Gerações de traidores - acácio gouveia
Opinião » 2024-05-25 » Acácio Gouveia
“Antigamente, quando o vale do Kusun estava coberto de floresta, havia ali muitas martas-zibelinas. Agora é desértico.”
Vladimir Arseniev in ´Dersu Uzala
As acções dos jovens activistas que protestam contra as alterações climatéricas estão na ordem do dia. Contrastam com as iniciativas do passado dia da Terra, quando crianças foram levadas em manifestações totalmente inócuas, toleradas, ou mesmo incentivadas pela hipocrisia reinante. Hipocrisia das gerações que detêm o poder e se recusam teimosamente a enveredar por políticas realistas que afastem o cenário de catástrofe sem antecedentes na História da Humanidade. Os hipócritas têm muitas faces: políticos de variados quadrantes, CEO de grandes grupos económicos, comentadores, dirigentes sindicais, confederações profissionais, etc.
Em 1633, Galileu foi condenado pela Santa Inquisição por espalhar a “mentira” do heliocentrismo. Contudo, a Terra continuou imperturbável a girar em torno do astro-rei. Na sequência da publicação da “Origem das Espécies”, em 1859, Darwin foi acusado pela Igreja Anglicana de ateísmo militante. Porém, os trabalhos de Mendel e a posterior descoberta de Watson e Crick vieram comprovar a teoria darwiniana. Em vão, Lyssenko, à sombra de Estaline, desmentiu Mendel e outros “erros dos biólogos reacionários”. Mao Tze Tung condenou a teoria da relatividade, apelidando-a de “disparate burguês”. Todavia, três anos após a sua morte, a República Popular da China lançava um selo homenageando Einstein e a sua teoria, admissão implícita de mais um colossal disparate do Grande Timoneiro.
Em suma: a realidade é o que é, e não o que dá jeito. As gentes que se entregam à descoberta do mundo - os cientistas - são os que vão tendo alguma noção da realidade. Estes têm lançado repetidos avisos sobre as consequências das alterações climáticas. Mas, líderes religiosos e políticos, agentes económicos e fazedores de opinião, insistem, tal como os referidos antigos donos da verdade, em negar a realidade e em construir uma narrativa à revelia do conhecimento científico e conforme aos seus míopes objetivos.
Não indo mais longe, temos no nosso distrito o deputado que nega a emergência climática. Mais rebuscado, o actual primeiro ministro diz que o combate às alterações climáticas tem de ser compatibilizado com a economia. Estultícia difícil de compreender num político com tais responsabilidades. Só os muito ingénuos e os moderadamente hipócritas se esforçam por acreditar que as alterações climáticas não são responsáveis por colossais perdas económicas. Os benefícios económicos a curto prazo são os únicos que resultam das agressões ambientais. Já a longo prazo, estas irão exigir um preço impagável.
A opinião publica que vota, isto é, os menos jovens, estão teimosamente agarrados à sua inércia egoísta e suicida. Fazem votos para que a catástrofe já não os apanhe. Nem sequer estão preocupados com o julgamento da História, porque é bem possível que não sobeje mundo onde se possa escrever a História. Estamos perante a mais hedionda traição entre gerações alguma vez engendrada. Mas estejam descansadas as gerações traidoras: as crianças continuaram a fazer arruadas perfeitamente inofensivas e inúteis, os jovens que irrompem em acções ilegais serão devidamente punidos e a irresponsabilidade destruidora seguirá imperturbada.
Gerações de traidores - acácio gouveia
Opinião » 2024-05-25 » Acácio Gouveia“Antigamente, quando o vale do Kusun estava coberto de floresta, havia ali muitas martas-zibelinas. Agora é desértico.”
Vladimir Arseniev in ´Dersu Uzala
As acções dos jovens activistas que protestam contra as alterações climatéricas estão na ordem do dia. Contrastam com as iniciativas do passado dia da Terra, quando crianças foram levadas em manifestações totalmente inócuas, toleradas, ou mesmo incentivadas pela hipocrisia reinante. Hipocrisia das gerações que detêm o poder e se recusam teimosamente a enveredar por políticas realistas que afastem o cenário de catástrofe sem antecedentes na História da Humanidade. Os hipócritas têm muitas faces: políticos de variados quadrantes, CEO de grandes grupos económicos, comentadores, dirigentes sindicais, confederações profissionais, etc.
