A virtude da austeridade
Opinião » 2016-02-03 » Jorge Carreira Maia"O problema da austeridade não está nela mesma, mas no facto da austeridade de muitos servir a exuberância e o excesso de alguns. "
Um véu negro, entretecido por uma má fama, caiu sobre a palavra austeridade. No entanto, o actual destino da palavra é injusto. Pelo menos, parcialmente. Na verdade, o vocábulo latino austēru (austero) significa rude, áspero. Num mundo, onde tudo se quer fácil e confortável, rudeza e aspereza não são qualidades suportáveis. Este é o lado mais negro. Austeritāte (austeridade), todavia, significava para os antigos romanos seriedade. A sua ligação à ideia de seriedade mostra já um lado luminoso na austeridade.
Num mundo de grande desperdício, quando a natureza – a qual foi vista após a Revolução Industrial como um stock de matérias primas para consumo humano – dá mostras de exaustão e de impotência para alimentar todos os devaneios que a capacidade técnica dos homens e a voracidades dos interesses próprios são capazes de criar, a ideia de austeridade toma um lugar central na luta pelo equilíbrio do planeta.
A contenção do desejo, o rigor na limitação do desperdício, a disciplina na relação com a natureza, tudo isso só pode ser visto como virtuoso. E sendo virtuoso, como uma norma moral que deveria regular – com seriedade e severidade – o comportamento de todos os seres humanos. Em primeiro lugar, o daqueles que vivem nas sociedades mais ricas do planeta.
O que promove a má fama da austeridade é a sua contaminação política e a suspeita de que a sua distribuição não é igual para todos. Nas actuais políticas de austeridade, os que são atingidos por elas percebem que os recursos que lhes são retirados não visam uma austeridade virtuosa. Visam antes a transferência para aqueles que são mais poderosos.
O problema da austeridade não está nela mesma, mas no facto da austeridade de muitos servir a exuberância e o excesso de alguns. Em sociedades como a nossa, marcadas pelo cálculo racional e egoísta e alicerçadas na inveja, a virtude da austeridade só seria aceitável se os mais poderosos se entregassem eles próprios, de forma séria e severa, à austeridade. Como se sabe, apesar de eles a recomendarem aos outros, não a vêem como um dever para eles. Pelo contrário.
A virtude da austeridade
Opinião » 2016-02-03 » Jorge Carreira MaiaO problema da austeridade não está nela mesma, mas no facto da austeridade de muitos servir a exuberância e o excesso de alguns.
Um véu negro, entretecido por uma má fama, caiu sobre a palavra austeridade. No entanto, o actual destino da palavra é injusto. Pelo menos, parcialmente. Na verdade, o vocábulo latino austēru (austero) significa rude, áspero. Num mundo, onde tudo se quer fácil e confortável, rudeza e aspereza não são qualidades suportáveis. Este é o lado mais negro. Austeritāte (austeridade), todavia, significava para os antigos romanos seriedade. A sua ligação à ideia de seriedade mostra já um lado luminoso na austeridade.
Num mundo de grande desperdício, quando a natureza – a qual foi vista após a Revolução Industrial como um stock de matérias primas para consumo humano – dá mostras de exaustão e de impotência para alimentar todos os devaneios que a capacidade técnica dos homens e a voracidades dos interesses próprios são capazes de criar, a ideia de austeridade toma um lugar central na luta pelo equilíbrio do planeta.
A contenção do desejo, o rigor na limitação do desperdício, a disciplina na relação com a natureza, tudo isso só pode ser visto como virtuoso. E sendo virtuoso, como uma norma moral que deveria regular – com seriedade e severidade – o comportamento de todos os seres humanos. Em primeiro lugar, o daqueles que vivem nas sociedades mais ricas do planeta.
O que promove a má fama da austeridade é a sua contaminação política e a suspeita de que a sua distribuição não é igual para todos. Nas actuais políticas de austeridade, os que são atingidos por elas percebem que os recursos que lhes são retirados não visam uma austeridade virtuosa. Visam antes a transferência para aqueles que são mais poderosos.
O problema da austeridade não está nela mesma, mas no facto da austeridade de muitos servir a exuberância e o excesso de alguns. Em sociedades como a nossa, marcadas pelo cálculo racional e egoísta e alicerçadas na inveja, a virtude da austeridade só seria aceitável se os mais poderosos se entregassem eles próprios, de forma séria e severa, à austeridade. Como se sabe, apesar de eles a recomendarem aos outros, não a vêem como um dever para eles. Pelo contrário.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
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