O estranho caso das vacinas - jorge carreira maia
"Se se observar o tecido social, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas"
O estranho caso das vacinas não reside no facto de ter havido usos oportunistas e desenquadrados do planeamento das autoridades. Isso faz parte de uma cultura inscrita no tecido social e a que se dá o título de chico-espertismo. O chico-espertismo é a busca, através de um expediente imoral e/ou ilegal, de uma vantagem pessoal em detrimento do cumprimento de regras universais e imparciais. Na verdade, existe uma grande condescendência para com esse tipo de atitude. Essa condescendência chega a ser laudatória no ditado popular que sublinha que quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte. A indignação perante o acontecimento é que causa estranheza.
Se se observar o tecido social, as instituições públicas, políticas e administrativas, até as empresas privadas, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas. A cunha, o pedido, a busca de uma excepção, a existência de regras universais e imparciais só para inglês ver, tudo isso domina as relações comunitárias. Não se pense que o chico-espertismo é um problema da democracia. O salazarismo era totalmente dominado pelo chico-espertismo. A palavrinha que se dava ao senhor prior para um emprego, o favor que se pedia aos influentes no regime, etc. Toda a estrutura política, social e económica do país estava penetrada por esta cultura, que é uma cultura de corrupção. Manda a verdade dizer que não foi uma criação do ditador de Santa Comba. Ele apenas cavalgou a onda e fomentou-a para solidificar o seu poder. Já era assim na primeira República, que herdou o vício do liberalismo monárquico, o qual o herdara da monarquia absoluta.
Se a indignação com o caso das vacinas for um sintoma de que as pessoas estão cada vez menos predispostas a aceitar essa corrupção moral, em que o chico-esperto é um herói louvado, então talvez estejamos no caminho de nos tornarmos uma nação com uma cultura cívica decente. Será possível pensar que os portugueses estarão cada vez menos predispostos a aceitar os truques que enxameiam a vida pública. Será também a altura de os partidos políticos reformarem as suas práticas de chico-espertismo, onde abunda o nepotismo, o favorecimento pessoal, o interesse particular, etc., etc., etc. O pior, porém, é se estas reacções se devem apenas a que se ficou de fora da tramóia e que é um outro que, com mais arte, melhor parte e reparte. Estaremos num ponto de viragem da nossa cultura comunitária?
O estranho caso das vacinas - jorge carreira maia
Se se observar o tecido social, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas
O estranho caso das vacinas não reside no facto de ter havido usos oportunistas e desenquadrados do planeamento das autoridades. Isso faz parte de uma cultura inscrita no tecido social e a que se dá o título de chico-espertismo. O chico-espertismo é a busca, através de um expediente imoral e/ou ilegal, de uma vantagem pessoal em detrimento do cumprimento de regras universais e imparciais. Na verdade, existe uma grande condescendência para com esse tipo de atitude. Essa condescendência chega a ser laudatória no ditado popular que sublinha que quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte. A indignação perante o acontecimento é que causa estranheza.
Se se observar o tecido social, as instituições públicas, políticas e administrativas, até as empresas privadas, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas. A cunha, o pedido, a busca de uma excepção, a existência de regras universais e imparciais só para inglês ver, tudo isso domina as relações comunitárias. Não se pense que o chico-espertismo é um problema da democracia. O salazarismo era totalmente dominado pelo chico-espertismo. A palavrinha que se dava ao senhor prior para um emprego, o favor que se pedia aos influentes no regime, etc. Toda a estrutura política, social e económica do país estava penetrada por esta cultura, que é uma cultura de corrupção. Manda a verdade dizer que não foi uma criação do ditador de Santa Comba. Ele apenas cavalgou a onda e fomentou-a para solidificar o seu poder. Já era assim na primeira República, que herdou o vício do liberalismo monárquico, o qual o herdara da monarquia absoluta.
Se a indignação com o caso das vacinas for um sintoma de que as pessoas estão cada vez menos predispostas a aceitar essa corrupção moral, em que o chico-esperto é um herói louvado, então talvez estejamos no caminho de nos tornarmos uma nação com uma cultura cívica decente. Será possível pensar que os portugueses estarão cada vez menos predispostos a aceitar os truques que enxameiam a vida pública. Será também a altura de os partidos políticos reformarem as suas práticas de chico-espertismo, onde abunda o nepotismo, o favorecimento pessoal, o interesse particular, etc., etc., etc. O pior, porém, é se estas reacções se devem apenas a que se ficou de fora da tramóia e que é um outro que, com mais arte, melhor parte e reparte. Estaremos num ponto de viragem da nossa cultura comunitária?
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |