25 de Abril de 2020
"A sessão na Assembleia da República foi um tributo aos capitães de Abril, mas foi essencialmente um tributo, exigido por parte substantiva da direita e de toda a esquerda, à democracia parlamentar."
A celebração do 25 de Abril deste ano foi, do ponto de vista simbólico, a mais importante de sempre. Tem múltiplos aspectos a merecer realce. Em primeiro lugar a controvérsia lançada por quem, do ponto de vista político, queria que as celebrações não se realizassem. Mostra que há sectores na direita que têm dificuldade em lidar com a data. A explicação não é difícil e não tem que ver com a data, mas com o facto de a direita portuguesa, com honrosas mas raras excepções, ter estado em bloco do lado da ditadura. Quando o regime cai em 1974, havia esquerdas oposicionistas mas não havia direitas oposicionistas. Uma parte da direita nunca se curou do seu colaboracionismo com a ditadura.
No entanto, durante estas décadas, assistimos à estruturação de uma direita democrática, de tipo ocidental, e ela revelou-se claramente neste 25 de Abril. A posição inequívoca de Rui Rio, do PSD e de Marcelo de Rebelo de Sousa mostraram, para quem tivesse dúvidas, que existe uma direita que, na sequência de Sá Carneiro, afirma claramente os valores políticos que triunfaram com o 25 de Abril. Enquanto o CDS se deixou enredar na teia da extrema-direita, o PSD e o Presidente da República foram decisivos para o carácter nacional da celebração do 25 de Abril.
Quando se vivem momentos excepcionais, aquilo que emerge é o fundamental. E o fundamental foi o que se viu no parlamento. Por muito que isso seja doloroso para uma parte da esquerda social, a essência do 25 de Abril não reside num sonho revolucionário destruído, mas na democracia liberal que se construiu. A sessão na Assembleia da República foi um tributo aos capitães de Abril, mas foi essencialmente um tributo, exigido por parte substantiva da direita e de toda a esquerda, à democracia parlamentar, ao regime onde existe alternância no poder e em que os actores políticos não são inimigos a eliminar mas adversários que participam na disputa legal pelo poder. Foi isto que se comemorou na Assembleia.
Para concluir vale a pena sublinhar outro facto. Houve uma tentativa de mobilizar os sentimentos religiosos dos portugueses contra a realização da sessão no parlamento. A presença do Cardeal-Patriarca de Lisboa na sessão foi um sinal decisivo de qual a posição da Igreja Católica. Mostrou que a Igreja não deu cobertura à campanha contra o 25 de Abril, contra as instituições democráticas e, acima de tudo, tornou patente que não existe nenhuma questão religiosa em Portugal. As instituições religiosas e as instituições democráticas vivem, apesar de separadas, em respeito mútuo, tal como se exige numa democracia liberal.
25 de Abril de 2020
A sessão na Assembleia da República foi um tributo aos capitães de Abril, mas foi essencialmente um tributo, exigido por parte substantiva da direita e de toda a esquerda, à democracia parlamentar.
A celebração do 25 de Abril deste ano foi, do ponto de vista simbólico, a mais importante de sempre. Tem múltiplos aspectos a merecer realce. Em primeiro lugar a controvérsia lançada por quem, do ponto de vista político, queria que as celebrações não se realizassem. Mostra que há sectores na direita que têm dificuldade em lidar com a data. A explicação não é difícil e não tem que ver com a data, mas com o facto de a direita portuguesa, com honrosas mas raras excepções, ter estado em bloco do lado da ditadura. Quando o regime cai em 1974, havia esquerdas oposicionistas mas não havia direitas oposicionistas. Uma parte da direita nunca se curou do seu colaboracionismo com a ditadura.
No entanto, durante estas décadas, assistimos à estruturação de uma direita democrática, de tipo ocidental, e ela revelou-se claramente neste 25 de Abril. A posição inequívoca de Rui Rio, do PSD e de Marcelo de Rebelo de Sousa mostraram, para quem tivesse dúvidas, que existe uma direita que, na sequência de Sá Carneiro, afirma claramente os valores políticos que triunfaram com o 25 de Abril. Enquanto o CDS se deixou enredar na teia da extrema-direita, o PSD e o Presidente da República foram decisivos para o carácter nacional da celebração do 25 de Abril.
Quando se vivem momentos excepcionais, aquilo que emerge é o fundamental. E o fundamental foi o que se viu no parlamento. Por muito que isso seja doloroso para uma parte da esquerda social, a essência do 25 de Abril não reside num sonho revolucionário destruído, mas na democracia liberal que se construiu. A sessão na Assembleia da República foi um tributo aos capitães de Abril, mas foi essencialmente um tributo, exigido por parte substantiva da direita e de toda a esquerda, à democracia parlamentar, ao regime onde existe alternância no poder e em que os actores políticos não são inimigos a eliminar mas adversários que participam na disputa legal pelo poder. Foi isto que se comemorou na Assembleia.
Para concluir vale a pena sublinhar outro facto. Houve uma tentativa de mobilizar os sentimentos religiosos dos portugueses contra a realização da sessão no parlamento. A presença do Cardeal-Patriarca de Lisboa na sessão foi um sinal decisivo de qual a posição da Igreja Católica. Mostrou que a Igreja não deu cobertura à campanha contra o 25 de Abril, contra as instituições democráticas e, acima de tudo, tornou patente que não existe nenhuma questão religiosa em Portugal. As instituições religiosas e as instituições democráticas vivem, apesar de separadas, em respeito mútuo, tal como se exige numa democracia liberal.
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
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![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
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» 2025-07-03
» Jorge Carreira Maia
Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais |