Um acto de compensação
Opinião » 2016-03-02 » Jorge Carreira Maia"A situação política de Cavaco Silva é desastrosa. O político mais vitorioso, que mais poder teve para conformar os destinos do país, sai de Belém execrado à esquerda, olhado com condescendência à direita, completamente isolado. "
Tornou-se, nos últimos tempos, alvo de chacota pública o afã com que o Presidente da República (PR) distribui condecorações. Uma condecoração é sempre o reconhecimento público de um mérito. Não vou discutir a virtude daqueles que foram contemplados pela enxurrada de medalhas que brotou em Belém. Mais interessante que isso é compreender a mensagem subliminar que o actual PR – ou o seu inconsciente – nos está a enviar.
A generosidade com que reconhece, através da condecoração, inúmeros membros da sociedade portuguesa é o sintoma do desejo que nele habita de, ao sair da presidência, ser reconhecido e amado pelos portugueses. A situação política de Cavaco Silva é desastrosa. O político mais vitorioso, que mais poder teve para conformar os destinos do país, sai de Belém execrado à esquerda, olhado com condescendência à direita, completamente isolado.
Poderíamos dizer que a realidade política e a malevolência humana destrataram Cavaco Silva. Faltaríamos, porém, à verdade. Cavaco Silva está a colher o que semeou em toda a sua longa e vitoriosa vida política. A semente foi a falsa máscara que criou. Explorando a animosidade dos portugueses perante as elites políticas, sempre fez questão de sublinhar que ele não era um político, que não se confundia com os outros, que a sua palavra era o voz da ciência e do saber e não a dos interesses em conflito. Esta mentira funciona enquanto há muito dinheiro para distribuir.
Cavaco sente que o país deseja que ele se vá rapidamente. Esta sensação de abandono é intensificada por uma humilhação política impensável em final de carreira. Não apenas teve de dar poder a um governo que ele não queria e a que se opôs para além do razoável, como esse governo é apoiado por aqueles que ele declarou como párias da democracia portuguesa. O que resta a um PR que acaba derrotado em tudo o que é essencial? Distribuir condecorações a eito, como se assim dissesse aos portugueses que ele – ele acima de todos os outros – merece o que agora não lhe dão. Um acto de compensação, uma súplica de reconhecimento.
Um acto de compensação
Opinião » 2016-03-02 » Jorge Carreira MaiaA situação política de Cavaco Silva é desastrosa. O político mais vitorioso, que mais poder teve para conformar os destinos do país, sai de Belém execrado à esquerda, olhado com condescendência à direita, completamente isolado.
Tornou-se, nos últimos tempos, alvo de chacota pública o afã com que o Presidente da República (PR) distribui condecorações. Uma condecoração é sempre o reconhecimento público de um mérito. Não vou discutir a virtude daqueles que foram contemplados pela enxurrada de medalhas que brotou em Belém. Mais interessante que isso é compreender a mensagem subliminar que o actual PR – ou o seu inconsciente – nos está a enviar.
A generosidade com que reconhece, através da condecoração, inúmeros membros da sociedade portuguesa é o sintoma do desejo que nele habita de, ao sair da presidência, ser reconhecido e amado pelos portugueses. A situação política de Cavaco Silva é desastrosa. O político mais vitorioso, que mais poder teve para conformar os destinos do país, sai de Belém execrado à esquerda, olhado com condescendência à direita, completamente isolado.
Poderíamos dizer que a realidade política e a malevolência humana destrataram Cavaco Silva. Faltaríamos, porém, à verdade. Cavaco Silva está a colher o que semeou em toda a sua longa e vitoriosa vida política. A semente foi a falsa máscara que criou. Explorando a animosidade dos portugueses perante as elites políticas, sempre fez questão de sublinhar que ele não era um político, que não se confundia com os outros, que a sua palavra era o voz da ciência e do saber e não a dos interesses em conflito. Esta mentira funciona enquanto há muito dinheiro para distribuir.
Cavaco sente que o país deseja que ele se vá rapidamente. Esta sensação de abandono é intensificada por uma humilhação política impensável em final de carreira. Não apenas teve de dar poder a um governo que ele não queria e a que se opôs para além do razoável, como esse governo é apoiado por aqueles que ele declarou como párias da democracia portuguesa. O que resta a um PR que acaba derrotado em tudo o que é essencial? Distribuir condecorações a eito, como se assim dissesse aos portugueses que ele – ele acima de todos os outros – merece o que agora não lhe dão. Um acto de compensação, uma súplica de reconhecimento.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |