Lições da História - acácio gouveia
Opinião » 2024-06-13 » Acácio Gouveia
“A História não se repete, mas rima por vezes”, Mark Twain
Vinte e sete meses após o início da guerra na Ucrânia, temos generais e comentadores nos meios de comunicação social portugueses: (I) a justificar a legitimidade da invasão; (II) a profetizar a total e inelutável vitória de Putin; (III) e tentar convencer-nos que este assunto tem pouco ou nada a ver com Portugal e com os demais países europeus. Contudo, estamos perante (I) uma mistificação canhestra; (II) um cenário inviável, já que a eventual ocupação russa do território ucraniano não significaria a pacificação (nunca conseguida ao fim de séculos de opressão moscovita); (III) é inegável que a ameaça russa não se cinge apenas à Ucrânia e é mesmo explicitamente dirigida à Europa.
Imperialismo
“A Polónia foi apenas o pequeno-almoço [da Rússia]; onde irão eles jantar?”, Edmond Burke, estadista irlandês comentando a partilha da Polónia e Lituânia em 1812
Libertemos, por momentos, a nossa atenção do monopólio do futebol e debrucemo-nos sobre a história da Rússia. Constataremos que o imperialismo russo é transversal aos séculos e regimes políticos. A queda de Kiev em 1240, na sequência da invasão mongol, permitiu que o ducado da Moscóvia, sob a tutela dos mongóis da Horda de Ouro, adquirisse proeminência entre os vários domínios semi-independentes do noroeste da Rússia. Por sua vez, o colapso da Horda no século XIV, deu azo a que os duques de Moscovo iniciassem um processo de expansão e reivindicassem a herança do pretérito grande reino eslavo de Kiev. Com altos e baixos, a Rússia foi-se estendendo até atingir dimensões gigantescas. Desde o ártico até à Ásia Central, do Alasca (entretanto vendido aos EUA no século XIX) até à Finlândia, Polónia e Ucrânia, o expansionismo russo só foi barrado pelas potências europeias e pela China. Posteriormente, na sequência da Segunda Grande Guerra, o império estendeu-se pela Europa Central, para lá de Berlim, e pelos Balcãs orientais. Só escapou à “reconquista” a Finlândia (lamentavelmente, no parecer de Medvedev).
Os actuais detentores do poder no Kremlin não fazem segredo das suas intenções de dilatar o império, seja por que meios for, Europa adentro. Se é verdade que as fronteiras da NATO lhe tolhem as ambições, com a ascensão de Trump os EUA deixarão de ser aliados da União Europeia para se tornarem uma ameaça para a democracias e independências europeias. Um descalabro na Ucrânia abriria as portas a Putin para uma intromissão (ou mesmo invasão) na Europa, com repercussões em todos os quadrantes da nossa vida. Um risco de retrocesso para algo como nova idade das trevas caraterizada pelo fascismo, capitalismo ultra selvagem e perda de identidade europeia.
Paz
“(...) tempo de guerra e tempo de paz”
Eclesiastes 3.8.
Em 1938, Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico, pavoneava um acordo de paz assinado por Hitler. Chamberlain, ostensivamente um indefetível e incansável defensor da diplomacia e da paz, tinha, contudo, um lado menos conhecido, obscuro, belicista, militarista. Ao mesmo tempo que conseguia o tal acordo em Munique ordenava, sub-repticiamente, o investimento na força aérea. Um ano depois, deu-se a invasão da Polónia, que marcou o início da 2ª Guerra Mundial e o fim das ilusões sobre o tal acordo. Dois anos depois, a Royal Air Force era o último reduto da resistência ao nazismo e, robustecida pela mão de Chamberlain, foi capaz de travar a barbárie hitleriana.
Lições da História - acácio gouveia
Opinião » 2024-06-13 » Acácio Gouveia“A História não se repete, mas rima por vezes”, Mark Twain
Vinte e sete meses após o início da guerra na Ucrânia, temos generais e comentadores nos meios de comunicação social portugueses: (I) a justificar a legitimidade da invasão; (II) a profetizar a total e inelutável vitória de Putin; (III) e tentar convencer-nos que este assunto tem pouco ou nada a ver com Portugal e com os demais países europeus. Contudo, estamos perante (I) uma mistificação canhestra; (II) um cenário inviável, já que a eventual ocupação russa do território ucraniano não significaria a pacificação (nunca conseguida ao fim de séculos de opressão moscovita); (III) é inegável que a ameaça russa não se cinge apenas à Ucrânia e é mesmo explicitamente dirigida à Europa.
Imperialismo
“A Polónia foi apenas o pequeno-almoço [da Rússia]; onde irão eles jantar?”, Edmond Burke, estadista irlandês comentando a partilha da Polónia e Lituânia em 1812
Libertemos, por momentos, a nossa atenção do monopólio do futebol e debrucemo-nos sobre a história da Rússia. Constataremos que o imperialismo russo é transversal aos séculos e regimes políticos. A queda de Kiev em 1240, na sequência da invasão mongol, permitiu que o ducado da Moscóvia, sob a tutela dos mongóis da Horda de Ouro, adquirisse proeminência entre os vários domínios semi-independentes do noroeste da Rússia. Por sua vez, o colapso da Horda no século XIV, deu azo a que os duques de Moscovo iniciassem um processo de expansão e reivindicassem a herança do pretérito grande reino eslavo de Kiev. Com altos e baixos, a Rússia foi-se estendendo até atingir dimensões gigantescas. Desde o ártico até à Ásia Central, do Alasca (entretanto vendido aos EUA no século XIX) até à Finlândia, Polónia e Ucrânia, o expansionismo russo só foi barrado pelas potências europeias e pela China. Posteriormente, na sequência da Segunda Grande Guerra, o império estendeu-se pela Europa Central, para lá de Berlim, e pelos Balcãs orientais. Só escapou à “reconquista” a Finlândia (lamentavelmente, no parecer de Medvedev).
Os actuais detentores do poder no Kremlin não fazem segredo das suas intenções de dilatar o império, seja por que meios for, Europa adentro. Se é verdade que as fronteiras da NATO lhe tolhem as ambições, com a ascensão de Trump os EUA deixarão de ser aliados da União Europeia para se tornarem uma ameaça para a democracias e independências europeias. Um descalabro na Ucrânia abriria as portas a Putin para uma intromissão (ou mesmo invasão) na Europa, com repercussões em todos os quadrantes da nossa vida. Um risco de retrocesso para algo como nova idade das trevas caraterizada pelo fascismo, capitalismo ultra selvagem e perda de identidade europeia.
Paz
“(...) tempo de guerra e tempo de paz”
Eclesiastes 3.8.
Em 1938, Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico, pavoneava um acordo de paz assinado por Hitler. Chamberlain, ostensivamente um indefetível e incansável defensor da diplomacia e da paz, tinha, contudo, um lado menos conhecido, obscuro, belicista, militarista. Ao mesmo tempo que conseguia o tal acordo em Munique ordenava, sub-repticiamente, o investimento na força aérea. Um ano depois, deu-se a invasão da Polónia, que marcou o início da 2ª Guerra Mundial e o fim das ilusões sobre o tal acordo. Dois anos depois, a Royal Air Force era o último reduto da resistência ao nazismo e, robustecida pela mão de Chamberlain, foi capaz de travar a barbárie hitleriana.
30 anos: o JT e a política - joão carlos lopes » 2024-09-30 » João Carlos Lopes Dir-se-ia que três décadas passaram num ápice. No entanto, foram cerca de 11 mil dias iguais a outros 11 mil dias dos que passaram e dos que hão-de vir. Temos, felizmente, uma concepção e uma percepção emocional da história, como se o corpo vivo da sociedade tivesse os mesmos humores da biologia humana. |
Não tenho nada para dizer - carlos tomé » 2024-09-23 » Carlos Tomé Quando se pergunta a alguém, que nunca teve os holofotes apontados para si, se quer ser entrevistado para um jornal local ou regional, ele diz logo “Entrevistado? Mas não tenho nada para dizer!”. Essa é a resposta que surge mais vezes de gente que nunca teve possibilidade de dar a sua opinião ou de contar um episódio da sua vida, só porque acha que isso não é importante, Toda a gente está inundada pelos canhenhos oficiais do que é importante para a nossa vida e depois dessa verdadeira lavagem ao cérebro é mais que óbvio que o que dizem que é importante está lá por cima a cagar sentenças por tudo e por nada. |
Três décadas a dar notícias - antónio gomes » 2024-09-23 » António Gomes Para lembrar o 30.º aniversário do renascimento do “Jornal Torrejano”, terei de começar, obrigatoriamente, lembrando aqui e homenageando com a devida humildade, o Joaquim da Silva Lopes, infelizmente já falecido. |
Numa floresta de lobos o Jornal Torrejano tem sido o seu Capuchinho Vermelho - antónio mário santos » 2024-09-23 » António Mário Santos Uma existência de trinta anos é um certificado de responsabilidade. Um jornal adulto. Com tarimba, memória, provas dadas. Nasceu como uma urgência local duma informação séria, transparente, num concelho em que a informação era controlada pelo conservadorismo católico e o centrismo municipal subsidiado da Rádio Local. |
Trente Glorieuses - carlos paiva » 2024-09-23 » Carlos Paiva Os gloriosos trinta, a expressão original onde me fui inspirar, tem pouco que ver com longevidade e muito com mudança, desenvolvimento, crescimento, progresso. Refere-se às três décadas pós segunda guerra mundial, em que a Europa galopou para se reconstruir, em mais dimensões que meramente a literal. |
30 anos contra o silêncio - josé mota pereira » 2024-09-23 » José Mota Pereira Nos cerca de 900 anos de história, se dermos como assente que se esta se terá iniciado com as aventuras de D. Afonso Henriques nesta aba da Serra de Aire, os 30 anos de vida do “Jornal Torrejano”, são um tempo muito breve. |
A dimensão intelectual da extrema-direita - jorge carreira maia » 2024-09-23 » Jorge Carreira Maia Quando se avalia o crescimento da extrema-direita, raramente se dá atenção à dimensão cultural. Esta é rasurada de imediato pois considera-se que quem apoia o populismo radical é, por natureza, inculto, crente em teorias da conspiração e se, por um acaso improvável, consegue distinguir o verdadeiro do falso, é para escolher o falso e escarnecer o verdadeiro. |
Falta poesia nos corações (ditos) humanos » 2024-09-19 » Maria Augusta Torcato No passado mês de agosto revisitei a peça de teatro de Bertolt Brecht “Mãe coragem”. O espaço em que a mesma foi representada é extraordinário, as ruínas do Convento do Carmo. A peça anterior a que tinha assistido naquele espaço, “As troianas”, também me havia suscitado a reflexão sobre o modo como as situações humanas se vão repetindo ao longo dos tempos. |
Ministro ou líder do CDS? » 2024-09-17 » Hélder Dias |
Olivença... » 2024-09-17 » Hélder Dias |