Os judeus e a guerra da Palestina
É a própria imprensa israelita, o jornal Haaretz, que denuncia: a percentagem de mortos na Palestina é superior a qualquer guerra no século XX.
Relembro a minha visita ao campo de concentração de Dachau, em 1974. Ante o memorial concentracionário, a visão dum espaço onde a morte dos judeus era um acto legal do regime nazi, a minha solidariedade com a tragédia dum povo que nunca teve, desde os tempos bíblicos do Antigo Testamento, uma pátria, para quem a sobrevivência assentava na diáspora e na aceitação sempre limitada dos países que lhes abriam as portas, dependentes das suas capacidades, valores, conhecimentos, energias próprias, assumi, como modo de solidariedade, um estudo da sua existência na então vila torrejana, que, em séculos diferentes, nos foi berço.
Da minha parte, creio que cumpri, ao longo de décadas, pela investigação, escrita e publicação, essa promessa.
O povo judaico, por sua vez, assumiu a partilha da Palestina, o Estado de Israel foi criado em 1948, sob a complacência e proteccionismo dos EUA e dos países europeus, traumatizados pelas sua passividade, quando não aceitação, do Holocausto Nazi, uma diferenciação de tratamento entre os direitos do povo judeu e do povo aí residente, o palestiniano: a teoria dos dois Estados nunca foi cumprida por Israel, e o conservadorismo liberal, aliado ao fanatismo religioso corroeram, em cada ano de convivência, o estatuto dos direitos humanos dos palestinianos. As guerras surgidas, entre ambos, no século passado, mais agravaram as diferenças, e o território e os direitos palestinianos, quer na Cisjordânia, quer em Gaza, quer em Jerusalém, secundarizados, quotidianamente humilhados.
Gaza, hoje, provoca-me a mesma dor, o mesmo sofrimento, que senti em Dachau, li e vi em livros e documentários, sob o horror do Holocausto.
Condenei, de imediato, a acção do Hamas, considerando-a um acto iníquo de terrorismo. Mas o veto dos Estados Unidos, no Conselho de Segurança da ONU, impedindo a aprovação dum cessar-fogo imediato, demonstra como se tecem os fios dos interesses internacionais, ante a ameaça do desapoio judeu nas próximas eleições americanas. A extrema-direita fanática da religião judaica desenvolve uma política racista tão cruel e desumana como a fez a inquisição católica nos países da península Ibérica, ante a permissividade europeia e a incapacidade de controlo dos EUA-
O que se passa em Gaza ou na Cisjordânia, com a instalação ilegal e contra todas as determinações da ONU, não é unicamente a destruição dum grupo terrorista, o Hamas, mas a posse e domínio de todo o território palestiniano, por meio do uso indiscriminado e violenta da força bruta, contra uma população civil, na maioria mulheres e crianças, arrasando toas as infraestruturas, escolas, hospitais, mercados, administração, serviços de água, eletricidade, o que é necessário à sobrevivência.
Se condeno e me solidarizei com o povo judaico, pelo acto criminoso de 7 de Outubro, que assassinou e destruiu mais de 1.200 pessoas, homens, mulheres, crianças, na maioria civis, não posso virar a cara e aceitar o genocídio que o governo e o exército israelitas estão a fazer em Gaza, onde além da destruição cataclísmica urbana, se contam mais de 17.000 mortos, na maioria crianças e mulheres, em nome duma legítima vingança contra o Hamas. E na Cisjordânia, os colonos armados pelo governo, com a cumplicidade do exército, assassinam palestinianos, destroem aldeias, ocupam território que lhes não pertence.
Um ser humano judeu vale mais que um palestiniano? Uma criança assassinada palestiniana deixa de ser criança? Só tem direito a emissão televisiva, se for judia?
Pergunto-me: quem cria o antissemitismo? Os que defendem a igualdade e o direito dos povos a uma pátria e à decisão das suas vidas, ou a dos que assentam o seu discurso na supremacia da raça, da cor da pele, duma religião?
Percebe-se que o radicalismo ganhe força entre uma juventude que se sente angustiada ante um mundo desigual, violento, envenenado, que lhe é entregue geracionalmente, com poucas ofertas alternativas de futuro. Percebe-se que condenem as forças políticas e partidárias que governam e se dizem representá-los, e desconfiem de quem lhes fale ou as tente atrair para as suas fileiras. Percebe-se que a sua raiva e angústia se transformem numa recusa, ou numa escolha pelo bota abaixo, quanto mais depressa melhor.
Mas perceber não significa aceitar. E os que lhe prometem a resolução dos seus problemas são os que descenderam dos que enviaram os seus pais e avós para as guerras coloniais do Guiné, Angola e Moçambique, dos que se opuseram ao 25 de Abril, dos que, depois do 25 de Novembro, foram tomando conta da economia, da administração, da justiça, do poder civil, militar e religioso. Dos que defenderam e defendem as desigualdades, os salários miseráveis, a fuga dos lucros, a desigualdade dos direitos e dos deveres. Dos que enriquecem à custa dos subornos, compadrios e corrupção, sob o proteccionismo de legislação feita por eles próprios e aprovada pelos seus dependentes, e são os donos dos canais televisivos e das redes sociais, com que manipulam e disseminam o ódio, através da mentira, da ofensa, da desumanidade.
São esses mesmos que votam contra o cessar fogo da guerra Israel/Hamas em Gaza. Os mesmos que, em Portugal, são os descendentes dos apoiantes das políticas anti- ambientais (e não só) de Bolsonaro, de Trump, os Pinochets do totalitarismo. São, se forem na cantiga, os seus reais exploradores.
