Elena Ferrante
Opinião » 2016-10-07 » Jorge Carreira Maia"Recomendo vivamente a leitura destas quatro obras. Não apenas pelo escrita brilhante da autora, mas porque elas permitem-nos reflectir sobre nós próprios, sobre a nossa sociedade."
Hoje deixo o comentário político de lado. Falo de Elena Ferrante. Não por causa da polémica em torno da revelação da sua identidade. Até aqui não se sabia quem era a pessoa que escrevia os livros assinados com aquele nome. Surgiu agora uma teoria, que se pretende fundamentada, sobre a identidade autoral. O importante, porém, são os seus livros e não esta historieta. Refiro-me à tetralogia napolitana (1. A Amiga Genial; 2. História do Novo Nome; 3. História de Quem Vai e de Quem fica; 4. A História da Menina Perdida). Estes quatro volumes trazem-nos desde o fim da segunda guerra mundial até aos tempos recentes, a partir da história de duas amigas que cresceram num bairro pobre e periférico de Nápoles.
Pessoas da minha geração – que nasceram já bem depois do fim da segunda guerra mundial – encontram ainda muitos pontos de contacto entre as histórias de vida narradas e as situações descritas nos livros e a realidade portuguesa. Falando de italianos, a autora fala da Europa do sul. É verdade que não temos fenómenos como a Camorra, nem o terrorismo em Portugal, com as FP 25 de Abril, alcançou os contornos do terrorismo italiano, como o praticado pelas Brigadas Vermelhas ou por organizações fascistas. A vida social, porém, tem muitos pontos em comum com a nossa. A pobreza dos bairros periféricos, mas também os amores e desamores daquelas gerações, a ascensão social e a queda, até o domínio que as elites – mesmo as de esquerda – impõem sobre os que vêm debaixo. Tudo isto, bem como certos ambientes descritos, poderia passar-se em Portugal.
Recomendo vivamente a leitura destas quatro obras. Não apenas pelo escrita brilhante da autora, mas porque elas permitem-nos reflectir sobre nós próprios, sobre a nossa sociedade. Com uma vantagem. Como os romances estão situados noutro lugar, sentimos menos a necessidade de tomar uma posição imediata sobre o que eles nos dizem. A sua leitura, para além do grande prazer que proporciona (o leitor sente-se obrigado a não parar) faz-nos pensar, cria um distanciamento que nos permite meditar sobre o que lemos e, depois, descobrir que, em muitos aspectos, também somos assim. Para o bem e para o mal. Eu sei que todos temos mais que fazer, mas ler a grande literatura (e não o lixo que se publica todos os dias) não é apenas uma questão de cultura. É uma questão, volto a referir, de prazer. E não há felicidade sem os grandes e os pequenos prazeres. Elena Ferrante tem o poder, através do romance, de gerar um prazer enorme nos seus leitores.
Elena Ferrante
Opinião » 2016-10-07 » Jorge Carreira MaiaRecomendo vivamente a leitura destas quatro obras. Não apenas pelo escrita brilhante da autora, mas porque elas permitem-nos reflectir sobre nós próprios, sobre a nossa sociedade.
Hoje deixo o comentário político de lado. Falo de Elena Ferrante. Não por causa da polémica em torno da revelação da sua identidade. Até aqui não se sabia quem era a pessoa que escrevia os livros assinados com aquele nome. Surgiu agora uma teoria, que se pretende fundamentada, sobre a identidade autoral. O importante, porém, são os seus livros e não esta historieta. Refiro-me à tetralogia napolitana (1. A Amiga Genial; 2. História do Novo Nome; 3. História de Quem Vai e de Quem fica; 4. A História da Menina Perdida). Estes quatro volumes trazem-nos desde o fim da segunda guerra mundial até aos tempos recentes, a partir da história de duas amigas que cresceram num bairro pobre e periférico de Nápoles.
Pessoas da minha geração – que nasceram já bem depois do fim da segunda guerra mundial – encontram ainda muitos pontos de contacto entre as histórias de vida narradas e as situações descritas nos livros e a realidade portuguesa. Falando de italianos, a autora fala da Europa do sul. É verdade que não temos fenómenos como a Camorra, nem o terrorismo em Portugal, com as FP 25 de Abril, alcançou os contornos do terrorismo italiano, como o praticado pelas Brigadas Vermelhas ou por organizações fascistas. A vida social, porém, tem muitos pontos em comum com a nossa. A pobreza dos bairros periféricos, mas também os amores e desamores daquelas gerações, a ascensão social e a queda, até o domínio que as elites – mesmo as de esquerda – impõem sobre os que vêm debaixo. Tudo isto, bem como certos ambientes descritos, poderia passar-se em Portugal.
Recomendo vivamente a leitura destas quatro obras. Não apenas pelo escrita brilhante da autora, mas porque elas permitem-nos reflectir sobre nós próprios, sobre a nossa sociedade. Com uma vantagem. Como os romances estão situados noutro lugar, sentimos menos a necessidade de tomar uma posição imediata sobre o que eles nos dizem. A sua leitura, para além do grande prazer que proporciona (o leitor sente-se obrigado a não parar) faz-nos pensar, cria um distanciamento que nos permite meditar sobre o que lemos e, depois, descobrir que, em muitos aspectos, também somos assim. Para o bem e para o mal. Eu sei que todos temos mais que fazer, mas ler a grande literatura (e não o lixo que se publica todos os dias) não é apenas uma questão de cultura. É uma questão, volto a referir, de prazer. E não há felicidade sem os grandes e os pequenos prazeres. Elena Ferrante tem o poder, através do romance, de gerar um prazer enorme nos seus leitores.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
» 2024-03-18
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» 2024-03-08
» Jorge Carreira Maia
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» 2024-03-08
» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |