O melhor regime e a obscuridade do fenómeno político - jorge carreira maia
Os acontecimentos em França são mais um sinal de que a democracia liberal corre graves riscos na Europa. O que se tem passado será capitalizado pela extrema-direita. Por toda a Europa, mas não só, surgem nuvens negras que ameaçam as democracias. Em 1992, Francis Fukuyama publica The End of History and the Last Man. O fim da história não se refere ao fim dos conflitos políticos e das transformações sociais, como se propalou, mas ao facto de não conseguirmos perspectivar um regime político melhor. A democracia liberal, com a combinação de Estado de direito, liberdades individuais e prosperidade, seria o futuro para todos os povos. A interrogação filosófica sobre a natureza do melhor regime político – concluir-se-ia – estava definitivamente encerrada.
Talvez nos anos 90 do século passado e no início do novo milénio isso fosse uma evidência para a generalidade dos cidadãos dos países democráticos e para muitos que, noutros regimes, ansiavam por uma democracia liberal. Hoje aquilo que era uma evidência generalizada deixou de o ser. Não apenas cresceram, com apoio popular, novos regimes autoritários, como nos próprios países democráticos a evidência da superioridade das democracias liberais é cada vez menor. Largos sectores escolhem políticos e programas iliberais, a militância radical cresce e tem presença avassaladora nas redes sociais, exibindo uma agressividade retórica impensável ainda há pouco. A questão filosófica sobre o melhor regime, questão que animou o pensamento de Platão e Aristóteles, e que no final do século passado parecia resolvida, exige que se volte a ela.
O problema, todavia, não pode ser enfrentado com um retorno ao debate tal como ocorreu na Antiguidade, onde se questionava se o melhor regime era a monarquia, a aristocracia ou a democracia. Também não bastará modernizar a questão e discutir sobre se o melhor regime é a democracia liberal, a democracia iliberal, o regime autoritário, o regime totalitário, etc. Antes da questão do melhor regime, está uma bem mais radical sobre o que é esse campo da acção humana a que se dá o nome de “político”. Muitas vezes a discussão sobre o melhor regime assume que sabe o que é o “político”, mas este é, apesar da sua omnipresença, um fenómeno obscuro e difícil de captar na sua natureza. Sem o seu esclarecimento, qualquer tentativa de definição do melhor regime está condenada. Esse esclarecimento, por outro lado, ajudará a compreender as razões por que a evidência da superioridade das democracias liberais está a desaparecer e por que os seus defensores parecem perdidos.
O melhor regime e a obscuridade do fenómeno político - jorge carreira maia
Os acontecimentos em França são mais um sinal de que a democracia liberal corre graves riscos na Europa. O que se tem passado será capitalizado pela extrema-direita. Por toda a Europa, mas não só, surgem nuvens negras que ameaçam as democracias. Em 1992, Francis Fukuyama publica The End of History and the Last Man. O fim da história não se refere ao fim dos conflitos políticos e das transformações sociais, como se propalou, mas ao facto de não conseguirmos perspectivar um regime político melhor. A democracia liberal, com a combinação de Estado de direito, liberdades individuais e prosperidade, seria o futuro para todos os povos. A interrogação filosófica sobre a natureza do melhor regime político – concluir-se-ia – estava definitivamente encerrada.
Talvez nos anos 90 do século passado e no início do novo milénio isso fosse uma evidência para a generalidade dos cidadãos dos países democráticos e para muitos que, noutros regimes, ansiavam por uma democracia liberal. Hoje aquilo que era uma evidência generalizada deixou de o ser. Não apenas cresceram, com apoio popular, novos regimes autoritários, como nos próprios países democráticos a evidência da superioridade das democracias liberais é cada vez menor. Largos sectores escolhem políticos e programas iliberais, a militância radical cresce e tem presença avassaladora nas redes sociais, exibindo uma agressividade retórica impensável ainda há pouco. A questão filosófica sobre o melhor regime, questão que animou o pensamento de Platão e Aristóteles, e que no final do século passado parecia resolvida, exige que se volte a ela.
O problema, todavia, não pode ser enfrentado com um retorno ao debate tal como ocorreu na Antiguidade, onde se questionava se o melhor regime era a monarquia, a aristocracia ou a democracia. Também não bastará modernizar a questão e discutir sobre se o melhor regime é a democracia liberal, a democracia iliberal, o regime autoritário, o regime totalitário, etc. Antes da questão do melhor regime, está uma bem mais radical sobre o que é esse campo da acção humana a que se dá o nome de “político”. Muitas vezes a discussão sobre o melhor regime assume que sabe o que é o “político”, mas este é, apesar da sua omnipresença, um fenómeno obscuro e difícil de captar na sua natureza. Sem o seu esclarecimento, qualquer tentativa de definição do melhor regime está condenada. Esse esclarecimento, por outro lado, ajudará a compreender as razões por que a evidência da superioridade das democracias liberais está a desaparecer e por que os seus defensores parecem perdidos.
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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» 2025-07-03
» Jorge Carreira Maia
Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais |