A Igreja e a pandemia em Portugal
Opinião » 2020-05-09 » Jorge Carreira Maia"Em dois momentos, o 25 de Abril e o 1º de Maio, houve uma tentativa, por parte de sectores políticos extremados, de forçar um confronto entre a Igreja e as instituições políticas da República. "
Em todo o processo ligado à pandemia provocada pelo coronavírus, a Igreja Católica em geral, e a portuguesa em particular, teve uma atitude que merece louvor. A Igreja portuguesa, e é nela que centro este artigo, mostrou que não é apenas uma instituição guardiã da fé e tradição apostólicas, mas ainda um factor de razoabilidade dos comportamentos sociais, exercendo uma influência muito importante na atitude de muitos portugueses, o que ajudou a minimizar os efeitos da pandemia. A Igreja teve maleabilidade e capacidade para se antecipar ao poder político na decisão de suspender cerimónias públicas e de dar um exemplo que acabou por reforçar a legitimidade das decisões dos órgãos políticos da República.
Em dois momentos, o 25 de Abril e o 1º de Maio, houve uma tentativa, por parte de sectores políticos extremados, de forçar um confronto entre a Igreja e as instituições políticas da República. Das duas vezes, a Igreja portuguesa resistiu à tentação e manteve-se no seu lugar. Em relação à primeira data, a presença do Cardeal Patriarca nas cerimónias da Assembleia da República não apenas matou a tentativa de criar uma fricção entre instituições políticas e religião, como mostrou um inequívoco apoio ao regime democrático. Em relação ao dia do trabalhador e à inusitada coreografia que a CGTP, com o apoio político do Partido Comunista, decidiu montar em Lisboa, a Igreja pura e simplesmente não se imiscuiu, não reivindicou tratamento igual, não tirou partido da situação para se desviar da linha que ela própria traçara para si mesma. Não se envolveu no que não lhe dizia respeito.
Os que tentaram criar uma tensão entre religião e política não compreendem o que é a religião. Uma religião como a Católica tem uma dupla dimensão. Tem uma vida pública, exterior, feita em comunidade, em eclésia, e tem uma dimensão espiritual, interior, que os crentes podem viver mesmo nos momentos em que a vida comunitária está suspensa. A vida política pelo contrário só tem uma dimensão, a pública. Não há vida política sem o espaço público, sem a encenação ritual de um teatro mundano, que é onde se deve colocar o que aconteceu no 25 de Abril e no 1º de Maio. A Igreja portuguesa não permitiu que se comparasse aquilo que não é comparável, vida religiosa e vida política. Vincou a diferença entre o espaço sagrado da religião e o espaço profano da política, encontrou formas novas de alimentar a vida espiritual dos crentes e, com essa atitude racional, reforçou tanto as instituições políticas como a credibilidade da própria Igreja. Deu a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
A Igreja e a pandemia em Portugal
Opinião » 2020-05-09 » Jorge Carreira MaiaEm dois momentos, o 25 de Abril e o 1º de Maio, houve uma tentativa, por parte de sectores políticos extremados, de forçar um confronto entre a Igreja e as instituições políticas da República.
Em todo o processo ligado à pandemia provocada pelo coronavírus, a Igreja Católica em geral, e a portuguesa em particular, teve uma atitude que merece louvor. A Igreja portuguesa, e é nela que centro este artigo, mostrou que não é apenas uma instituição guardiã da fé e tradição apostólicas, mas ainda um factor de razoabilidade dos comportamentos sociais, exercendo uma influência muito importante na atitude de muitos portugueses, o que ajudou a minimizar os efeitos da pandemia. A Igreja teve maleabilidade e capacidade para se antecipar ao poder político na decisão de suspender cerimónias públicas e de dar um exemplo que acabou por reforçar a legitimidade das decisões dos órgãos políticos da República.
Em dois momentos, o 25 de Abril e o 1º de Maio, houve uma tentativa, por parte de sectores políticos extremados, de forçar um confronto entre a Igreja e as instituições políticas da República. Das duas vezes, a Igreja portuguesa resistiu à tentação e manteve-se no seu lugar. Em relação à primeira data, a presença do Cardeal Patriarca nas cerimónias da Assembleia da República não apenas matou a tentativa de criar uma fricção entre instituições políticas e religião, como mostrou um inequívoco apoio ao regime democrático. Em relação ao dia do trabalhador e à inusitada coreografia que a CGTP, com o apoio político do Partido Comunista, decidiu montar em Lisboa, a Igreja pura e simplesmente não se imiscuiu, não reivindicou tratamento igual, não tirou partido da situação para se desviar da linha que ela própria traçara para si mesma. Não se envolveu no que não lhe dizia respeito.
Os que tentaram criar uma tensão entre religião e política não compreendem o que é a religião. Uma religião como a Católica tem uma dupla dimensão. Tem uma vida pública, exterior, feita em comunidade, em eclésia, e tem uma dimensão espiritual, interior, que os crentes podem viver mesmo nos momentos em que a vida comunitária está suspensa. A vida política pelo contrário só tem uma dimensão, a pública. Não há vida política sem o espaço público, sem a encenação ritual de um teatro mundano, que é onde se deve colocar o que aconteceu no 25 de Abril e no 1º de Maio. A Igreja portuguesa não permitiu que se comparasse aquilo que não é comparável, vida religiosa e vida política. Vincou a diferença entre o espaço sagrado da religião e o espaço profano da política, encontrou formas novas de alimentar a vida espiritual dos crentes e, com essa atitude racional, reforçou tanto as instituições políticas como a credibilidade da própria Igreja. Deu a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
» 2024-03-18
» Hélder Dias
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» 2024-03-08
» Jorge Carreira Maia
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» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |