Roçadora - rui anastácio
Opinião » 2020-06-07 » Rui Anastácio
Não simpatizo com generalizações. Tenho para mim que as generalizações estão na génese de todos os populismos. Em todas as tribos existem pessoas decentes e bem formadas. Há no entanto uma subespécie das pessoas que vivem em meio urbano, que eu designaria por “urbanoides”, que aparentemente se tem dado bem no nosso ecossistema, uma vez que parece haver cada vez mais indivíduos dessa subespécie.
São maioritariamente pessoas abaixo dos 35 anos, a quem, aparentemente, nunca faltou nada e que desconhecem que existem pessoas que trabalham 7 dias por semana, não porque tenham especial prazer nisso, mas porque disso necessitam para sobreviver com dignidade.
Vem isto a propósito de uma história que presenciei este fim-de-semana. Um casal jovem e simpático, a pernoitar numa aldeia, ficou absolutamente indignado porque uma pessoa da aldeia começou a limpar mato na proximidade das casas às 9 horas da madrugada de domingo, e essa perigosa actividade estava gravemente ferida de ilegalidade. Para o provar, de forma inequívoca, foi inclusive estabelecido um paralelo com o vizinho do prédio que pega no berbequim ao domingo de manhã.
Desconfio que também não terão simpatizado com o sino da aldeia, mas provavelmente o sino terá respondido com mais uma badalada, só para chatear. Já o respeitoso galo, sabendo que era domingo, nem se atreveu a cantar.
O pobre homem da roçadora limitou-se a responder que, normalmente nesta altura do ano, começa às 6 da manhã, mas que como era domingo resolveu não incomodar e por isso começar apenas às 9 horas, até porque a manhã já não iria render como habitualmente.
Esta pequena história poderá levar-nos a muitas interpretações e a algumas reflexões que eu deixo ao leitor. Pela minha parte, confesso que fico sobretudo preocupado com o facto de uma franja crescente da nossa sociedade parecer não fazer ideia de que existe um país a quem “deus não pôs a mão por baixo”. A continuarmos por este caminho, um dia, outros galos cantarão.
Roçadora - rui anastácio
Opinião » 2020-06-07 » Rui AnastácioNão simpatizo com generalizações. Tenho para mim que as generalizações estão na génese de todos os populismos. Em todas as tribos existem pessoas decentes e bem formadas. Há no entanto uma subespécie das pessoas que vivem em meio urbano, que eu designaria por “urbanoides”, que aparentemente se tem dado bem no nosso ecossistema, uma vez que parece haver cada vez mais indivíduos dessa subespécie.
São maioritariamente pessoas abaixo dos 35 anos, a quem, aparentemente, nunca faltou nada e que desconhecem que existem pessoas que trabalham 7 dias por semana, não porque tenham especial prazer nisso, mas porque disso necessitam para sobreviver com dignidade.
Vem isto a propósito de uma história que presenciei este fim-de-semana. Um casal jovem e simpático, a pernoitar numa aldeia, ficou absolutamente indignado porque uma pessoa da aldeia começou a limpar mato na proximidade das casas às 9 horas da madrugada de domingo, e essa perigosa actividade estava gravemente ferida de ilegalidade. Para o provar, de forma inequívoca, foi inclusive estabelecido um paralelo com o vizinho do prédio que pega no berbequim ao domingo de manhã.
Desconfio que também não terão simpatizado com o sino da aldeia, mas provavelmente o sino terá respondido com mais uma badalada, só para chatear. Já o respeitoso galo, sabendo que era domingo, nem se atreveu a cantar.
O pobre homem da roçadora limitou-se a responder que, normalmente nesta altura do ano, começa às 6 da manhã, mas que como era domingo resolveu não incomodar e por isso começar apenas às 9 horas, até porque a manhã já não iria render como habitualmente.
Esta pequena história poderá levar-nos a muitas interpretações e a algumas reflexões que eu deixo ao leitor. Pela minha parte, confesso que fico sobretudo preocupado com o facto de uma franja crescente da nossa sociedade parecer não fazer ideia de que existe um país a quem “deus não pôs a mão por baixo”. A continuarmos por este caminho, um dia, outros galos cantarão.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
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