Os judeus e a guerra da Palestina
É a própria imprensa israelita, o jornal Haaretz, que denuncia: a percentagem de mortos na Palestina é superior a qualquer guerra no século XX.
Relembro a minha visita ao campo de concentração de Dachau, em 1974. Ante o memorial concentracionário, a visão dum espaço onde a morte dos judeus era um acto legal do regime nazi, a minha solidariedade com a tragédia dum povo que nunca teve, desde os tempos bíblicos do Antigo Testamento, uma pátria, para quem a sobrevivência assentava na diáspora e na aceitação sempre limitada dos países que lhes abriam as portas, dependentes das suas capacidades, valores, conhecimentos, energias próprias, assumi, como modo de solidariedade, um estudo da sua existência na então vila torrejana, que, em séculos diferentes, nos foi berço.
Da minha parte, creio que cumpri, ao longo de décadas, pela investigação, escrita e publicação, essa promessa.
O povo judaico, por sua vez, assumiu a partilha da Palestina, o Estado de Israel foi criado em 1948, sob a complacência e proteccionismo dos EUA e dos países europeus, traumatizados pelas sua passividade, quando não aceitação, do Holocausto Nazi, uma diferenciação de tratamento entre os direitos do povo judeu e do povo aí residente, o palestiniano: a teoria dos dois Estados nunca foi cumprida por Israel, e o conservadorismo liberal, aliado ao fanatismo religioso corroeram, em cada ano de convivência, o estatuto dos direitos humanos dos palestinianos. As guerras surgidas, entre ambos, no século passado, mais agravaram as diferenças, e o território e os direitos palestinianos, quer na Cisjordânia, quer em Gaza, quer em Jerusalém, secundarizados, quotidianamente humilhados.
Gaza, hoje, provoca-me a mesma dor, o mesmo sofrimento, que senti em Dachau, li e vi em livros e documentários, sob o horror do Holocausto.
Condenei, de imediato, a acção do Hamas, considerando-a um acto iníquo de terrorismo. Mas o veto dos Estados Unidos, no Conselho de Segurança da ONU, impedindo a aprovação dum cessar-fogo imediato, demonstra como se tecem os fios dos interesses internacionais, ante a ameaça do desapoio judeu nas próximas eleições americanas. A extrema-direita fanática da religião judaica desenvolve uma política racista tão cruel e desumana como a fez a inquisição católica nos países da península Ibérica, ante a permissividade europeia e a incapacidade de controlo dos EUA-
O que se passa em Gaza ou na Cisjordânia, com a instalação ilegal e contra todas as determinações da ONU, não é unicamente a destruição dum grupo terrorista, o Hamas, mas a posse e domínio de todo o território palestiniano, por meio do uso indiscriminado e violenta da força bruta, contra uma população civil, na maioria mulheres e crianças, arrasando toas as infraestruturas, escolas, hospitais, mercados, administração, serviços de água, eletricidade, o que é necessário à sobrevivência.
Se condeno e me solidarizei com o povo judaico, pelo acto criminoso de 7 de Outubro, que assassinou e destruiu mais de 1.200 pessoas, homens, mulheres, crianças, na maioria civis, não posso virar a cara e aceitar o genocídio que o governo e o exército israelitas estão a fazer em Gaza, onde além da destruição cataclísmica urbana, se contam mais de 17.000 mortos, na maioria crianças e mulheres, em nome duma legítima vingança contra o Hamas. E na Cisjordânia, os colonos armados pelo governo, com a cumplicidade do exército, assassinam palestinianos, destroem aldeias, ocupam território que lhes não pertence.
Um ser humano judeu vale mais que um palestiniano? Uma criança assassinada palestiniana deixa de ser criança? Só tem direito a emissão televisiva, se for judia?
Pergunto-me: quem cria o antissemitismo? Os que defendem a igualdade e o direito dos povos a uma pátria e à decisão das suas vidas, ou a dos que assentam o seu discurso na supremacia da raça, da cor da pele, duma religião?
Percebe-se que o radicalismo ganhe força entre uma juventude que se sente angustiada ante um mundo desigual, violento, envenenado, que lhe é entregue geracionalmente, com poucas ofertas alternativas de futuro. Percebe-se que condenem as forças políticas e partidárias que governam e se dizem representá-los, e desconfiem de quem lhes fale ou as tente atrair para as suas fileiras. Percebe-se que a sua raiva e angústia se transformem numa recusa, ou numa escolha pelo bota abaixo, quanto mais depressa melhor.
Mas perceber não significa aceitar. E os que lhe prometem a resolução dos seus problemas são os que descenderam dos que enviaram os seus pais e avós para as guerras coloniais do Guiné, Angola e Moçambique, dos que se opuseram ao 25 de Abril, dos que, depois do 25 de Novembro, foram tomando conta da economia, da administração, da justiça, do poder civil, militar e religioso. Dos que defenderam e defendem as desigualdades, os salários miseráveis, a fuga dos lucros, a desigualdade dos direitos e dos deveres. Dos que enriquecem à custa dos subornos, compadrios e corrupção, sob o proteccionismo de legislação feita por eles próprios e aprovada pelos seus dependentes, e são os donos dos canais televisivos e das redes sociais, com que manipulam e disseminam o ódio, através da mentira, da ofensa, da desumanidade.
São esses mesmos que votam contra o cessar fogo da guerra Israel/Hamas em Gaza. Os mesmos que, em Portugal, são os descendentes dos apoiantes das políticas anti- ambientais (e não só) de Bolsonaro, de Trump, os Pinochets do totalitarismo. São, se forem na cantiga, os seus reais exploradores.
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |