A GRANDE PORTA DE KIEV - josé alves pererira
" “Que a imaginária “grande porta” possa ser franqueada pelos contendores, pondo termo ao actual conflito."
O conflito em curso na Ucrânia veio dar maior visibilidade à sua capital e sede de governo, Kiev. Como todos os cidadãos, vejo com uma sensação de perda a destruição das estruturas materiais e das vidas, mas igualmente das irreparáveis, no curto prazo, fracturas nas relações humanas. A cidade não me é totalmente desconhecida, mas a impressão que dela retenho é já um pouco difusa. Numa ou noutra imagem actual, penso reconhecer ainda alguns dos sítios por onde andei. É a umas velhas fotografias de 12,5x9 cm, reveladas em papel, que a memória se ampara para vaguear por essas recordações. Numa manhã de Setembro de 1976 chego à estação de comboios de Kiev integrando um grupo de trinta veraneantes numa mistura de turístico, político e cultural. Deixara Moscovo na véspera e no comboio cama fiz de noite os 756 quilómetros que separam as duas cidades. Hoje separa-as, infelizmente, muito mais que essa distância.
A diferença mais sentida à chegada foi a língua, que nos disseram ser em relação ao russo assim como o espanhol para o português. Não vai o meu saber tão longe pelo que tomo por vera a explicação.
Um pouco distante da cidade, visitámos locais que por este ou aquele motivo o justificavam, caso de um kolkhoze – propriedade agrícola estatal - onde se cultivava beterraba. A visita ao Palácio dos Pioneiros, com o olhar naquelas crianças que exercitavam os primeiros movimentos no ballet e outras pautas com as claves, bemóis e sustenidos. Num dia solarengo, sentei-me nas bancadas do estádio olímpico, base habitual do Dynamo de Kiev. De uma colina sobranceira, apreciávamos o largo e caudaloso rio Dnieper. Tudo tão distante já de um solo pisado há pouco mais de trinta anos pelos exércitos germano-fascistas, numa guerra cruenta e demolidora.
Nas instituições visitadas, trocavam-se impressões do que a cada um lembrava, mediadas por um intérprete, um jovem estudante de nome Iuri. Uma figura omnipresente era Taras Shevchenko (1814-1861) poeta, pintor, político, ucraniano. Dele, em várias partes do mundo, existem monumentos, um dos quais inaugurado no Restelo (Lisboa) em 2019. Pareceu-me Kiev uma urbe moderna, muito reconstruída após a II Guerra Mundial, que ali teve episódios dramáticos com a sua ocupação pelos exércitos nazis, entre Setembro 1941 e Novembro 1943. Anos dramáticos e mortíferos, com intensos combates entre as tropas soviéticas e o grosso das hordas nazi-fascistas do general Guderian que na região centro se dirigiam a Moscovo, travadas a escassos quilómetros da Praça Vermelha por uma heróica resistência.
Passados tantos anos e mudanças, é provável que Kiev fosse hoje mais cosmopolita, mas também mais potenciadora de desigualdades. Mas isso é outra história, que nos levaria às manifestações da Praça Maidan, em 2014, e ao início dos tempos sombrios que estamos a assistir. Com o músico russo Modest Mussorgky e a sua composição “Quadros de uma exposição”, relembramos Kiev através do tema que dá título a este texto. Após visitar uma amostra de desenhos e pinturas do seu amigo e arquitecto Viktor Hartmann (1934-1873), Mussorgky compõe uma suite em 15 movimentos em que caracteriza, através dos sons, promenades, sentimentos e impressões de viagens. “A grande porta de Kiev” será o trecho musical finalizador com um timbre e coloridos usados ao longo do tempo em arranjos e orquestrações.
Que a imaginária “grande porta” possa ser franqueada pelos contendores, pondo termo ao actual conflito e repondo o que for possível nas relações entre povos que tantos, demasiados, se esforçam por acirrar.
A GRANDE PORTA DE KIEV - josé alves pererira
“Que a imaginária “grande porta” possa ser franqueada pelos contendores, pondo termo ao actual conflito.
O conflito em curso na Ucrânia veio dar maior visibilidade à sua capital e sede de governo, Kiev. Como todos os cidadãos, vejo com uma sensação de perda a destruição das estruturas materiais e das vidas, mas igualmente das irreparáveis, no curto prazo, fracturas nas relações humanas. A cidade não me é totalmente desconhecida, mas a impressão que dela retenho é já um pouco difusa. Numa ou noutra imagem actual, penso reconhecer ainda alguns dos sítios por onde andei. É a umas velhas fotografias de 12,5x9 cm, reveladas em papel, que a memória se ampara para vaguear por essas recordações. Numa manhã de Setembro de 1976 chego à estação de comboios de Kiev integrando um grupo de trinta veraneantes numa mistura de turístico, político e cultural. Deixara Moscovo na véspera e no comboio cama fiz de noite os 756 quilómetros que separam as duas cidades. Hoje separa-as, infelizmente, muito mais que essa distância.
A diferença mais sentida à chegada foi a língua, que nos disseram ser em relação ao russo assim como o espanhol para o português. Não vai o meu saber tão longe pelo que tomo por vera a explicação.
Um pouco distante da cidade, visitámos locais que por este ou aquele motivo o justificavam, caso de um kolkhoze – propriedade agrícola estatal - onde se cultivava beterraba. A visita ao Palácio dos Pioneiros, com o olhar naquelas crianças que exercitavam os primeiros movimentos no ballet e outras pautas com as claves, bemóis e sustenidos. Num dia solarengo, sentei-me nas bancadas do estádio olímpico, base habitual do Dynamo de Kiev. De uma colina sobranceira, apreciávamos o largo e caudaloso rio Dnieper. Tudo tão distante já de um solo pisado há pouco mais de trinta anos pelos exércitos germano-fascistas, numa guerra cruenta e demolidora.
Nas instituições visitadas, trocavam-se impressões do que a cada um lembrava, mediadas por um intérprete, um jovem estudante de nome Iuri. Uma figura omnipresente era Taras Shevchenko (1814-1861) poeta, pintor, político, ucraniano. Dele, em várias partes do mundo, existem monumentos, um dos quais inaugurado no Restelo (Lisboa) em 2019. Pareceu-me Kiev uma urbe moderna, muito reconstruída após a II Guerra Mundial, que ali teve episódios dramáticos com a sua ocupação pelos exércitos nazis, entre Setembro 1941 e Novembro 1943. Anos dramáticos e mortíferos, com intensos combates entre as tropas soviéticas e o grosso das hordas nazi-fascistas do general Guderian que na região centro se dirigiam a Moscovo, travadas a escassos quilómetros da Praça Vermelha por uma heróica resistência.
Passados tantos anos e mudanças, é provável que Kiev fosse hoje mais cosmopolita, mas também mais potenciadora de desigualdades. Mas isso é outra história, que nos levaria às manifestações da Praça Maidan, em 2014, e ao início dos tempos sombrios que estamos a assistir. Com o músico russo Modest Mussorgky e a sua composição “Quadros de uma exposição”, relembramos Kiev através do tema que dá título a este texto. Após visitar uma amostra de desenhos e pinturas do seu amigo e arquitecto Viktor Hartmann (1934-1873), Mussorgky compõe uma suite em 15 movimentos em que caracteriza, através dos sons, promenades, sentimentos e impressões de viagens. “A grande porta de Kiev” será o trecho musical finalizador com um timbre e coloridos usados ao longo do tempo em arranjos e orquestrações.
Que a imaginária “grande porta” possa ser franqueada pelos contendores, pondo termo ao actual conflito e repondo o que for possível nas relações entre povos que tantos, demasiados, se esforçam por acirrar.
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |