrema-direita está a reintroduzir nos países da União Europeia, colocando e democracia pluralista e as conquistas sociais em perigo, o sobressalto da possível vitória de Marine Le Pen em França contra um narcisista prepotente e anti-social Macron, veio fazer algo que, como sempre, nasce neste país, desde a Revolução Francesa, e influencia todos os países europeus. E, porque não dizê-lo, o mundo.
Ante a ameaça dum regresso a uma França nacionalista, antidemocrática e antieuropeia, a esquerda francesa, quase sempre dividida, sofreu um tremendo sobressalto. E uniu-se numa Nova Frente Popular, onde se insere o Partido Socialista, a França Insubmissa, os Verdes, o Partido Comunista, a Praça Pública, outros partidos e movimentos menores, num plano comum. E vai defrontar Macron e Le Pen, nas próximas eleições legislativas, do fim do mês de junho.
A ver vamos, se as esquerdas dos países da União Europeia conseguem ultrapassar as suas quezílias ideológicas e entram no ciclo da Nova Frente Popular francesa!
A perda da influência da esquerda nas novas gerações e em muitos estratos do operariado, pequena e média burguesia, são reais. Meter a cabeça na areia e papaguear vitórias com cada vez menos votos e menos apoios, é uma política suicida. As pessoas querem os seus problemas concretos discutidos e resolvidos. Querem uma relação directa entre eleitor e eleito. Querem fazer-se ouvir e não serem representados por gente que nem conhecem. As esquerdas europeias, ou se interrogam, ou se discutem, ou, caso o ignorem, serão ultrapassadas por novos movimentos sociais.
Em Portugal, as comemorações na Assembleia da República do 25 de Novembro irão ser um dos exemplos do descrédito de toda e esquerda, se a direita introduzir naquela a sua bandeira de revisionismo falsificador. Será que vão realçar a acção de Mário Soares, Zenha, Melo Antunes e de Costa Gomes, de Vasco Lourenço, mesmo de Álvaro Cunhal? Ou optar pela moca de Rio Maior? Pela restauração dos Pides e do MDLP?
O socialismo luso nunca mais sairá da gaveta?
AINDA HÁ CALENDÁRIOS ? - josé mota pereira » 2024-12-31 » José Mota Pereira Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
É um banco, talvez, feliz! - maria augusta torcato » 2024-11-14 » Maria Augusta Torcato É um banco, talvez, feliz! Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz! E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar. |
Mérito e inveja - jorge carreira maia » 2024-11-14 » Jorge Carreira Maia O milagre – a eventual vitória de Kamala Harris nas eleições norte-americanas – esteve longe, muito longe, de acontecer. Os americanos escolheram em consciência e disseram claramente o que queriam. Não votaram enganados ou iludidos; escolheram o pior porque queriam o pior. |
O vómito » 2024-10-26 » Hélder Dias |
30 anos: o JT e a política - joão carlos lopes » 2024-09-30 » João Carlos Lopes Dir-se-ia que três décadas passaram num ápice. No entanto, foram cerca de 11 mil dias iguais a outros 11 mil dias dos que passaram e dos que hão-de vir. Temos, felizmente, uma concepção e uma percepção emocional da história, como se o corpo vivo da sociedade tivesse os mesmos humores da biologia humana. |
Não tenho nada para dizer - carlos tomé » 2024-09-23 » Carlos Tomé Quando se pergunta a alguém, que nunca teve os holofotes apontados para si, se quer ser entrevistado para um jornal local ou regional, ele diz logo “Entrevistado? Mas não tenho nada para dizer!”. Essa é a resposta que surge mais vezes de gente que nunca teve possibilidade de dar a sua opinião ou de contar um episódio da sua vida, só porque acha que isso não é importante, Toda a gente está inundada pelos canhenhos oficiais do que é importante para a nossa vida e depois dessa verdadeira lavagem ao cérebro é mais que óbvio que o que dizem que é importante está lá por cima a cagar sentenças por tudo e por nada. |
Três décadas a dar notícias - antónio gomes » 2024-09-23 » António Gomes Para lembrar o 30.º aniversário do renascimento do “Jornal Torrejano”, terei de começar, obrigatoriamente, lembrando aqui e homenageando com a devida humildade, o Joaquim da Silva Lopes, infelizmente já falecido. |
Numa floresta de lobos o Jornal Torrejano tem sido o seu Capuchinho Vermelho - antónio mário santos » 2024-09-23 » António Mário Santos Uma existência de trinta anos é um certificado de responsabilidade. Um jornal adulto. Com tarimba, memória, provas dadas. Nasceu como uma urgência local duma informação séria, transparente, num concelho em que a informação era controlada pelo conservadorismo católico e o centrismo municipal subsidiado da Rádio Local. |
Trente Glorieuses - carlos paiva » 2024-09-23 » Carlos Paiva Os gloriosos trinta, a expressão original onde me fui inspirar, tem pouco que ver com longevidade e muito com mudança, desenvolvimento, crescimento, progresso. Refere-se às três décadas pós segunda guerra mundial, em que a Europa galopou para se reconstruir, em mais dimensões que meramente a literal. |
30 anos contra o silêncio - josé mota pereira » 2024-09-23 » José Mota Pereira Nos cerca de 900 anos de história, se dermos como assente que se esta se terá iniciado com as aventuras de D. Afonso Henriques nesta aba da Serra de Aire, os 30 anos de vida do “Jornal Torrejano”, são um tempo muito breve. |
» 2024-12-31
» José Mota Pereira
AINDA HÁ CALENDÁRIOS ? - josé mota pereira |