A mesa - rui anastácio
"À mesa libertamos a alma, se necessário damos murros na mesa, avançamos, criamos laços por vezes indestrutíveis"
Tenho um certo fascínio por mesas. Ao longo da minha vida já mandei fazer algumas. Quase sempre mesas grandes e robustas. Onde se possam sentar muitas pessoas. Onde se possa beber um bom vinho, comer muito, conversar muito, discutir muito, praguejar, gritar, lutar por ideias e ideais.
Dizem que à mesa não se envelhece. Estou tentado a acreditar nisso. Parece que o tempo pára quando estamos entre bons amigos, ainda me lembro daquela noite na garagem do Miguel, comemos entre as sete da tarde e as duas da manhã, bebemos muito, éramos os cinco habituais. O das ideias, o das tradições, o da história, o habilidoso e o erudito.
O Vítor ainda estava connosco. Sem o Vítor nunca mais foi a mesma coisa. Passou a faltar-nos erudição e alguma bondade. Continuamos a beber muito e a falar alto. Continuamos a trocar mimos do tipo “és uma besta”, ou em alternativa “és um ignorante”, ou a chorar quando nos lembramos do Vítor e já temos algum vinho bebido.
Já há alguns anos que só bebemos vinho. Expulsámos de vez aquelas coisas que vinham a seguir e que nos deixavam com enormes arrependimentos no dia seguinte. Um arrependimento por cada copo.
Não entendo muito bem a expressão “mesa de negociações”, há outros sítios mais adequados para negociar, negociar pára a digestão, obriga a contorcionismos, por vezes agride a alma.
Há alguns anos atrás tinha uma guerra instalada entre alguns colaboradores. Não nos sentámos à mesa, fomos para o relvado, ouvimos os passarinhos comodamente instalados e por lá percebemos aquilo que nos unia e as opções que tínhamos pela frente. Foi uma boa hora de conversa, não comemos nem bebemos.
À mesa libertamos a alma, se necessário damos murros na mesa, avançamos, criamos laços por vezes indestrutíveis. Outras vezes, desfazemos coisas desfeitas.
A penúltima mesa foi feita de raiz de nogueira, esta última foi um namoro de dois anos. O senhor Jorge da lenha chamou-me. Tinha algo para mim. Fomos ver o bicho acabado de cortar. Um eucalipto grandioso. Ficou dois anos na serração a sangrar. Este verão estava no ponto, a esplanada estava acabada. Mesa para doze e uma lareira de rua para o inverno que aí vem. Pelo caminho o Pedro teve um acidente, daqueles acidentes dos carpinteiros.
Estamos no fim do verão, dois anos depois do telefonema do senhor Jorge. Temos mesa. Robusta como se querem todas as mesas. Vai ter que aguentar com muitas discussões violentas. Tem 3 metros de comprimento e 77 cm de altura. A altura perfeita.
A mesa - rui anastácio
À mesa libertamos a alma, se necessário damos murros na mesa, avançamos, criamos laços por vezes indestrutíveis
Tenho um certo fascínio por mesas. Ao longo da minha vida já mandei fazer algumas. Quase sempre mesas grandes e robustas. Onde se possam sentar muitas pessoas. Onde se possa beber um bom vinho, comer muito, conversar muito, discutir muito, praguejar, gritar, lutar por ideias e ideais.
Dizem que à mesa não se envelhece. Estou tentado a acreditar nisso. Parece que o tempo pára quando estamos entre bons amigos, ainda me lembro daquela noite na garagem do Miguel, comemos entre as sete da tarde e as duas da manhã, bebemos muito, éramos os cinco habituais. O das ideias, o das tradições, o da história, o habilidoso e o erudito.
O Vítor ainda estava connosco. Sem o Vítor nunca mais foi a mesma coisa. Passou a faltar-nos erudição e alguma bondade. Continuamos a beber muito e a falar alto. Continuamos a trocar mimos do tipo “és uma besta”, ou em alternativa “és um ignorante”, ou a chorar quando nos lembramos do Vítor e já temos algum vinho bebido.
Já há alguns anos que só bebemos vinho. Expulsámos de vez aquelas coisas que vinham a seguir e que nos deixavam com enormes arrependimentos no dia seguinte. Um arrependimento por cada copo.
Não entendo muito bem a expressão “mesa de negociações”, há outros sítios mais adequados para negociar, negociar pára a digestão, obriga a contorcionismos, por vezes agride a alma.
Há alguns anos atrás tinha uma guerra instalada entre alguns colaboradores. Não nos sentámos à mesa, fomos para o relvado, ouvimos os passarinhos comodamente instalados e por lá percebemos aquilo que nos unia e as opções que tínhamos pela frente. Foi uma boa hora de conversa, não comemos nem bebemos.
À mesa libertamos a alma, se necessário damos murros na mesa, avançamos, criamos laços por vezes indestrutíveis. Outras vezes, desfazemos coisas desfeitas.
A penúltima mesa foi feita de raiz de nogueira, esta última foi um namoro de dois anos. O senhor Jorge da lenha chamou-me. Tinha algo para mim. Fomos ver o bicho acabado de cortar. Um eucalipto grandioso. Ficou dois anos na serração a sangrar. Este verão estava no ponto, a esplanada estava acabada. Mesa para doze e uma lareira de rua para o inverno que aí vem. Pelo caminho o Pedro teve um acidente, daqueles acidentes dos carpinteiros.
Estamos no fim do verão, dois anos depois do telefonema do senhor Jorge. Temos mesa. Robusta como se querem todas as mesas. Vai ter que aguentar com muitas discussões violentas. Tem 3 metros de comprimento e 77 cm de altura. A altura perfeita.
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