Em 1633, Galileu foi condenado pela Santa Inquisição por espalhar a “mentira” do heliocentrismo. Contudo, a Terra continuou imperturbável a girar em torno do astro-rei. Na sequência da publicação da “Origem das Espécies”, em 1859, Darwin foi acusado pela Igreja Anglicana de ateísmo militante. Porém, os trabalhos de Mendel e a posterior descoberta de Watson e Crick vieram comprovar a teoria darwiniana. Em vão, Lyssenko, à sombra de Estaline, desmentiu Mendel e outros “erros dos biólogos reacionários”. Mao Tze Tung condenou a teoria da relatividade, apelidando-a de “disparate burguês”. Todavia, três anos após a sua morte, a República Popular da China lançava um selo homenageando Einstein e a sua teoria, admissão implícita de mais um colossal disparate do Grande Timoneiro.
Em suma: a realidade é o que é, e não o que dá jeito. As gentes que se entregam à descoberta do mundo - os cientistas - são os que vão tendo alguma noção da realidade. Estes têm lançado repetidos avisos sobre as consequências das alterações climáticas. Mas, líderes religiosos e políticos, agentes económicos e fazedores de opinião, insistem, tal como os referidos antigos donos da verdade, em negar a realidade e em construir uma narrativa à revelia do conhecimento científico e conforme aos seus míopes objetivos.
Não indo mais longe, temos no nosso distrito o deputado que nega a emergência climática. Mais rebuscado, o actual primeiro ministro diz que o combate às alterações climáticas tem de ser compatibilizado com a economia. Estultícia difícil de compreender num político com tais responsabilidades. Só os muito ingénuos e os moderadamente hipócritas se esforçam por acreditar que as alterações climáticas não são responsáveis por colossais perdas económicas. Os benefícios económicos a curto prazo são os únicos que resultam das agressões ambientais. Já a longo prazo, estas irão exigir um preço impagável.
A opinião publica que vota, isto é, os menos jovens, estão teimosamente agarrados à sua inércia egoísta e suicida. Fazem votos para que a catástrofe já não os apanhe. Nem sequer estão preocupados com o julgamento da História, porque é bem possível que não sobeje mundo onde se possa escrever a História. Estamos perante a mais hedionda traição entre gerações alguma vez engendrada. Mas estejam descansadas as gerações traidoras: as crianças continuaram a fazer arruadas perfeitamente inofensivas e inúteis, os jovens que irrompem em acções ilegais serão devidamente punidos e a irresponsabilidade destruidora seguirá imperturbada.
É um banco, talvez, feliz! - maria augusta torcato » 2024-11-14 » Maria Augusta Torcato É um banco, talvez, feliz! Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz! E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar. |
Mérito e inveja - jorge carreira maia » 2024-11-14 » Jorge Carreira Maia O milagre – a eventual vitória de Kamala Harris nas eleições norte-americanas – esteve longe, muito longe, de acontecer. Os americanos escolheram em consciência e disseram claramente o que queriam. Não votaram enganados ou iludidos; escolheram o pior porque queriam o pior. |
O vómito » 2024-10-26 » Hélder Dias |
30 anos: o JT e a política - joão carlos lopes » 2024-09-30 » João Carlos Lopes Dir-se-ia que três décadas passaram num ápice. No entanto, foram cerca de 11 mil dias iguais a outros 11 mil dias dos que passaram e dos que hão-de vir. Temos, felizmente, uma concepção e uma percepção emocional da história, como se o corpo vivo da sociedade tivesse os mesmos humores da biologia humana. |
Não tenho nada para dizer - carlos tomé » 2024-09-23 » Carlos Tomé Quando se pergunta a alguém, que nunca teve os holofotes apontados para si, se quer ser entrevistado para um jornal local ou regional, ele diz logo “Entrevistado? Mas não tenho nada para dizer!”. Essa é a resposta que surge mais vezes de gente que nunca teve possibilidade de dar a sua opinião ou de contar um episódio da sua vida, só porque acha que isso não é importante, Toda a gente está inundada pelos canhenhos oficiais do que é importante para a nossa vida e depois dessa verdadeira lavagem ao cérebro é mais que óbvio que o que dizem que é importante está lá por cima a cagar sentenças por tudo e por nada. |
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» 2024-11-14
» Maria Augusta Torcato
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» 2024-11-14
» Jorge Carreira Maia
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