Guerra na Ucrânia, Le Pen e nacionalismo - jorge carreira maia
"A invasão russa e a força da senhora Le Pen em França são sintomas de uma das doenças que contamina o mundo. O nacionalismo"
1. O primeiro derrotado da guerra na Ucrânia. Um dos postulados centrais do pensamento liberal é a crença de que a conexão comercial entre as nações as torna menos propensas à guerra. Foi por isso que parte substancial da União Europeia, com a Alemanha à cabeça, se tornou dependente da energia russa. Também o dinheiro dos oligarcas russos foi aceite com deferência pelos países europeus. Havia a convicção de que uma cada vez maior interconexão económica entre a União Europeia e a Rússia tornaria esta uma potência comercial pacífica. Essa crença mostrou-se falsa e perigosa. O que move os governos não é apenas o comércio, como os europeus estão a aprender desde 24 de Fevereiro. O postulado liberal da expansão comercial como factor de paz é o primeiro derrotado da guerra na Ucrânia.
2. A senhora Le Pen e o Estado de direito. Na última crónica escrevemos que quando os populistas chegam ao poder, o primeiro alvo é o Estado de direito. Como é que isso se aplicará em França, caso a senhora Le Pen ganhe as eleições de domingo? Segundo Jorge Almeida Fernandes, numa newsletter do Público, a “mola central do seu modelo institucional é o recurso maciço ao referendo como meio de contornar o parlamento. Quer generalizar o “referendo de iniciativa cidadã” sobre todos os assuntos para, entre outras coisas, anular leis aprovadas no parlamento”. O referendo é a estratégia central que os populismos utilizam para destruir o Estado de direito, desarticular a democracia representativa e instaurar paulatinamente uma governação autoritária. O referendo é o instituto que mais se presta a tomadas de decisão fundadas em emoções, onde a racionalidade das escolhas é substituída pelo fervor que os hooligans políticos ateiam na comunidade.
3. Nacionalismo. A invasão russa e a força da senhora Le Pen em França são sintomas de uma das doenças que contamina o mundo. O nacionalismo. Ela tinha-se manifestado na eleição de Donald Trump e no Brexit, mas existia já, de modo ostensivo, na Índia e na China, assim como na Rússia ou na Turquia. Há décadas que a doença se manifesta em muitos países da União Europeia. Depois da Guerra Fria, com a globalização, estabeleceu-se um novo confronto que opõe cosmopolitas, defensores de um mundo aberto, e nacionalistas, amigos das fronteiras e do etnocentrismo. Durante anos, falou-se no fim do Estado-Nação. A verdade é que ele parece mais forte, arrastando consigo um nacionalismo perigoso. Em caso de implosão da União Europeia, a própria Europa será um campo aberto para conflitos entre os seus múltiplos nacionalismos, o que a condenará, sem apelo, à mais pura irrelevância.
Guerra na Ucrânia, Le Pen e nacionalismo - jorge carreira maia
A invasão russa e a força da senhora Le Pen em França são sintomas de uma das doenças que contamina o mundo. O nacionalismo
1. O primeiro derrotado da guerra na Ucrânia. Um dos postulados centrais do pensamento liberal é a crença de que a conexão comercial entre as nações as torna menos propensas à guerra. Foi por isso que parte substancial da União Europeia, com a Alemanha à cabeça, se tornou dependente da energia russa. Também o dinheiro dos oligarcas russos foi aceite com deferência pelos países europeus. Havia a convicção de que uma cada vez maior interconexão económica entre a União Europeia e a Rússia tornaria esta uma potência comercial pacífica. Essa crença mostrou-se falsa e perigosa. O que move os governos não é apenas o comércio, como os europeus estão a aprender desde 24 de Fevereiro. O postulado liberal da expansão comercial como factor de paz é o primeiro derrotado da guerra na Ucrânia.
2. A senhora Le Pen e o Estado de direito. Na última crónica escrevemos que quando os populistas chegam ao poder, o primeiro alvo é o Estado de direito. Como é que isso se aplicará em França, caso a senhora Le Pen ganhe as eleições de domingo? Segundo Jorge Almeida Fernandes, numa newsletter do Público, a “mola central do seu modelo institucional é o recurso maciço ao referendo como meio de contornar o parlamento. Quer generalizar o “referendo de iniciativa cidadã” sobre todos os assuntos para, entre outras coisas, anular leis aprovadas no parlamento”. O referendo é a estratégia central que os populismos utilizam para destruir o Estado de direito, desarticular a democracia representativa e instaurar paulatinamente uma governação autoritária. O referendo é o instituto que mais se presta a tomadas de decisão fundadas em emoções, onde a racionalidade das escolhas é substituída pelo fervor que os hooligans políticos ateiam na comunidade.
3. Nacionalismo. A invasão russa e a força da senhora Le Pen em França são sintomas de uma das doenças que contamina o mundo. O nacionalismo. Ela tinha-se manifestado na eleição de Donald Trump e no Brexit, mas existia já, de modo ostensivo, na Índia e na China, assim como na Rússia ou na Turquia. Há décadas que a doença se manifesta em muitos países da União Europeia. Depois da Guerra Fria, com a globalização, estabeleceu-se um novo confronto que opõe cosmopolitas, defensores de um mundo aberto, e nacionalistas, amigos das fronteiras e do etnocentrismo. Durante anos, falou-se no fim do Estado-Nação. A verdade é que ele parece mais forte, arrastando consigo um nacionalismo perigoso. Em caso de implosão da União Europeia, a própria Europa será um campo aberto para conflitos entre os seus múltiplos nacionalismos, o que a condenará, sem apelo, à mais pura irrelevância.
![]() Até os mais distraídos na escola, fui um deles, se devem lembrar do princípio mais básico da física. Para qualquer acção, há uma reacção. Por incrível que pareça, por muito tosco que seja, é o princípio base que orienta e rege todo o método científico, até o de ponta. |
![]() O conflito em curso na Ucrânia veio dar maior visibilidade à sua capital e sede de governo, Kiev. Como todos os cidadãos, vejo com uma sensação de perda a destruição das estruturas materiais e das vidas, mas igualmente das irreparáveis, no curto prazo, fracturas nas relações humanas. |
![]() Está calor. Em vez de falar de política, como habitualmente, o melhor é derivar e falar de literatura. Não é que o assunto interesse mais aos portugueses do que a política. Não interessa, mas ajuda a suportar o calor e a inflação. |
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![]() Sempre quis ser espanhola. Gosto e invejo o ritual das cañas e pinchos, ao mesmo tempo que me questiono, intrigada, sobre onde enfiam as crianças para poderem passar os fins de tarde na esplanada. Adoro o conceito. Sempre quis ser espanhola. |
![]() Somos conhecidos no mundo inteiro como o povo do desenrasca. Não é pelo vinho do Porto, não é pelo CR7, não é pelos descobrimentos, não é pelo clima e pelas praias. É pelo desenrasca. Como testemunham os hábitos de leitura nacionais, temos uma facilidade nata em absorver conhecimento pela prática. |
![]() Dos três princípios da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – este último permaneceu sempre numa espécie de limbo. Os grandes debates e os grandes conflitos ideológicos estruturaram-se em torno dos outros dois. |
![]() Há longos anos que desafiamos a sorte com a tragédia logo ali à espreita no centro histórico de Torres Novas. As derrocadas das casas abandonadas sucedem-se, felizmente ainda ninguém foi apanhado. A última, na rua da Corrente, veio apenas confirmar a sorte que temos tido e a tragédia que está por perto. |
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